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farol n.º 16 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, pág. 7.

Eu vi a solidão!

Maria José Soares
(5.º ano)
 

CAÍA uma chuva miudinha naquela tarde de Inverno sombrio. Na rua deserta, as árvores descamadas, braços erguidos a Deus em muda prece, olhavam as casas cinzentas, mais cinzentas ainda pelo chumbo do Céu. As poças de água da calçada reflectiam imagens fantásticas, dum mundo longínquo, dum mundo irreal!...

E foi então que ele passou, metido no sobretudo escuro, mãos nos bolsos, olhar vazio, ele passou...

E as pedras que gemeram sob o seu andar, e as árvores que o olharam nada sentiram... Um olhar vazio, sombrio, um sorriso irónico que se desfez numa dor de alma... E uma lágrima rebelde, estúpida, caiu e misturou-se com a chuva miudinha que caía naquela tarde de Inverno sombrio...

Tinha passado a Solidão, estranha Solidão na verdade, na figura dum jovem de olhar distante... Foi num minuto mas foi um século... e as árvores continuaram mudas, de braços erguidos a Deus...

 

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08-06-2018