Fotografia
"A fotografia
é um instrumento que permite tratar daquilo que toda a gente
conhece, mas de quem ninguém se ocupa. As minhas fotografias
visam representar aquilo que habitualmente não se vê."
Emmet Gowin "master"
em fotografia americano (n. 1941)
Se vamos a um
dicionário (ou enciclopédia) procurar o que é fotografia,
encontramos definições como esta: arte ou processo de obter
imagens em superfícies sensíveis (rápidas a obter impressões)
pela acção da luz ou de outra energia radiante. Palavra que
deriva do grego e que significa desenho com luz.”
Quem faz
fotografia pretende pois ficar com um desenho impresso, com uma
imagem daquilo que vê em determinado momento e que sabe não ter
possivelmente ocasião de rever nos tempos seguintes, quer porque
não pode ou não pensa voltar aos objectos que pretende "fixar",
quer porque esses mesmo objectos (ou pessoas, ou outros seres
vivos) vão sofrer evoluções que não permitem voltar ao estado ou
à forma do momento que lhe terá despertado a atenção ou a
curiosidade.
Quer como
profissão quer como "hobby", a fotografia tem fascinado muita
gente dos últimos séculos. E isto porque terá tido o seu começo
nos primórdios do século XIX, sendo o processo primitivo mais
conhecido o "daguerreotipo", porque introduzido em 1839 pelo
pintor francês Louis Jacques Maudé Daguerre.
A fotografia,
tal como foi durante muito tempo, com método seguindo o sistema
de filme em rolo (para já não se entrar pelos métodos
tecnológicos aparecidos recentemente), foi desenvolvida em
1883/84 por George Eastman.
As máquinas
fotográficas tiveram grande desenvolvimento ao longo destes
quase duzentos anos. As pessoas de meia idade ainda se
lembrarão, certamente, dos fotógrafos que percorriam as terras
do país, normalmente por alturas das feiras. Era então que as
criancinhas (e não só!...) eram convidadas (às vezes obrigadas)
a "tirar o retrato".
Estes
fotógrafos ambulantes faziam tudo e "em su sítio", desde o
disparar da máquina (olhó passarinho!...) com enquadramento por
ele imaginado (no visor as pessoas apareciam de pernas para o
ar) ou solicitados pelos progenitores (quando de criancinhas se
tratava), ou pelos próprios (muitos pares amorosos ou em vias
disso), até ao entregar da reprodução em papel emulsionado
depois de ter estado uma boa hora a secar, pendurada por molas
de roupa, nas paredes laterais do "caixote fantástico".
Hoje as
câmaras fotográficas são completamente diferentes e permitem ao
utilizador disparar a torto e a direito, entregando o trabalho
posterior de processamento a técnicos e/ou casas especializadas,
ou ainda mais recentemente, poder o próprio dar-lhes seguimento
no seu PC. O preço das máquinas também foi diminuindo
razoavelmente (embora existam ainda modelos sofisticados, não ao
alcance de todas as bolsas), havendo inclusivamente já câmaras
fotográficas de "utilizar e deitar fora" após completar as 12,
24 ou 36 "chapas" que cada rolo pode comportar.
Mas o simples
olhar através do vigor e o carregar no botão do disparador com
uma ligeiríssima pressão do indicador não faz de qualquer
utilizador de uma máquina um fotógrafo. E entra aqui a diferença
entre o "processo" ou "arte" de obter as imagens, da definição
de fotografia. Há quem apenas processe fotografias, se limite a
querer passar as imagens para o tal papel apropriado que lhe
permite rever "à posteriori" o que viu (ou será melhor dizer,
olhou?!) em determinado momento; e há depois alguns outros que
conseguem fazer da fotografia uma arte.
A diferença
entre o ver e o olhar, justifica-se igualmente, porque há muito
quem olhe (basta ter o aparelho visual em adequadas condições)
mas nem toda a gente vê. Acontece com frequência em viagens
programadas e em grupo, em que toda a gente transporta a sua
câmara fotográfica, todos disparam na real gana, mas enquanto
uns se limitam a fotografar as vistas (que até podem obter em
bilhetes postais à venda em qualquer quiosque do sítio e por
vezes mais baratos que as próprias fotografias), outros
conseguem obter detalhes ou situações particulares, que permitem
que os tais "desenhos impressos em superfícies sensíveis" se
aproximem da arte. E quando se confrontam as fotos tiradas pelos
diferentes participantes, não é raro ouvir-se "mas onde é que
isso foi tirado que eu não vi?". Pois é! Passaram todos pelos
mesmos locais, mas alguns só olharam e não viram...
Dos outros,
os que olharam e "viram" se poderá dizer, como Emmet Gowin, que
as suas "fotografias visam representar aquilo que habitualmente
não se vê”. Pessoalmente também faço os possíveis por "ver",
para além de olhar...
António
Carretas |