Alípio Baptista
(7.º ano)
A
vida do salmão começa no ovo, que permanece soterrado no leito de cascalho de algum rio. Ao sair do ovo, o peixinho
conserva-se imóvel durante muitos dias, alimentando-se do
saco vitelino, espécie de bolsa repleta de substâncias de nutrição que os seres ovíparos trazem consigo ao nascer e que com ela
ocorrem às primeiras necessidades da sua alimentação.
Quando o saco se acaba, ele sobe à superfície e, com pouco
mais de um centímetro de comprimento, já é perseguido por peixes
vorazes, devorando, por sua vez, seres menores que ele.
Passados cerca de dois anos em que viveu junto do leito de
cascalho onde nasceu, o salmão, com cerca de 10 cm de comprimento
e 100 g de peso, parte em direcção ao mar, mas parece relutante pois
mantém a cabeça voltada para cima, como que lutando contra o
instinto que o impele rio abaixo.
Quando sente a água salgada, o peixinho não hesita mais:
volta-se, dirige-se para o mar e desaparece sem ninguém saber para onde
vai.
Mas, se sobrevive, após um intervalo que pode durar um ou cinco
anos, regressa invariavelmente ao rio onde nasceu com uma
extraordinária mudança. Quando saiu para o mar era do tamanho de uma
sardinha; agora, após um ano apenas, tem 45 cm de comprimento e 4,5
kg de peso; se passou mais tempo no mar pode pesar 27 kg ou mais, tornando-se um grande peixe prateado.
O salmão começa, então,
a subir o rio em direcção ao leito de
cascalho onde nasceu, vencendo a corrente e as quedas de água, que
transpõe num salto.
Chegado o mais perto possível do local onde nasceu, o salmão começa
a acasalar-se.
A fêmea nada então rente
ao leito de cascalho e abana violentamente a cauda, cavando assim um fosso de 30
a 45 cm
de profundidade e nele expele os ovos. Quando os ovos caiem no fosso
o macho cobre-os com uma nuvem de esperma e a fêmea
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empurra então o cascalho cobrindo os ovos. Em seguida repetem o processo chegando
a fêmea a pôr cerca de 20.000 ovos.
Os salmões do Pacífico sempre morrem
após o acto da reprodução, mas os do Atlântico às vezes conseguem voltar
ao mar e aí
se refazem voltando ao rio para desovar novamente.
Chegando a altura própria os peixinhos saem dos ovos e o
ciclo recomeça.
É isto o que se conhece sobre a vida do salmão, mas mais curioso é o que se desconhece.
Onde esteve o salmão e que fez durante
os anos em que permaneceu no mar?
Como encontra o salmão o caminho de regresso através de
centenas ou milhares de quilómetros até ao mesmo rio e ao mesmo
leito de cascalho onde nasceu?
Não há respostas positivas para estas perguntas, embora tenham
já surgido várias hipóteses para tentar explicar estes mistérios.
Um naturalista inglês, George Rees, é de opinião que os salmões
do Atlântico vão para o Oceano Árctico onde a vida marinha é abundante e ali permanecem sob vastos bancos de gelo, o que explica o crescimento fenomenal do salmão e o facto de poucos serem vistos
no mar, apesar de, hoje, todos os mares serem conhecidos. A vida
no mar depende dos sais nutritivos que fluem do fundo em vagas ascendentes, sendo estas abundantes na região árctica; destes sais se
nutrem
seres vegetais unicelulares, que por sua vez nutrem os animais
microscópicos que constituem o plâncton; destes se alimentam os pequenos crustáceos; dos crustáceos se alimentam os peixes.
Aí se reúnem
os salmões dos rios europeus e americanos comendo prodigiosamente.
Para o segundo mistério nunca foi dada uma explicação satisfatória. Este instinto de regressão é observado também noutros peixes
como, por exemplo, a truta e a enguia. No entanto, de cada mil peixinhos desovados só um salmão adulto regressa em virtude dos
numerosos inimigos que o perseguem. |