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Retrospectiva - 7 a 29 de Agosto de 2010


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Avó Dette

 

Agradeço a presença de todos os que compareceram na despedida da minha avó, Claudette Albino. Agradeço sobretudo a amizade.

Nos últimos meses a saúde da minha avó esteve bastante debilitada; no entanto, a minha avó sempre foi uma mulher de força. Por isso, a mensagem que quero transmitir é uma mensagem de alegria e vida. Não quero que recordem a morte da minha avó, quero que recordem a sua vida.

A minha avó, para além de uma excelente profissional, cidadã e amiga, era uma mulher extraordinária.

Foi a minha avó que me ensinou a ler antes de entrar na primeira classe. Ensinou-me também a tabuada, enquanto jogávamos a bola. Podia contar centenas de episódios da vida da minha avó; no entanto, demoraria uma eternidade. Elegi dois, que penso que transmitem bem a mulher que eu quero que lembrem.

Certo dia, estava com a minha avó no sótão de sua casa. A minha avó estava de gatas a ensinar-me a saltar ao eixo, quando entra o meu avô e diz «Claudette, olha que tu pela tua neta só não fazes o pino!». A minha avó logo respondeu «Não faço, mas fazia. E se calhar ainda faço». Nisto, fecha a porta do sótão, encosta-se à parede e faz o pino. A partir desse dia, a frase do meu avô alterou-se, deixou de ser “… só não fazes o pino” e passou a ser: «Claudette, pela tua neta, até fazes o pino!»

Uns anos mais tarde, no quintal dos meus avós, caiu de um ninho um passarinho que ainda não sabia voar. A minha avó acolheu-o, levámo-lo para dentro de casa e pusemo-lo numa caixa com uma manta e um prato com pão aguado. Ao final da tarde fomos vê-lo e ele não tinha comido nada. A minha avó pegou-lhe, pôs o pão aguado na boca dela e alimentou o passarinho, que debicou a comida dos seus lábios.

Esta é a Avó Dette, a minha avó. Esta é a Claudette Albino. A mulher que me mimou e acarinhou sempre, a mulher que me ensinou com amor e seriedade a importância de ser uma boa cidadã, levando-me com ela a eventos dos Lions, a mulher que até hoje e em toda a minha vida me fará crescer.

Considero-me a sua neta mais sortuda, por ter tido a alegria de viver com ela durante mais tempo e em anos em que a saúde era outra.

A minha avó era a Avó, no verdadeiro sentido da palavra. A Avó que educa, e que “deseduca”, no sentido de brincadeira da palavra. A avó que em idas ao cabeleireiro, quando eu era mais pequena, me deixava escolher os cortes de cabelo e fazer as madeixas que a minha mãe não deixava, porque eram de facto horríveis, mas na altura eu adorava e ficava felicíssima só por poder decidir.

A minha avó é o meu ídolo; e agora espero que ela possa realizar o seu último desejo: reunir-se à sua avó, uma mulher de quem também muito me falou, julgo que pelos mesmos motivos que para sempre me farão falar dela.

A minha avó é sem dúvida uma das mulheres mais extraordinárias que, todos os que com ela conviveram de alguma forma, tiveram a oportunidade de conhecer.

Obrigada.

Ana Cláudia Cardielos

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