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farol n.º 9 - mil novecentos e sessenta e três ♦ sessenta e quatro, págs. 8 e 9.

Outono

Alcino Reis
 

O chiar distante monótono dum carro de bois, acabou por me arrancar do sono. Entre o sonolento e o desperto levantei-me, cambaleando e fui abrir a janela do meu quarto.

Estremeci e despertei completamente; algo se passava ao meu redor; uma profunda melancolia invadia-me, cercava-me... Estupefacto perguntava a mim mesmo a razão daquela melancolia. Sim como poderia eu estar alegre se tudo quanto me cercava, as árvores, o cantar das aves, o Sol, enfim, tudo era só tristeza? Que fora feito da alegria e boa disposição que acordava comigo? Que é do franco cantar das aves, do verde das árvores, do sol quente, da brisa fresca e sadio? Qual a explicação e razão para tudo isto? – Outono...

Vesti-me; um curto passeio matinal pelos campos fazia, de há muito, parte de um programa por mim traçado. Sentei-me junto dum álamo, que fora o meu companheiro das minhas divagações de espírito na Primavera e o meu guarda do Sol ardente no Estio. Olhei para ele; o seu aspecto alegre de outrora era agora triste. Metia dó o meu velho amigo.

Continuei o meu passeio. Agora, era o alto de uma pequena colina que oferecia a meus olhos o que era um dia de Outono.

No céu não havia músico; castelos de nuvens haviam tomado o lugar às andorinhas e seus trinados; mais além a bouça verdejante está nua, pelada, e a água no regueiro deixara de contar. O Sol, o Sol amigo já não aquecia, já se lhe fora a frescura e brilho de outrora. Pequena viração sacudia agora a Natureza.
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Junto ao álamo as folhas cobriam o chão quais cadáveres de soldados juncando o seu campo de batalha. Enfim, toda a Natureza parecia querer descansar para um dia melhor.

Se bem que melancólico, o outono tem o seu quê de poesia e amadurece o pensar do mais estouvado jovem. Que belo pensamento que ela nos dá; ontem, fresca, risonha jovial! Hoje sombria, sem brilho, mesmo velha!

 

Jovens. Tomemos a Natureza como imagem da nossa vida, mas façamos coisa ainda melhor: vivamos a nossa juventude com alma, olhos postos no futuro, com alegria; numa juventude sã e confiante, para que um dia no outono da nossa vida esse outono seja saudoso, e nunca melancólico, ao primaveril rebento do nosso velho tronco.

 

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08-06-2018