“Silêncio:
Contemplar a neve
Até confundir-se com ela”
J. T. Mendonça,
in “A papoila e o monge”, pág.26
É no silêncio, que me confundo com o universo destas obras.
Contemplo com humildade, cada desenho, cada linha, cada mancha, cada
palavra, cada imagem, cada som que me rodeiam e envolvem nesta sala.
Cuido desta Exposição para que ela tenha o propósito de vos
envolver.
Para que a possam contemplar no silêncio da vossa inquietude.
Porque foi concebida desta maneira e não doutra? Porque foi este, o
local escolhido e não outro? Porque é que a construção desta
Exposição foi desenhada desta maneira e não doutra? Haverá sempre um
“porquê” e um “se”.
A Exposição que temos aqui presente neste belo Museu, que foi
convento no séc. XV, pretende retratar, de algum modo (este), a
história do AveiroArte, contada no silêncio de cada obra. Pretende
desenhar um percurso que, hoje, é (d)OURad(O) e que, um punhado de
gente boa se lembrou de começar.
Que alegria sinto por saber que teve continuidade, para que hoje,
pudéssemos vestir o melhor fato para vir à festa homenagear tão
ilustres autores. Refiro-me aos fundadores do AveiroArte e aos seus
seguidores.
Aos fundadores, o meu bem-hajam pela ousadia. Aos seguidores, o meu
agradecimento por me incluírem naquilo a que chamaram “Círculo”,
objeto de desenho, de Arte, de Vida.
Agradeço, pois, ao AveiroArte terem-me convidado para ser a Curadora
desta Exposição.
Não posso também deixar no vazio, a cumplicidade da Câmara de
Aveiro, na construção deste evento.
Talvez se consiga ouvir o silêncio da criação através da voz dos
vivos, aqui presentes, e tornar-se-á num imenso prazer saber da
génese desta Associação.
Espero que aceitem este meu desafio.
Para esta exposição ficar mais completa, projectei a existência de
um objecto-imagem: a máquina que mostra a acção, a reflexão, a
compreensão, a memória estética da construção de uma época, dos seus
intervenientes e dos seus propósitos artísticos.
Este objecto-imagem existe pois, para que a voz, as palavras, o som,
a música, as figuras, – tão bem editadas pelo Hugo – pudessem ecoar
no espaço-tempo que nos envolve e, dizer-nos da vida que se faz…
assim: mostrando, partilhando a Arte, para que sejamos mais felizes.
Agradeço, com imenso afecto, à equipa do Museu de Santa Joana que me
acompanhou nesta construção. Este Museu acolhe esta Mostra e, está
atenta à sua divulgação, ajudando-me na tarefa de curar, de cuidar,
de fazer a ponte entre os Artistas, o Museu, o AveiroArte, a Câmara
e o Público que, esperamos nos venha contemplar com tempo, no
silêncio dos dias de verão que ainda restam.
Obrigada.
Maria Afonso |