João de Freitas
Raposo
(4.º ano)
Como
é agradável contemplar as salinas da Veneza de Portugal nos belos
dias de sol que o Verão frequentemente nos presenteia!
Com efeito9, a estreada
que liga a cidade às praias da Barra e Costa Nova é rodeada, até à
Gafanha, por um número indefinível de pontos brancos, que se
destacam no tom de azul que domina esta paisagem.
Numa observação mais
atenta poder-se-á apreciar o trabalho intensivo a que os marnotos se
entregam, enriquecendo constantemente com o sal que transportam em
cestos de formas apropriadas os montes já começados.
É ver a sua pele
bronzeada pelo sol escaldante contrastando vivamente com a alvura
das camisolas que vestem, as testas cobertas de suor a realçarem a
dureza do trabalho, as pernas musculosas a subirem as pranchas que
conduzem à parte mais alta das salinas, os pés nus, calejados pela
marcha incessante e monótona a que os submetem.
Quando observo
demorada e atentamente tão sublime espectáculo, alheio-me de tudo o
que me rodeia, de todo o movimento que à minha volta se desenrola,
de todos aqueles que me cercam e sinto-me leve, leve como as
gaivotas que ao longe esvoaçam, abrindo as suas asas mui alvas.
O meu pensamento
eleva-se para Quem me proporcionou tal maravilha, dando-lhe graças
pelo bem que me concedeu.
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E é grande a tristeza que sinto quando tenho de pôr fim a uma
contemplação que, pela grande beleza que encerra, se me assemelha
mais irreal do que verdadeira. |