O Caçador de Imagens
António
Carretas é cada vez mais um nome a fixar no exigente universo
fotográfico. Nasceu em Elvas, mas tem Aveiro no coração, onde
reside.
A sua obra é
uma viagem de vida, um trabalho sem fronteiras ou cidadania,
feito de percurso imenso à volta do mundo, de contactos com
povos e culturas diferentes, humanista.
Essa é uma
forma de observar o mundo, de comparar formas de vida, de saber
estar no local e hora certa para registar e parar o tempo
através da sua objectiva.
Fez deste «Hobby»
uma paixão e uma causa, mesmo um desígnio pessoal, mostrando o
quanto isso é importante no compromisso social e na formação do
ser humano.
Reconheço o
enorme esforço estético do António Carretas, nessa actividade
mental permanente na construção das suas imagens mais díspares:
paisagens de terra e mar, casas, rostos, texturas e composições.
Todas essas fotográficas ou estruturas são envolvidas de uma
atmosfera muito afectiva.
Eu só falo do
que observei e senti nessa exposição, numa primeira, e simples
análises de espectador.
Não sou um
erudito em fotografia, nem tão pouco tenho a pretensão de fazer
algumas apreciações críticas aos trabalhos deste amigo, nos
domínios técnicos. Esse acto livre e misterioso de difícil
descodificação deixo para outros "experts" na matéria. Só
constato que a actividade de um fotógrafo a esse elevado nível,
pressupõe uma enorme solidão, grande, estudo e reflexão, que me
serve como busca do seu próprio sentido de vida.
São muitos os
desafios e múltiplas as expectativas que o artista coloca a si
mesmo, preocupações constantes no domínio técnico.
O mais
importante elemento na fotografia é a capacidade intelectual ou
a consciência de saber encontrar as condições ideais de fazer
passar pela objectiva o desasado momento de luz.
Todos sabemos
que um objecto ou paisagem sofre, durante um dia de variadas e
infindáveis tonalidades de cor.
A máquina tem
que estar por perto, para registar esse momento. É aí que o
fotógrafo tem de estar.
Vão longe os
tempos, o século dezanove é disso testemunho, dos primários
caixotes fotográficos, das fotos de costumes e de família em que
o slogan dos laboratórios era: «Você prime o botão, nós fazemos
o resto.» Desde estes dias longínquos que assistimos a uma
enorme evolução de tecnologia em todos os domínios da
fotografia, desde o preto e branco até à cor dos nossos dias.
As imagens ou
registos a preto e branco não foram superadas pelas fotos
coloridas; estas simplesmente apresentam outras características,
entre elas uma maior fidelidade.
Nos vários
elementos formais de uma fotografia é a cor a responsável pelo
impacto mais mediático. Compete ao fotógrafo em consciência
envolver a imagem dum clima de cor ou temperatura corresponde a
um estado de espírito diferente.
Com o António
Carretas, a sua inquietação e pesquisa leva-o a subverter tons e
matizes e a transmitir novas emoçoes.
Não o
preocupa a exacta reprodução de uma imagem. Como os pintores
impressionistas foram capazes de perceber, as cores passam por
mutações constantes, de acordo com a luz e com a sua
proximidade.
São quarenta
anos fotografar, a namorar a luz a musa inspiradora de todas
objectivas.
Ao António
Carreta, os nossos parabéns por esta magnifica exposição que vem
comemorar a esta sua galeria, intitulada "Ver ... para além de
olhar". Aveiro-Arte agradece esta sua iniciativa, desejando que
esta mostra seja uma forma de estabelecer diálogos entre os
espectadores. Ao caçador de imagens aqui presente, António
Carretas, o nosso muito obrigado.
A direcção
Hélder
Bandarra |