Emília Gomes de Carvalho
NÃO
chores mais, Margarida.
Como é que no teu olhar
Pôde triste, despontar
Uma mágoa indefinida?
Como sonhaste esta dor?
Como pudeste saber
Este meu triste viver?
Não, criança, não é amor.
É coisa pior, ainda:
É uma esperança de nada;
É desespero que enfada;
É uma ambição infinda
De mar amplo, céu aberto,
De almas simples e sinceras,
De vãs, de loucas quimeras,
Corações a descoberto!
Mas porque sofres assim?
Eu não mereço esse amor.
Eu não mereço que a dor
Devore senão a mim.
Oh! Não! Sorri para a vida!
Enxuga o teu doce olhar,
Abre os lábios num cantar,
Não chores mais, Margarida.
LANA |