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farol n.º 23 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 6 e 7.

DIA

 

DE FEIRA

Cármen Rosa Nogueira
(7.º ano - Letras)
 

Dia de Feira! Na aldeia reina a alegria, aliás como sempre, semana após semana, no dia em que os feirantes descem até à aldeia escondida entre as serros verdejantes, bem lá no fundo do vale. Ao lado de tanta verdura parece ainda mais branca, limpa e graciosa aquela pequena aldeia que visitei, quando em férias. Que sorte tive calhar a minha passagem por lá no dia de feira e levar comigo alguém que bem a conhecia, pois lá nasceu!

O dia estava quente, abafante, como são os dias de Agosto na serra. Mas nem mesmo aquele calor, que parecia pesar sobre todas as coisas, diminuía a alegria da pequenada que olhava com avidez tantas coisas lindas.

A feira estava imponente! O largo empedrado, em que se realizava, um pouco em declive, estava pejado de gente. Sobretudo a sombra apetecida das árvores frondosas convidava a dois dedos de conversa e ao descanso, depois das compras.

Bem no meio da praça erguia-se, majestoso, um antigo fontenário de pedra resistente, com três bicas que deitavam a sua pouca água no tanque redondo e fundo.

A pequenada deliciava-se com os seus barquitos novinhos em folha. Como era bom mergulhar os bracitos naquela água fresca!

Lá um pouco mais acima erguia-se o cruzeiro, onde os homens passavam respeitosamente de chapéu na mão e onde, à sombra da Cruz, falavam com os amigos naquela hora de calma.

A minha amiga deliciava-se à vista de tudo aquilo que tão gratas recordações lhe trazia, e a pouco e pouco foi-me mostrando os seus conhecimentos:

– «Olha, vês aquele velhote ali? O que tem todos aqueles tamancos, vês? Pois foi a ele que comprei uns tamanquinhos pequeninos para mim... Não me esqueço, a minha mãe não queria, mas o velhote começou a fazer-me festas e a lisonjear as minhas tranças com laços encarnados e a mãe lá se resolveu. Sim, / 7 / nessa altura já era velho. Lembro-me tão bem como fiquei contente!

Vês agora aqui à frente aquela doceira com o tabuleiro cheio de bolos? Pois uma vez em que o meu pai me deu vinte e cinco tostões gastei-os todos em suspiros. Se soubesses como fiquei maldisposta! A minha mãe ralhou comigo e o meu pai até disse que para outra vez só me dava cinco tostões. Nunca mais comi suspiros!»

E assim por diante, fui entrando nos segredos de uma feira.

Uma mulher a vender bonecas pequeninas, bolas e tambores trazia novas recordações à Teresa. Uma velhota encarquilhada e sorridente até falou com ela e lhe lembrou (como se isso fosse preciso) a sua birra, quando o irmão tinha troçado de um bocadinho de chita comprada de propósito para a sua boneca nova e acrescentou logo:

– «Isto de rapazes... só querem bola e joelhos esmurrados, por baterem uns nos outros. E eu que bem o sei...»

Mas o tempo foi passando e chegou a hora de dizer adeus àquele mundo que enche de alegria tantos corações pequeninos ou já crescidos.

Até a Teresa ficou triste à despedida.

Sim, deve trazer muitas saudades recordar assim pequenos episódios que encheram a nossa vida há alguns anos.

 

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08-06-2018