Virgílio M. da Silva
2.º prémio (2.º ciclo)
QUE estranha sinfonia
a velha azenha
sempre de noite e dia
entoa...
que estranha melodia!
Todavia
ela é tão boa
amiga e trabalhadora,
– coitadinha –
que custa vê-la chorar
zeladora
a transformar
o grão em farinha.
E esse grão
será pão
de quem anda a mourejar
pelo campo, ao sol ardente,
para que não falte à gente
que manjar.
Coberta de musgo e d'hera,
bendita sejas avó
da mecânica que espera
dominar-te.
Serás pó!...
Serás quimera...
E esquecida e triste e só
(Como eu era
e como eu sou)
ficarás em vão à espera
do moleiro que abalou.
Mas a sinfonia estranha
(estranha melancolia)
que o teu labor acompanha,
dar-te-á a primazia
perante nós – os amantes
daqueles reinos distantes da poesia. |