Fernando F. Dias
(^6.º f 2)
TUDO quanto se
tenha dito de Gago Coutinho nunca será demasiado por aquilo que fez por Portugal.
De ascendência humilde, o que alcançou deve-o só
a si, ao seu trabalho, à sua vontade, à sua inteligência.
Carlos Viegas Gago Coutinho, assim se chamou o Grande Almirante,
nasceu em Lisboa no ano de 1869. Foi oficial da nossa Marinha, onde
sobressaiu pelos seus estudos geográficos. Debaixo do calor dos
trópicos, no Ultramar, fez, juntamente com Sacadura Cabral,
levantamentos topográficos e delimitou fronteiras.
Não vamos aqui contar o que toda a gente sabe que ele fez. Sim,
estamos a referir-nos à mais brilhante página de epopeia dos tempos
modernos − a Travessia Aérea do Atlântico Sul; ou melhor a primeira
viagem aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro, em
1922.
Iniciada com o hidroavião
«Lusitânia» foi concluída com o
«Santa-Cruz».
E, como se isto não bastasse para o tornar célebre, foi ainda autor
de várias invenções, entre as quais sobressai o já célebre sextante
de horizonte artificial. Este aparelho de orientação, de capital
importância, pois ainda hoje é usado com ligeiras modificações e
aplicado conjuntamente com computadores electrónicos nas naves
espaciais, fez com que Von Brown − director da NASA (National
Aeronautics and Space Administration), quando da sua passagem por
Lisboa, visitasse o Museu da Marinha, só por lá se encontrar o
hidroavião «Santa Cruz» e o referido sextante.
De grande modéstia, Gago Coutinho recomendou que à sua morte,
ocorrida em 1959, lhe não vestissem galas, mas simplesmente o
modesto fato de caqui, de geógrafo de mato, e um caixão de pinho,
pobre. Tudo tão pobre como ele tinha nascido.
Ele sempre dizia: «Nunca
fui director de bancos ou companhias. Não fui governador do
Ultramar, nem deputado da Nação. Nunca fui almirante a valer, mas
sim autêntico geógrafo de mato».
Eis aqui uma pequena biografia de um grande herói. |