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farol n.º 1 - mil novecentos e cinquenta e sete ♦ cinquenta e oito, pág. 20.

Um Sonho

Emília Gomes de Carvalho


NUM sonho mavioso, de encantar,
Vi eu uma figura rutilante:
Um olhar lindo, azul, muito brilhante.
Leves asas batendo sem parar!


E a figura angélica desceu;
Parou junto de mim, tomou-me a mão,
Levou-a de mansinho ao coração
E o seu olhar tão meigo entristeceu.

Então, senti bater muito apressado
Aquele coração tão pequenino.
Descerraram-se os lábios do menino,
Num tom de nostalgia repassado:

Era infeliz, vivia em amargura
No seu palácio de ouro e de cristal;
Descera lá de cima e num mortal
Procurava os encantos da ventura.

Agora, recordando o sonho lindo,
Embala-me tristeza negra e fria,
Enquanto uma contínua nostalgia
Invade a minha alma e a vai cobrindo...

Um ente do eterno firmamento,
Onde dizem que há luz e felicidade,
Vive triste, suporta a crueldade
De duro e desolado sofrimento!

E ouso eu então, fruto da terra,
Tentar a felicidade do infinito,
Lamentar-me, lançar a Deus o grito
Do desejo de paz que o mundo encerra?!

Não desças do teu leito de alva luz
Criança de olhos lindos, cor do céu.
Que prazer te hei-de dar? Tudo o que é meu
É choro, desespero e amarga cruz!....

                                                             LANA

 

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04-06-2018