José E. T. Barreto
(6.º Ano)
ALDEIA.
Noite de Verão, morna.
Céu límpido. Luar magnífico.
Um calmo silêncio, que apenas alguns ruídos longínquos e o monótono e ritmado tic-tac do relógio
interrompem.
A estreita vereda que passa pela porta da minha casa tosca
está deserta, e apenas iluminada pelo luar.
Da minha janela, na terra dura, semeada de pedras e alegrada por um
ou dois arbustos, noto bem vincados os sulcos dos carros de bois.
Mais longe, o arvoredo negro, sombras profundas, um casebre que o
luar coloriu de tons discretos – cinzento prateado, mais claro, mais
escuro, telhas dum castanho quase negro.
A nota estridente do canto dum grilo mistura-se ao bater
ritmado do relógio.
Tic-tac,... tic-tac,... tic-tac...
Um carro de bois aproxima-se. Identifico-o pelo chiar
agudo das rodas. O ruído cresce, aproxima-se. Uma mancha clara, que o
luar acinzentou – um homem. Assobia baixo. Olha-me, e murmura:
– Boas noites...
Dentro do carro, uma miudita fita-me com grandes olhos
espantados. Junto dela, um cão de olhos tristes, negros e raros, ladra
ao desconhecido. Ela passa-lhe o braço à volta do pescoço.
Submisso, o animal acalma-se.
O ruído vai-se perdendo na mornidão da noite. Tudo mergulha de novo
no silêncio, eu retomo consciência do som seco que deixara de ouvir:
tic-tac,... tic-tac,... tlc-tac...
Olho o mostrador: já meia noite!... Uma vez ainda, encho os olhos
de luar. Encosto a janela, deito-me.
Tic-tac,... tic-tac,... tic-tac... |