José Rodrigues de
Almeida
(7.º ano)
O
sol vai mergulhando no horizonte longínquo e o mar retrata, em cada
onda, uma réstia da cor
purpúrea do manto dum deus que se afasta.
Algo de muito sublime, uma paz que reconforta, um
lampejo de
saudade, paira no ar nos breves momentos que separam o dia da noite.
Um dia que se esvai, que escoa os seus últimos
instantes numa plácida agonia... Mais um risco no calendário, uma
folha que se volta na agenda... Mais um dia de dor, de sofrimento,
mais um dia que aproxima da nossa cabeça o
cutelo que nos ceifará a vida!
Quando sentimos que algo termina, notamos a escassez do tempo que
nos vai apertando. Só então reparamos naquilo que Existe e que não
vimos, nas ondas que vêm beijar as rochas no seu eterno movimento,
nas nuvens belas, no céu infinito,
nas aves que correm, na nossa vida, no tempo que ficou para trás.
Então lembramo-nos das lágrimas para chorar o que não fizemos,
então pensamos no que está para Além, dos domínios infinitos, em
Alguém que nos ama e que calcámos na louca carreira do mundo. Então
pensamos na Morte, com arrepios e suores gélidos, porque nada
fizemos da Vida senão correr do dinheiro para o dinheiro. Tememos
que esse Alguém nos pergunte também: «Caim, que fizeste de teu irmão?» Horrorizados veremos o sangue dos nossos
irmãos manchando os dedos, veremos o que fizemos
do mundo que nos foi dado por Amor.
Desabará sobre as nossas cabeças toda a culpa, transformada numa
eterna condenação. |