Construído em 1955 nos
Estaleiros Navais de Viana do Castelo, é justamente no mesmo local que
este navio hospital actualmente se encontra, uma vez terminado o seu
período de vida activa. Hoje é um Navio Museu, graças à Fundação criada
com o seu nome, que o trouxe para a terra onde foi construído e o
recuperou, tornando-se actualmente um ex-líbris da cidade.
Vejamos a sua História,
recorrendo à documentação que é fornecida a todos os que o visitam. Será
com o apoio desta base documental que iremos fornecer aos que se
interessam pelo nosso património, nas páginas do espaço colectivo
«Aveiro e Cultura», uma reportagem fotográfica do Navio Hospital Gil
Eanes. Esta constitui não só uma forma de divulgação de um
interessantíssimo museu, que vale a pena visitar, mas também um
complemento ao espólio documental recentemente disponibilizado,
relacionado com uma das maiores empresas de pesca de Portugal, a E. P.
A., a Empresa de Pesca de Aveiro.
O Navio Hospital Gil
Eanes foi construído em 1955 tendo em vista uma missão específica:
dar apoio à frota bacalhoeira portuguesa nos mares da Terra Nova e
Gronelândia. Todavia, não ficou limitada a isto, uma vez que, para
além da assistência médica a todos os pescadores e tripulantes,
desempenhou outras funções, tais como navio capitania, transporte de
correio, navio rebocador e quebra-gelos, e, não menos importante,
serviço de reabastecimento de mantimentos, de redes, de isco e de
combustível aos navios da pesca do bacalhau.
A
partir de 1963 as suas
funções foram ampliadas,
passando a fazer outros serviços, tais como viagens de comércio,
como navio frigorífico e transporte de passageiros, nos períodos de
pausa entre as campanhas de pesca, de forma a melhor rentabilizá-lo
do ponto de vista funcional e económico.
A última viagem do Gil Eanes
para assistência à frota bacalhoeira portuguesa ocorreu em 1973, porque,
após 1974, toda a frota pesqueira começou, aos poucos, a desaparecer,
estando actualmente quase extinta. Muitos dos barcos existentes foram
abatidos e condenados ao desaparecimento. Outros, com mais sorte, foram
vendidos quase ao desbarato e continuam ainda a navegar com outros nomes
e sob bandeiras estrangeiras. Lembremo-nos, só para darmos um exemplo
concreto, do caso do atuneiro da E.P.A., o «Tunaçores», adquirido pelo
capitão Cristiano da Rosa e rebaptizado com o seu nome. Em Março de 1998
foi fotografado por Valéry Chérevoz, atracado no porto de Lautoka, nas
ilhas Fidji.
Voltemos ao Gil Eanes. A sua
última actividade foi uma viagem diplomática ao Brasil como embaixada
flutuante de Portugal, nas recepções oferecidas pelo então embaixador, o
Professor José Hermano Saraiva.
Após uma paragem de 18
meses, em 1975 retomou a actividade como navio comercial frigorífico. De
País pescador de bacalhau, tornámo-nos importadores deste produto. E o
Gil Eanes, ao serviço da Comissão Reguladora do Comércio de Bacalhau,
passou a efectuar o transporte de bacalhau seco da Noruega. Ainda em
1975, foi também requisitado pelo Governo Português para, como navio
hospital que era, ir prestar apoio às populações, na fase final do
processo de independência de Angola. Uma vez em Angola, voltou a ser
armado para viagens comerciais, tendo navegado pela Noruega, Canadá,
Nova Inglaterra, África do Sul, República dos Camarões e Espanha, com
paragens temporárias de manutenção nos Estaleiros de Viana do Castelo e
Aveiro.
Em 1984 findou as suas
actividades, tendo andado, qual animal açoitado, de cais em cais no
porto de Lisboa, até ser vendido a um sucateiro para abate em 1997,
quando já se encontrava bastante degradado e sem muito do seu material
que o apetrechava, que, aos poucos, foi parar a mãos alheias. E teria um
fim deplorável e completamente inglório, se a cidade de Viana do
Castelo, através da sua edilidade, não se tivesse mobilizado para o
salvar e resgatar da sucata.
Em 1998 recebeu profundas
obras de reabilitação nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, com o
apoio de várias instituições, empresas e cidadãos, passando a ser
propriedade da Fundação Gil Eanes, constituindo, como anteriormente
dissemos, o maior ex-líbris da cidade, podendo e devendo ser por
todos nós visitado, quando nos deslocarmos a esta bela cidade do norte
de Portugal.
Não podemos terminar este
texto sem deixar aqui expresso o nosso agradecimento ao responsável pela
manutenção do barco, que nos facultou uma minuciosa visita à casa das
máquinas, mostrando-nos partes não acessíveis aos visitantes e
explicando-nos as suas funções. |