Henrique J. C. de Oliveira, Por terras de Arouca. Quatro antigas oficinas oleícolas, In: Separata da revista "Estudos Aveirenses", n.º 2, ISCIA, Aveiro, 1994.

 

8 - GLOSSÁRIO

De acordo com o que dissemos na introdução deste trabalho, apresentamos nesta parte um glossário de todos os vocábulos registados no concelho de Arouca e destacados mediante transcrição em letra negrita. No entanto, e a confirmar o ditado popular de que as palavras são como as cerejas..., a explicação de alguns vocábulos obrigou-nos a utilizar outros relacionados com esta vastíssima área, donde a necessidade da sua explicação, o que teve como resultado  obrigar-nos a apresentar cerca de 150 vocábulos, ou seja, um número bem superior àquele que inicialmente julgáramos suficiente.

Não pretendemos, contudo, uma análise exaustiva de cada vocábulo. Para isso, remetemos o leitor interessado para a obra O Fabrico do Azeite. Estudo Linguístico-Etnográfico[1]. Limitamo-nos aqui a uma informação complementar e de síntese de todos quantos nos foram surgindo. Deste modo, para  sua  melhor localização  e compreensão, referenciamo-los, sempre que oportuno, por meio da indicação do capítulo ou capítulos onde foram apresentados. Noutros casos, apresentamos também a indicação das gravuras que, melhor do que mil palavras, ajudarão a compreender e a visualizar o objecto referido. Sempre que possível, indicamos também o étimo de cada vocábulo, bem como os seus diferentes sentidos e variantes fonéticas registadas no concelho.

Desejando-se uma certa economia de espaço, recorremos a diferentes abreviaturas de uso corrente em glossários e dicionários. Para sua eventual identificação, veja-se a relação apresentada em nota[2].

Esperamos, deste modo, contribuir para uma melhor compreensão de tudo quanto foi abordado e para um maior conhecimento da língua, já que uma grande maioria dos vocábulos não se encontra ainda - infelizmente - nos dicionários. Em itálico vão indicados também outros vocábulos para a mesma designação e que se encontram registados neste glossário.

 

açoga, s. f. Variante fonética de soga.

aduela, (do fr. douelle), s. f. Cada uma das tábuas, geralmente encurvadas, que formam o corpo de: 1. uma pipa ou vasilha semelhante; 2. Certos potes dos lagares com a função de tarefas, tal como é ilustrado pelas figuras 10 e 11, em especial a última, no cap. II, pp. 23 e 25; 3. O vaso de certos moinhos de azeite, onde giram as galgas e onde é deitada a azeitona para ser reduzida a massa, documentado pela figura 5, n.º 2, cap. II, p. 17, em especial, e ainda pelas figs. 4, 6 e 7, também no mesmo cap., pp. 15, 18 e 19.

adufa, (do ár. ad-duffa), s. f.  O mesmo que porta, tampa ou trincho, i. é, prancha circular de madeira que se coloca sobre as seiras, cuja função é a de distribuir uniformemente por toda a superfície das seiras a pressão exercida pela vara. Vd. figs. 15 a 17, no cap. III, pp. 35, 37 e 38.

água, roda da - Vd. em roda da água.

água-churra, s. f. O mesmo que água-ruça.

água-ruça, s. f. 1. Líquido escuro e ácido que a azeitona liberta, quando conservada em tulhas, cestos, sacos, etc. 2.Líquido que se separa do azeite, quando em decantação nas tarefas e que sai misturada com a água das caldas, designada na zona de Arouca também por água-churra.

agulha, (do lat. acucula), s. f. Grossa haste de secção circular, de madeira ou de ferro, que, enfiada nas virgens ou agulheiras, segura a vara, servindo-lhe de eixo, e que, em certas regiões, é também conhecido por agulhão. Vd. fig. 11, n.º 7, cap. II, p. 25.

agulhão, s. m. O mesmo que agulha.

agulheira, (de agulha, do lat. acucula), s. f. Duas pedras verticais que suportam a vara do lagar e nas quais é enfiada a agulha. Conhecidas por vários nomes de acordo com a região, foram no concelho de Arouca designadas por virgens, vocábulo raramente empregue nesta acepção. Vd. figs. 11, p. 25, e 15, n.º 2, p. 35.

ajuda, (de ajudar, do lat. adjutare), s. m. O mesmo que ajudante.

ajudante, s. m. Empregado do lagar ao qual competem várias actividades, tais como: transportar a azeitona para o moinho, fazer a moenda, etc., também conhecido por outros nomes, como, p. ex., moço.

alçaprema, (de alçar + premer), s. f. As alçapremas são duas colunas verticais de madeira, colocadas paralelamente, uma de cada lado da vara, para impedir que esta decline para algum lado. São também conhecidas por balaústes, colunas e virgens. Vd. figs. 8, 10, 11, n.º 4, 12, n.º 5,, respectivamente pp. 20, 23, 25 e 27.

alguerbe, (de alguergue do ár. al-qirq), s. m. O mesmo que sertã. Para esta zona do lagar registámos cerca de 18 vocábulos. Vd. op. cit. anteriormente.

almanjarra, (do ár. al-majarrâ), s. f. 1. Registado já no séc. XVI por António Prestes, Autos, 17, com a acepção em que o encontrámos, designa o mesmo que manjarra, i. é, vara de madeira do moinho à qual se atrelam os animais. 2.Vara a que se atrela o animal que faz andar a atafona ou nora. Vd. figs. 5, n.º 8, 6, n.º 4, e 7, pp. 17, 18 e 19.

apiaça, s. f. Corda ou tira de couro com a qual se atrelam os animais à almanjarra.

arca, s. f. Vd. gamelão.

armação, linhas de - Vd. linha de armação.

azeite, (do ár. az-zait), s. m. Óleo que se extrai das azeitonas mediante processos mecânicos, tais como trituração, prensagem, decantação, lavagem, centrifugação e filtração.

azenha, (do ár. as-saniâ), s. f. Aplicado sobretudo em relação aos moinhos tocados a água, este vocábulo designa também os que são puxados por animais.

baga, (do lat. baca ou bacca), s. f. 1.Tipo de fruto; 2.Termo registado no dist. de Aveiro e em outros para designar os resíduos da azeitona depois de espremida. O mesmo que bagaço.

bagaço, (do lat. *bacaceu, de baca), s. m. Resíduos da azeitona depois de prensada, conhecidos também por outros nomes como, por exemplo, baga. Tem múltiplas aplicações: combustível das fornalhas, alimentação do gado, adubo, extracção de óleos de bagaço, etc.

bajo, s. m. Variante fonética de vaso.

balaúste, (do ital. balaústro, por sua vez do lat. balaustiu), s. m. Vocábulo que se encontra já registado na obra de Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, ao lado de balaústre, designa as duas colunas verticais paralelas de madeira, colocadas uma de cada lado da vara, para impedir que esta decline para algum lado. São também conhecidas por outros nomes, registados noutras regiões, entre os quais, embora mais raramente, virgens. Vd. figs. 10, 11, n.º 4, 12, n.º 5, pp. 23, 25 e 27.

barela, (de varela), s. f. O mesmo que veio.

bassourinho, (dim. de vassoura, do lat. versoria), s. m. Pequena vassoura feita de ramos ou de piaçaba, com que os ajudantes varrem muito bem as paredes de aduelas e o rasto do moinho do lagar de azeite.

bica, s. f. Extremidade do alguerbe ou sertã por onde sai o azeite que, durante a prensagem, escorre das seiras.

brocar, v. tr. Trabalho que consiste em despejar a massa no interior das seiras, documentado pelo fragmento transcrito da fala do informador, no cap. IV, p. 48.

broco, forma verbal. Vd. brocar.

bucha, (talvez do fr. ant. bouche), s. f. 1.Peça feita geralmente de madeira de figueira que envolve o eixo de ferro ao qual estão presas as galgas. 2.Peça de madeira que atravessa diametralmente a parte superior do peso da prensa de vara ou que fica no interior deste, documentado pela figura 9, p. 21.

cabeça da vara. Extremidade da prensa de vara oposta àquela onde encaixa na parede e que se caracteriza por ser de maior grossura, correspondendo à raiz da árvore de que a prensa foi feita. Vd. fig. 8, p. 20.

cachorro, s. m. O mesmo que frade.

cagulo, (do lat. cucullu), s. m. Forma proveniente de cogulo, emprega-se sempre que as medidas são enchidas até trasbordarem, evitando-se deste modo o uso da rasoira.

caixa, (do lat. capsa), s. f. Recipiente de metal, madeira ou pedra, de grandes dimensões, no qual é acumulada a massa expulsa do moinho pelas raspadeiras, também conhecido por caixão, gamela, gamelão, masseira, etc., visível na fig. 19, p. 43.

caixa da massa. Recipiente de metal, madeira ou pedra, de             grandes dimensões, o mesmo que caixa. Vd. fig. 19, p. 43.

caixão, (aumentativo de caixa), s. m. O mesmo que caixa.

calda, (do lat. calida), s. f. Operação que consiste em deitar água a ferver na massa das seiras, remexendo-a até a transformar num caldo líquido mais ou menos homogéneo, a fim de facilitar a extracção do óleo. O mesmo que escaldão.

caldas, dar as - Vd. dar as caldas.

caldeamento, s. m. O mesmo que escaldão.

caldear, v. tr. Operação de caldar ou dar as caldas. O mesmo que efectuar o escaldão.

caldeira, (do lat. tardio caldaria), s. f. Grande recipiente onde é aquecida a água para as caldas ou escaldão. De diversos tipos e formatos, é constituída por uma fornalha, um cinzeiro e uma chaminé, além da caldeira propriamente dita.

canado, (de cana), s. m. Vasilha para medir azeite e outros líquidos, feita de folha de Flandres e com formato variável, tendo geralmente uma boca larga e as capacidades de 10 ou de 5 litros. Os encontrados no conc. de Arouca são munidos de duas asas simétricas. Vd. figs. 27 e 28, pp. 61 e 63.

capacho, (do lat. cappaneu + cenacho, do ár. sannaj), s. m. O capacho é um objecto do lagar de azeite em forma de disco plano e delgado, feito de fibras vegetais ou sintéticas, sobre  o qual é distribuída a massa da azeitona, a fim de ser espremida na prensa. Em Espanha, o vocábulo capacho designa o que entre nós é conhecido por seira. Sobre o fabrico do capacho, veja-se o cap. V da obra anteriormente citada, pp. 151-156.

castelo, (do lat. castellu), s. m. Conjunto de capachos em pilha sobre  o carro, também conhecido por coluna, enseiramento e encapachamento.

chave, (do lat. clave), s. f. O mesmo que chaveta ou chabelha.

chabelha, s. f. O mesmo que chavelha.

chavelha, (do lat. clavicula), s. f. 1.O mesmo que chabelha, peça de madeira ou de ferro que se prende no  cabeçalho do carro para o prender à canga ou jugo. 2.Haste de ferro que se introduz na extremidade do eixo da galga para que esta não salte fora, também conhecida por chaveta. 3.Lâmina com cerca de 10 a 20 centímetros de espessura e dobrada na extremidade em ângulo recto, conhecida também por chabeta, chabetão, chave, trabinca e tranquete e que serve para segurar o peso ao fuso. Vd. fig. 9, p. 21.

chaveta, (de chave), s. f. O mesmo que chabelha ou chavelha.

chavetão, (de chaveta, por sua vez de chave), s. m. O mesmo que chabelha ou chavelha.

cocho, s. m. Recipiente cilíndrico de folha de Flandres, munido de comprido cabo de madeira colocado obliquamente, podendo ou não atravessá-lo, de dimensões variáveis, com o qual é tirada a água a ferver da caldeira para deitar nas seiras. Com várias designações (registámos já 11 nomes diferentes), é conhecido no concelho de Arouca pelo nome de coco. Vd. figs. 14, p. 33, 16, p. 37, e 26, p. 59.

coco, s. m. O mesmo que cocho. Vd. figs. 14, p. 33, 16, p. 37, e 26, p. 59.

coculo, (do lat. cucullu), s. m. O mesmo que cogulo e cagulo.

cogulo, (de coculo, do lat. cucullu), s. m. O mesmo que cagulo e coculo.

coluna, (do lat. columna), s. f. 1.Conjunto de capachos em pilha sobre o carro, também conhecido por castelo, enseiramento e encapachamento.  2.As colunas são duas varas verticais paralelas, de madeira, colocadas uma de cada lado da vara, a fim de impedirem que esta decline para os lados. São também conhecidas por alçapremas, balaústes e virgens. Vd. figs. 8, 10, 11, n.º 4, 12, n.º 5, 14, 15, n.º 1, 17, n.º 5, respectivamente nas páginas 20, 23, 25, 27, 33, 35 e 38. 3.As colunas são hastes verticais de ferro, que suportam a parte superior das prensas hidráulicas e algumas de parafuso.

concha da vara. Peça de madeira com rosca, que atravessa a vara da prensa de vara de um lado ao outro junto da cabeça da vara, na qual enrosca o fuso. Vd. figs. 14, 15, n.º 14, pp. 33 e 35.

copo, (de copa), s. m. Concavidade existente na roda da água do moinho, também conhecida por cubo, na qual cai a água que acciona o moinho. Vd. fig. 20, p. 45.

cubo, (do lat. cubu, do gr. kubos, kybos), s. m. O mesmo que copo.

dar as caldas. Expressão que designa uma operação que consiste em deitar água a ferver na massa das seiras, depois da primeira prensagem a seco. A massa é então muito bem remexida até ficar num caldo líquido, voltando a ser prensada. Esta operação é também conhecida por calda, escaldão e outras expressões, variáveis de região para região.

eixo, linha de -  Vd. linha de eixo.

encapachamento, (de capacho), s. m. 1.Operação que consiste em distribuir a massa pelos capachos.  2.Conjunto de capachos em pilha para serem apertados pela prensa.

enseiramento, (de seira), s. m.  1.Operação que consiste em distribuir a massa pelas seiras.  2.Conjunto de seiras umas sobre as outras, formando uma pilha. Para outros vocábulos com o mesmo sentido e outras variantes aos sentidos apresentados, veja-se a obra citada no começo deste capítulo.

enseiramento, zona de - Zona do lagar onde a massa é distribuída pelas seiras. Esta zona, nos lagares de Canelas, é constituída por um amplo recipiente de granito chamado sertã. Vd. fig. 11, p. 25.

escaldão, s. m. Operação que se compõe de duas caldas - normalmente - e que consiste em lançar água a ferver sobre a massa remexida das seiras, a fim de facilitar a extracção do óleo. Esta operação é mais vulgarmente conhecida por calda, caldar, dar as caldas, etc.

escantilhão, s. m. O mesmo que frade, pequeno pau com cerca de 10 a 15 cm que, juntamente com mais dois, servem para levantar as abas das seiras, facilitando-se deste modo o trabalho de caldeamento ou caldas. Vd. fig. 11, n.º 9, p. 25.

escudela, (do lat. *scutella), s. f. Recipiente de dimensões variáveis, feito de lata, zinco ou madeira, também conhecido por gamela, malga, masseira e masseiro. Vd. figs. 19, 21 e 26, n.º 1, respectivamente nas páginas 43, 47 e 59.

estradão, (de estrada), s. m. Nome dado a uma estrada de terra batida e com mau piso, no conc. de Arouca.

 

fábrica de azeite.  Expressão de uso cada vez mais frequente, quer em Portugal, quer em Espanha, para designar o moderno lagar de azeite, por oposição ao antigo e decadente lagar de vara.

fornalha, (do lat. fornacula), s. f. Forno grande do lagar onde arde o lume que aquece a água da caldeira. Vd. caldeira e fig. 7, p. 19.

frade, (do lat. fratre), s. m. Pequeno torno de madeira que, durante o caldeamento, é colocado, juntamente com mais dois ou três, no interior das seiras, a fim de lhes levantar as abas, facilitando o trabalho. Os frades são também conhecidos, noutras regiões, por cachorros, escantilhões, franqueletes, moços e sapos. Vd. figs. 10 e 11, pp. 23 e 25.

franquelete, s. m. O mesmo que frade.

fuso, (do lat. fusu), s. m. Grosso parafuso de madeira que enrosca numa peça chamada concha e que constitui o sistema de accionamento da prensa de vara. Na extremidade inferior apresenta um peso, que contribui para o aumento da pressão da vara. O fuso é também conhecido por parafuso e por tarraxão. Vd. figs. 9, 10, 14 e 15, n.º 12, respectivamente pp. 21, 23, 33 e 35.

 

galga, (de galgo), s. f. Pedra ou mó do moinho de azeite, de formato tronco-cónico ou cilíndrico e de dimensões variáveis, feita de um bloco único de granito. Vd. figs. 4, 5, n.º 3, 6, n.º 2, 7, 13, 19, respectivamente páginas 15, 17, 18, 19, 32 e 43.

gamela, (do lat. vulgar gamella), s. f. 1.Recipiente de dimensões variáveis, feito de lata, zinco ou madeira, também conhecido por escudela, malga, masseira e masseiro, usado no transporte da massa para as seiras. Vd. figs. 19, 21 e 26, pp. 43, 47 e 59.  2.Caixa metálica, de pedra, cimento ou mesmo de madeira, de grandes dimensões, onde cai e se deposita a massa expulsa do moinho pelas raspadeiras (vd. fig. 19, p. 43. 3.Recipiente de folha onde são metidas as medidas do azeite, também conhecido por bacia das medidas (vd. figs. 27, p. 61, e 28, p. 63.

gamelão, s. m. Recipiente de metal, madeira ou pedra, de grandes dimensões, no qual é junta a massa expulsa do moinho pelas raspadeiras, também conhecido por arca, caixa, caixa da massa, caixão, gamela, masseira, masseirão e tino. Vd. fig. 19, p. 43.

gigo, (de giga), s. m. Cesto de vime, alto e estreito, com duas asas verticais, usado para transportar e guardar a azeitona.

 

laço, s. m. Película que se forma à superfície do líquido nas tarefas ou talhas, produzida pela mistura da água com o azeite.

lagar, mestre do - Vd. mestre.

lagar, moço do - Vd. moço.

lastro, s. m. Base de pedra do moinho sobre a qual assentam e giram as galgas, também conhecida por mó de baixo, prato e rasto.

lata, (do ital. latta (?)), s. f.  1.O mesmo que latão.  2.Chapa metálica colocada obliquamente nos bordos do carro ou carrinho das prensas hidráulicas, a fim de impedir que gotas de azeite caiam no chão durante a compressão.

latão, (de lata), s. m.  1.Recipiente de lata onde é conservada a azeitona.  2.Recipiente cilíndrico de lata para onde corre o azeite que se separa da água por decantação. Vd. figs. 15, n.º 5, 17, n.º 7, pp. 35 e 38.

linha de armação  Registado no plural - «linhas d'armação d'àzenha» - designa o conjunto das traves superiores onde está fixo o moirão.

linha de eixo  Eixo que transmite o movimento de uma roda dentada a outra, situada no extremo oposto. Vd. fig. 20, n.º 3, p. 45.

malhal, (de malho, do lat. malleu), s. m. Grossa rodela, viga ou barrote curto, que é colocada juntamente com outras sobre a adufa para dar maior altura ao enseiramento, também conhecida por tabuão e taco. Vd. figs. 23 e 24, pp. 50 e 51.

manjarra, (do ár. al-majarrâ), s. f.  O mesmo que almanjarra.

massa, (do gr. máza, pelo lat. massa), s. f.  Azeitona depois de reduzida a uma pasta mais ou menos homogénea, em Espanha e Itália conhecida por pasta, termo também existente entre nós mas com menor uso.

massa, caixa da -  o mesmo que masseira.

masseira, (de massa), s. f.  1.Recipiente de dimensões variáveis, feito de lata, zinco ou madeira, mais conhecido por escudela, malga e masseiro, usado no transporte da massa para as seiras. Vd. figs. 19, 21 e 26, pp. 43, 47 e 59.  2.Caixa de metal, pedra, cimento ou mesmo de madeira, de grandes dimensões, onde cai e se deposita a massa expulsa do moinho ou da batedeira, também conhecida por arca, caixa, caixa da massa, caixão, gamelão, masseiro e tino. Vd. fig. 19, p. 43.

masseiro, (de massa), s. m.  O mesmo que masseira e gamela.

mestre, (do lat. magistru), s. m.  Mestre do lagar é o lagareiro que está à frente dos trabalhos do lagar e ao qual competem as tarefas mais importantes e delicadas, tais como verificar se a massa está convenientemente moída, fazer o enseiramento, mexer a massa e caldear, com o auxílio do ajudante ou ajuda, sangrar o azeite, medir, etc.

, (do lat. mola), s. f.  Pedra ou galga do moinho de azeite, de formato tronco-cónico ou cilíndrico e de dimensões variáveis, feita de um bloco único de granito. Vd. figs. 4, 5, n.º 3, 6, n.º 2, 7, 13, 19, respectivamente páginas 15, 17, 18, 19, 32 e 43.

mó de baixo  O mesmo que rasto, lastro ou prato do moinho.

moço, (do lat. musteu?), s. m.  1.Rapaz empregado no lagar, a quem compete, entre outras tarefas, encher e transportar as gamelas com a massa para o enseiramento, também conhecido por ajuda, ajudante, etc.  2.Pequeno torno de madeira com 15 a 20 centímetros de comprimento, que colocam no interior das seiras, durante o caldeamento, a fim de lhes levantarem as abas. É também conhecido por outros termos por nós registados em outras regiões, tais como cachorro, escantilhão, frade, franquelete e sapo. Vd. figs. 10 e 11, pp. 23 e 25.

moinho, (do lat. molinu), s. m.  1.Todo e qualquer aparelho que serve para moer.  2.Aparelho para moer azeitona, reduzindo-a a massa, formado por um recipiente de formato cilíndrico - a vasa ou pio - no qual giram as pedras ou mós, vulgarmente conhecidas por galgas.  3.Quantidade de azeitona moída de cada vez. 4.Conjunto de seiras ou capachos empilhados com massa para a prensagem  5.(valor conotativo) pessoa que come muito.  Vd. figs. 4, 5, 6, 7, 13, 19 e 20, respectivamente pp. 15, 17, 18, 19, 32, 43 e 45. Para uma classificação tipológica dos moinhos, veja-se o trabalho citado no começo deste capítulo.

moirão, (de mouro, do lat. mauru), s. m. O mesmo que mourão, eixo vertical do moinho preso às traves da azenha ou linhas de armação e ao qual está preso o eixo horizontal das galgas e a almanjarra, para accionamento das galgas. Vd. figs. 4, 5, n.º 9, 6, n.º 3, 7, pp. 15, 17, 18 e 19.

mourão, (de mouro, do lat. mauru), s. m. O mesmo que moirão.

 

olho, (do lat. oculu), s. m.  Gota de gordura na superfície de um líquido.

 

panca, (do lat. *palanca por palanga ou phalanga, do gr.), s. f.  1.Vara comprida e roliça de madeira com a qual é tocado o fuso, obrigando a descer a prensa, também conhecida por outros termos por nós registados, entre os quais torteiral, tranca, tranqueta, etc. Vd. figs. 9 e 15, pp. 21 e 35.  2.Vara comprida de madeira com que é endireitado o enseiramento, também conhecida por tranca.

parafuso, s. m.  O mesmo que fuso.

parafuso, prensa de -  Vd. prensa de parafuso.

penedo, (do lati. pinna), s. m.  O mesmo que peso.

peso, (do lat. pensu), s. m.  Elemento da prensa de vara, também conhecido por penedo e pouso, que se caracteriza pela sua forma geralmente tronco-cónica, mas também cilíndrica e esférica, cujo objectivo é o de aumentar a potência da vara. É fixo ao fuso por meio de um veio e uma chave, chaveta, chavetão ou trabinca. Vd. fig. 9, p. 21.

pia, (do lat. pila), s. f.  1.Recipiente onde, em certas regiões, é conservada a azeitona.  2.O mesmo que tarefa, isto é, recipiente para onde corre o azeite da prensagem e onde se separa da água e impurezas.  3.Recipiente de pedra milheira, no qual é deitado o azeite da maquia.  4.O mesmo que pio, isto é, recipiente do moinho onde é deitada a azeitona para ser moída pelas galgas ou mós.

pio, (de pia), s. m.  1.O mesmo que pia, recipiente circular do moinho, de formato e estrutura variáveis, onde giram as galgas ou mós. (vd. pia).  2.Esporadicamente, designa também o alguerbe, isto é, a zona circular onde se colocam as seiras para serem espremidas pela vara.  3.Parte inferior do moinho, sobre a qual giram as galgas ou mós, equivalente a rasto.  4.Aparelho de moer na sua totalidade, isto é, o mesmo que moinho.

porta, s. f.  Prancha circular de madeira que se coloca sobre as seiras, também conhecida noutras regiões por adufa, tampa e trincho, cuja função é a de distribuir uniformemente por toda a superfície das seiras a pressão exercida pela vara. Vd. figs. 8, 10, 11, n.º 2, 15, 16 e 17, n.º 2, pp. 20, 23, 25, 35, 37 e 38.

pote, s. m.  1.Recipiente de pedra ou de barro de formato e dimensões variáveis de região para região, no qual é conservada a azeitona.  2.Recipiente de metal destinado a guardar o azeite.   3.Vaso cavado na pedra da tarefa (Beira Alta).  4.O mesmo que tarefa: no lagar de Canelas de Baixo, conc. de Arouca, dist. de Aveiro, os potes são duas tarefas de aduelas de madeira ligadas entre si e nas quais se separa o azeite da água-ruça, fazendo-se a sangra automaticamente. Vd. figs. 10, 12, 14, 15, n.º 7, 16, 17, n.º 6, pp. 23, 27, 33, 35, 37 e 38.

pouso, (de pousar), s. m.  1.O mesmo que peso.  2.Mó jacente do moinho.  3.Zona onde são colocadas as seiras com massa da azeitona para prensagem.

prato, (do lat. platu, por sua vez do gr. platys), s. m.  1.Disco delgado de ferro colocado de permeio entre a chaveta e a galga para impedir que a fricção desgaste esta última.  2.Base de pedra do moinho ou pio, sobre a qual assentam e giram as galgas, também conhecida por mó de baixo, lastro e rasto.  3.O mesmo que carro ou  carrinho, nos modernos lagares com prensas hidráulicas.

prensa, (do lat. pressu, -a, por sua vez de premere), s. f.  1.Aparelho, manual ou mecânico, que serve para comprimir, apertar ou achatar qualquer objecto que nele se coloque.  2.Aparelho para apertar a massa da azeitona, previamente distribuída por seiras ou capachos, a fim de se extrair o azeite. A prensa é também conhecida pela designação popular imprensa. Para uma classificação tipológica das prensas, veja-se o trabalho anteriormente citado no início deste capítulo.

prensa de parafuso  Tipo de prensa de madeira ou de ferro, mais evoluída que a prensa de vara e com diversos modelos, dentre os quais se destaca o chamado cincho, prensa de dimensões reduzidas, constituída por um parafuso vertical de ferro e uma prensa (sentido restrito) de tipo Mabille.

prensa de vara  Tipo de prensa, conhecida em Espanha pelas designações prensa de libra, prensa de romana ou simplesmente prensa, trujal e viga.  Em Itália, por turcio, trabocco e trappito e, em Portugal, por prensa de vara, vara, feixe e trabe (trave), constituído  por um enorme tronco de árvore, que funciona como alavanca, e por um sistema de accionamento.  A vara é um enorme tronco de árvore fixo entre as agulheiras por meio de uma agulha, podendo ou não apresentar uma extremidade mais grossa, a chamada cabeça da vara, que corresponde às raízes da árvore, junto da qual fica a concha, segura por um torno, no qual enrosca o fuso. Para que a vara não decline para os lados, existem, um da cada lado, dois prumos verticais chamados virgens.

O fuso, que constitui o sistema de accionamento da vara, apresenta um enorme peso na extremidade inferior, a ele fixo por uma chave, chaveta ou chavetão, que é introduzido na ranhura de um veio de ferro. O fuso, que enrosca na concha, é tocado por meio de uma tranca, pau comprido que é enfiado no ouvido do fuso. Vd. obra citada no começo deste capítulo e figs. 8, 9, 10, 11, 14, 15, pp. 20, 21, 23, 25, 33 e 35.

prumo, s. m.  Os prumos são duas colunas verticais de madeira colocadas ao lado da vara para impedir que ela decline para os lados. Vd. virgem.

 

rasoira, (de raso), s. f.  pau cilíndrico que é utilizado para tirar o cogulo às medidas.

raspa, (de raspar), s. m. Peça de madeira com o formato aproximado de uma régua em T, fixa no interior do vaso ao moirão, um pouco abaixo do eixo horizontal da galga, que serve para fazer cair a massa que se agarra às paredes do vaso. Esta peça, feita também de metal, é conhecida mais vulgarmente por raspadeira e raspador.  Vd. figs. 5, n.º 7, e 6, n.º 5, pp. 17 e 18.

raspadeira, (de raspar), s. f.  Pá de ferro ou de madeira para fazer cair a massa que se agarra às mós ou às paredes do moinho e, nos modernos lagares para obrigar a massa a deslocar-se para o caminho das galgas e também expulsá-la da vasa ou vaso, quando convenientemente moída, para dentro de gamelas ou de caixas.

raspador, (de raspar), s. m.  O mesmo que raspa e raspadeira. No lagar de Canelas de Baixo existia um raspador de madeira fixo ao moirão, para retirar a massa que se agarrava à mó.  No de Canelas de Cima, existia um raspador - o raspa - para retirar a massa das paredes do moinho.  Vd. figs. 5, n.º 7, e 6, n.º 5, pp. 17 e 18.

rasto, (do lat. rastru), s. m.  Base de pedra do moinho sobre a qual assentam e giram as galgas, também conhecida por mó de baixo, lastro e prato do moinho.

roda, (do lat. rota), s. f.  Roda hidráulica que faz girar as galgas do moinho e que pode estar dentro ou fora do lagar, mas, geralmente, no lado de fora do edifício. Vd. fig. 20, p. 45.

roda da água  O mesmo que roda.

 

sacho, (do lat. sarculu), s. m.  Enxada pequena com a qual é retirada a massa do moinho.

sachola, (dim. de sacho), s. f.  Pequeno sacho ou enxada, com o qual é retirada a massa da azeitona do moinho.

sangra,(de sangrar), s. f.  1.Líquido que escorre da azeitona e que na tarefa se separa do azeite por decantação.  2.Acto de sangrar as tarefas.

sangrar, (do cast. sangrar, por sua vez do lat. sanguinare), v. tr.  Operação que consiste em tirar a sangra ou água-ruça das tarefas, ficando apenas o azeite.

sãofridoiro, s. m. Zona plana e ampla onde é amontoado o bagaço após as diferentes prensagens.  Vd. figs. 15, n.º 4, 16 e 17, n.º 4, pp. 35, 37 e 38.

sapo, s. m.  O mesmo que frade.

seira, (de origem incerta), s. f.  1.Objecto do lagar de azeite feito de esparto, juta e outras fibras vegetais, caracterizado pela sua construção em forma de saca larga e circular, constituindo a parte superior aquilo a que o povo chama as abas e terminando por uma abertura chamada a boca da seira.  2.O mesmo que capacho.

sertã, (do latim sartagine), s. f.  Recipiente circular de granito, situado debaixo da vara, entre as virgens e as agulheiras, de formato variável e com uma bica de saída para o azeite, dentro do qual são empilhadas as seiras que vão ser espremidas pela vara. Vd. figs. 8, 11, n.º 1, 12, n.º 4, 16 e 17, n.º 1, pp. 20, 25, 27, 37 e 38.

soga, s. f.  1.De origem incerta, do lat. tardio soca e com o mesmo sentido, de provável origem céltica, designa uma corda grossa ou tira de couro que se prende às hastes dos bois para os puxar e dirigir.  2.Corda ou pedaço de correia com que, no lagar de azeite, se atrela o animal à almanjarra, para fazer accionar o moinho. Vd. açoga. Em alguns locais, as sogas são também conhecidas pelo termo apiaças.

 

tabuão, (de tábua, do lat. tabula), s. m. Grossa rodela, viga ou barrote curto de madeira que é colocado sobre a adufa, para dar maior altura ao enseiramento, também conhecida por malhal e taco. Vd. figs. 22, 23 e 24, pp. 49, 50 e 51.

taco, s. m. O mesmo que tabuão.

talha, s. f. O mesmo que tarefa ou pote, recipiente que, no lagar de Anterronde, estava embutido numa plataforma de cimento de secção aproximadamente quadrada.  Vd. fig. 25, p. 53.

tampa, s. f. Prancha circular de madeira que se coloca sobre as seiras, também conhecida por adufa, porta e trinco. Vd. porta.

tarefa, (do ár. tarihâ), s. f.  Recipiente do lagar, normalmente junto à prensa, onde se separa o azeite da água e outras impurezas. Construídas de diversos materiais, tais como granito, barro e metal, as tarefas apresentam formas e dimensões variáveis de lagar para lagar.

tarraxão, s. m. O mesmo que fuso.

tino, s. m.  O mesmo que gamelão.

torteiral, (de torteiro, por sua vez de torto?), s. m.  Vara comprida e roliça de madeira com a qual é tocado o fuso, obrigando a descer a prensa, também conhecida por panca, tranca e outros termos. Vd. figs. 9, 14 e 15, n.º 11, pp. 21, 33 e 35.

trabinca, s. f.  Lâmina com cerca de 10 a 20 centímetros de comprimento, 2 cm de espessura e dobrada na extremidade em ângulo recto, conhecida por chaveta, chavetão, chave e tranqueta e que serve para segurar o peso ao fuso. Vd. fig. 9, p. 21.

tranca, s. f.  1.Vara comprida e roliça de madeira com a qual é tocado o fuso, também conhecida por panca, tartoeiral, torteiral, etc.  2.Vara comprida de madeira com que é endireitada a coluna de seiras ou enseiramento.

tranqueta, s. f.  1.Vara comprida com que é tocado o fuso da prensa de vara.  2.O mesmo que trabinca, chave ou chaveta, lâmina metálica com cerca de 10 a 20 cm de espessura e dobrada na extremidade em ângulo recto e que serve para trancar, isto é, segurar o peso ao fuso. Vd. fig. 9, p. 21.

trincho, s. m.  O mesmo que porta.

 

vara, s. f. Vd. pensa de vara.

vara, cabeça da -  Zona da prensa de vara, que corresponde à raiz da árvore de que foi feita a prensa.  Vd. cabeça da vara, prensa de vara e figs. 8 e 14, pp. 20 e 33.

vara, concha da - Vd. concha da vara.

vara, prensa de - Ver em prensa de vara.

varela, (de vara), s. f.  O mesmo que veio.

vasa, s. f.  O mesmo que pio ou vaso.

vaso, s. m.  O mesmo que pio ou vasa do moinho, isto é, recipiente circular do moinho onde giram as galgas ou mós e no qual é deitada a azeitona para ser reduzida a massa. Vd. figs. 4, 5, 6, 7, 13, 19 e 20, pp. 15, 17, 18, 19, 32, 43 e 45.

veio, s. m. Peça de ferro que suporta o peso da prensa de vara quando em suspensão, também conhecido por barela. Vd. fig. 9, p. 21.

virgem, (do lat. virgine), s. f.  1.As virgens são duas colunas verticais de madeira, colocadas paralelamente, uma de cada lado da vara, para impedir que esta decline para algum lado. Fixas na parte superior às chamadas linhas do vigamento do lagar, separam normalmente as tarefas da zona do enseiramento. São também conhecidas por alçapremas, balaústes e colunas. Vd. figs. 8, 10, 11, n.º 4, 12, n.º 5, 14, 15, n.º 1, 17, n.º 5, pp. 20, 23, 25, 27, 33, 35 e 38.  2.Embora raramente, as agulheiras do lagar são também designadas por virgens.

 


[1] - Desejando o leitor uma análise exaustiva e comparada dos diferentes vocábulos relacionados com o campo oleícola, abrangendo não apenas o distrito de Aveiro, mas praticamente toda a metade norte de Portugal, remetemo-lo para:

OLIVEIRA, Henrique J. C. de - O Fabrico do Azeite. Estudo Linguístico-Etnográfico. Dissertação de licenciatura em Filologia Românica (inédita), apresentada em 1971 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Aí encontrará igualmente elementos referentes a outros países - Espanha e Itália -, uma vasta bibliografia e ainda numerosas gravuras e mapas linguísticos relacionados com esta vastíssima área do conhecimento humano.

[2] - Relação das principais abreviaturas utilizadas no glossário:

ant. - antigo
ár. - árabe
cap. - capítulo
cast. - castelhano
conc. - concelho
dim. - diminutivo
dist. - distrito
fig. - figura
fr. - francês
gr. - grego
ital. - italiano
lat. - latim
n.º - número
p. - página
s.m. - substantivo masculino
s.f. - substantivo feminino
séc. - século
tr. - transitivo
v. - verbo
vd. - ver (do latim vide)
* - palavra hipotética, não documentada


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