José Henrique Leal
Costa
(6.º F1)
COM o começo de
um novo ano escolar, vai aparecer a primeira tiragem de «O Farol» desta época. Neste primeiro artigo sobre desporto, vou tecer algumas considerações sobre o desporto em
geral, baseando-me em alguma experiência, e também em alguma coisa
que me tem sido dado observar e ler. Acho que é a altura propícia
para o fazer, pois o desporto mundial esteve em festa com a
realização da 19.ª Olimpíada da Era Moderna, que se disputou no
México, a uma altitude de 2000 e tantos metros.
Como à primeira vista parece, «desporto» não quer somente dizer,
jogar, vencer, ser derrotado. É preciso saber competir e aceitar a
derrota como se de uma vitória se tratasse. É preciso que haja
desportistas conscientes, disciplinados e dignos. Para se ser bom
desportista, é preciso antes de mais ser «homem». Para que o homem
seja perfeito tem que atender às suas condições físicas, à formação
da sua vontade, à dignidade das suas atitudes e, acima de tudo, à
modelação do seu carácter. O desportista que o queira ser de verdade
e não apenas de nome, há-de ser um homem, sob pena de falhar
ingloriamente no campo
do desporto e da vida.
Para não cair neste erro, tem que ter um são optimismo, que o faça
confiar sem exageros nos seus próprios recursos e nas
possibilidades que tem; que apreciar com justiça o valor do
adversário, respeitando-o devidamente, para merecer que o respeitem
a si também; que ser corajoso e forte nos momentos da derrota,
aceitando-a com a dignidade e o aprumo que devem fazer parte da
bagagem do autêntico desportista;
/ 20 /
tem de ser igualmente comedido no triunfo, recebendo-o com alegria
como é justo, mas sempre com a devida modéstia; tem de aprender a
respeitar o público e o adversário, pois o respeito e a educação não
devem desertar dos campos de jogos...
Aquele que assim o fizer, será não só um desportista como um
verdadeiro homem. Se um jogo não tiver, nos seus participantes, verdadeiros desportistas, o campo em que ele se estiver a disputar
transformar-se-á numa luta selvagem que é a negação de todo o
desporto.
Caros colegas:
Se por acaso já tivestes oportunidade de ver alguma reportagem
sobre os Jogos Olímpicos que a televisão diariamente manda para
nossas casas, já vistes com certeza o espírito desportista dos
atletas presentes, que no fim das provas se apressam a felicitar os
vencedores, apesar de algumas vezes serem povos inimigos. Isto, sim.
é verdadeiro e salutar desporto.
E, para acabar, vou-vos contar um pequeno episódio que justifica da
melhor maneira o título do meu artigo.
Dois corredores italianos «Gino» e «Bartalli», grandes campeões do
mundo do ciclismo de alguns anos atrás, seguiam no «Giro de Itália»,
na frente da classificação. Quando se disputou a última e mais dura
etapa da volta através dos Alpes, sob um calor escaldante, houve uma
fuga destes ciclistas que se distanciaram grandemente de todos os
outros. Entretanto seguiam os dois juntos e, quando a meta se
aproximava,
Bartalli começou a perder forças, porque a água tinha acabado e não
tinha com que se dessedentar. Mas dá-se o inesperado, que por si só
mostra um desportista.
Gino, podendo aproveitar a fraqueza do seu eterno rival e vencer à
vontade a tirada, dá-lhe o seu «boyon». Bartalli dessendenta-se e
recupera forças. A meta estava à vista e numa verdadeira luta de
gigantes os dois disputam o sprint, acabando com a vitória de Bartalli. Gino, descendo da bicicleta e com as lágrimas nos olhos,
foi o primeiro a felicitar o adversário.
Não será isto verdadeiro desporto?
Tirem, amigos, as conclusões que quiserem e mandem sugestões
que eu cá fico à espera delas até ao próximo número de «O Farol». |