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farol n.º 29 - mil novecentos e sessenta e oito ♦ sessenta e nove, pág. 15.

Se eu fosse

             Pastora...

Guida Maria
(4.º ano)
 

COSTUMA subir ao monte, quando a luz era indefinida. Naquele dia, eu encontrava-me no cume e a paisagem dali era maravilhosa, tão bela que talvez muitos pintores se sentiriam incapazes de a reproduzir ou os melhores escritores de a descrever.

Junto de mim, sobre a relva, tremeluziam algumas gotas de orvalho. O rio, ao fundo, corria preguiçosamente, murmurante, por entre um manto todo verde, inteiramente bordado de flores. As montanhas, ao longe, tinham formas estranhes e cor indefinida. As últimas estrelas tapavam a cara, envergonhadas pelos raios de sol que começavam a beijar a terra.

Tudo era silêncio, e este era quebrado somente pelo chocalhar do rebanho dum pastor que, àquela hora, costumava vir, tocando na sua flauta.

Ficava triste, quando olhava aquele homem com as ovelhas confiantes. Quem me dera ter a vido calma daquele pastor, passar o dia no monte, em vez de o passar numa cidade, presa ao mundo. Que belo seria sentir o perfume das flores ou ouvir o canto dos pássaros, em vez do cheiro a gasolina ou o barulho dos automóveis. Que bom contactar com a Natureza e não com o fumo das fábricas. Repartir o pão com as minhas ovelhas, em vez de sentir o egoísmo dos homens.

E, quando o sol se ergueu, majestosamente, no horizonte, um grito ecoou dentro de mim:

− Ah, se eu fosse pastora...

 

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11-06-2018