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farol n.º 28 - mil novecentos e sessenta e oito ♦ sessenta e nove, págs. 6 e 7.

CAMPISMO

 

Vida de Diálogo

Arménio da Silva Gomes dos Santos
(6.º e)
 

ESTIVE este ano, pela primeira vez, a passar férias na encantadora praia da Figueira da Foz, justamente considerada, quanto a mim, como a mais importante do Centro do País, quer atendendo à sua beleza, quer tendo em conta o factor turístico.

Como as minhas magras finanças não me permitiam instalar-me em nenhum hotel, optei pelo campismo e, acompanhado de dois primos, armei a minha tenda no parque municipal, dotado de óptimas instalações, mas relativamente distante da cidade.

O tempo foi passando: alargámos o horizonte das nossas relações sociais e dialogámos em espírito com Deus, através da contemplação da Natureza, heterogénea, mas sempre bela e transmissora de mensagens ternas.

Ora, uma bela manhã, travámos conhecimento com um jovem casal de ingleses que, não sabendo uma única palavra de Português, se via deveras embaraçado, ao tentar pedir ao guarda do parque, alheio à língua de Shakespeare, que lhes indicasse um local para aí acampar. Pedi licença para interferir na conversa, e, uma vez conhecedor da pretensão do casal, indiquei-lhe o sítio que me pareceu mais próprio para o efeito, recebendo em seguida os seus agradecimentos, que se justificavam, segundo ele, perfeitamente, pois encontrar um português que falasse a sua língua e com o qual pudesse trocar impressões, constituía para ele um motivo de grande regozijo.

E após haverem montado a sua tenda, os Barry (tal era o seu sobrenome) pediram-nos que lhes mostrássemos a cidade, e, sobretudo, o Casino, de que já tinham ouvido falar várias vezes.

Como ainda havia tempo de sobra, fomos até à praia, onde nos deliciámos com o calor benfazejo dos raios solares e com a temperatura bastante agradável das águas do mar, desse mar imenso que as caravelas portuguesas, / 7 / com a Cruz de Cristo esmaltada nas velas, sulcaram, com o objectivo de concretizar o sonho do Infante de Sagres.

À tarde, depois de havermos almoçado num dos hotéis da cidade, fomos visitar o seu luxuoso Casino e o seu museu, com cuja magnificência os ingleses ficaram surpreendidos, e cuja riqueza de conteúdo tanto elogiaram.

Em seguida dirigimo-nos para a esplanada da praia, num dos cafés da qual passámos o resto da tarde em amena conversa. Viemos a saber que ambos eram formados, ele em Engenharia e ela em Filosóficas, e que já praticavam campismo há bastante tempo e sobretudo em parques espanhóis e holandeses. Além disso, disseram-nos que eram naturais do País de Gales, embora residissem há cinco anos em Inglaterra, e que era a primeira vez que estavam em Portugal. Sentiam-se encantados com a beleza das nossas paisagens, principalmente as do Norte do País e com a hospitalidade da nossa gente e tencionam ainda visitar a capital e o Algarve, cuja fama é enorme na Grã-Bretanha, segundo afirmaram.

E, para bem acabar o dia, fomos ao cinema ver uma película americana, por sinal bastante divertida.

Quando regressámos ao parque, eu sentia-me fatigado, mas estava ciente de que o desenvolvimento dos meus conhecimentos de inglês e a conquista da amizade daquele casal, tão afável e simpático, havia merecido bem o meu esforço.

 

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09-06-2018