Acesso à hierarquia superior.

farol n.º 6 - mil novecentos e sessenta ♦ sessenta e um, pág. 17.

Apontamentos...

José E. T. Barreto
(6.º Ano)

ALDEIA.
Noite de Verão, morna.
Céu límpido. Luar magnífico.
Um calmo silêncio, que apenas alguns ruídos longínquos e o monótono e ritmado tic-tac do relógio interrompem.

A estreita vereda que passa pela porta da minha casa tosca está deserta, e apenas iluminada pelo luar.

Da minha janela, na terra dura, semeada de pedras e alegrada por um ou dois arbustos, noto bem vincados os sulcos dos carros de bois. Mais longe, o arvoredo negro, sombras profundas, um casebre que o luar coloriu de tons discretos – cinzento prateado, mais claro, mais escuro, telhas dum castanho quase negro.

A nota estridente do canto dum grilo mistura-se ao bater ritmado do relógio.

Tic-tac,... tic-tac,... tic-tac...

Um carro de bois aproxima-se. Identifico-o pelo chiar agudo das rodas. O ruído cresce, aproxima-se. Uma mancha clara, que o luar acinzentou – um homem. Assobia baixo. Olha-me, e murmura:

– Boas noites...

Dentro do carro, uma miudita fita-me com grandes olhos espantados. Junto dela, um cão de olhos tristes, negros e raros, ladra ao desconhecido. Ela passa-lhe o braço à volta do pescoço. Submisso, o animal acalma-se.

O ruído vai-se perdendo na mornidão da noite. Tudo mergulha de novo no silêncio, eu retomo consciência do som seco que deixara de ouvir: tic-tac,... tic-tac,... tlc-tac...

Olho o mostrador: já meia noite!... Uma vez ainda, encho os olhos de luar. Encosto a janela, deito-me.

Tic-tac,... tic-tac,... tic-tac...

 

página anterior início página seguinte

06-06-2018