Zé
Augusto, poeta do barro. José Augusto Ferreira dos Santos, de seu nome
completo, nasceu em pleno bairro da Beira-Mar, nos idos anos 30 do
século passado. Cedo percebeu que a sua arte era a cerâmica, a sua vida
o barro. Neto e bisneto de marnotos, não teve em nenhum ascendente que
lhe transmitisse o vírus bem benigno da arte. Como ninguém sabe
imortalizar os seus conterrâneos, moldando-os tão minuciosamente que
fazem dele o expoente máximo nessa difícil arte. Santa Joana, S.
Gonçalinho, marnotos, salineiras, moliceiros. Cagaréu de gema, reproduz
como ninguém e com a alma de quem nasceu na Rua do Vento, uma das muitas
que "moram" no seu bairro. À sua oficina vamos muitos, para admirarmos
as inúmeras peças que por lá existem.
Artesão
ou artista? A ténue linha, que na minha opinião divide esta fronteira,
em Zé Augusto não existe. E sinceramente também não me preocupa. Numa
altura em que vemos tantos "artistas" a exporem em diversas Galerias,
dá-nos gosto ver a obra deste aveirense ilustre.
Quem como
ele tem levado o nome de Aveiro por esse mundo fora? Nem ele sabe onde
existem obras suas. Espalhadas um pouco por toda a parte, com ele vai a
memória colectiva deste povo, à beira-rio plantado, com o som das
gaivotas, misturado com o bater dos remos na água, que faz desta terra a
cidade dos canais, rainha dos ovos moles, a terra desse grande Homem,
artista inconfundível, personalidade de grande relevo, não só entre os
seus pares, como também em toda a comunidade.
A Câmara
Municipal de Aveiro já o reconheceu. Em 1998 foi condecorado com a
Medalha de Prata da Cidade. No dia 12 de Maio. Dia do Município, dia de
Santa Joana, a padroeiro que ele tão bem sabe modelar.
Carlos Campos |