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farol n.º 13 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, pág. 18.

Um homem que passeava...

Rui Marques
(3.º ano)
 

Um homem passeava numa rua. Uma rua igual às outras, com cafés, prédios, novos e velhos, tabacarias e ao fundo, na esquina uma Igreja.

Do princípio do dia vinha a solidão. Uma solidão que enchia a rua, as pessoas absorviam, pairava sobre os telhados um céu negro, sem luz.

Mas o homem não notava nada, nem sequer estava triste. Ria, ria baixo sem vontade, cinicamente, olhando as pessoas de lado com os olhos negros e brilhantes. E as pessoas que passavam por ele afastavam-se temerosas e iam falar baixo para a frente da Igreja, e olhavam de vez em quando para cima, para o cimo da rua, onde o homem passava e ria.

De repente o homem parou.

Olhou para a parte de baixo da rua, para a Igreja, onde as pessoas, que desciam a rua, iam conversar. Olhou para os cafés onde poucas pessoas havia, fumando, com o café à frente, olhou para a tabacaria onde uma rapariga vendia revistas debruçada sobre o balcão. Começou subitamente a descer a rua. As pessoas pararam, olhando para ele.

Quando chegou ao fim da rua, deu uma gargalhada cruel que vergastou as pessoas que o olhavam atónitas, com medo; olhou-as, uma por uma, cinicamente, com os olhos negros, riu outra vez mais alto, cinicamente, e caiu com um grito medonho.

 

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08-06-2018