Ezequiel Arteiro, Palavras que eu canto,  1ª ed., Aveiro, O Nosso Jornal - Portucel, 1984, 96 pp.

António Sérgio

 

Se houve um homem despegado
dos bens materiais, condenador
da ganhuça, desprezador do vil metal...
— esse homem foi ANTÓNIO SÉRGIO.

  

António Sérgio, algum dia
Durante a vida, pensou
Qu'a sua fotografia,
Depois da sua morte, iria
Chegar aonde chegou?!

Por sempre ter condenado
O rico que tudo come,
Sem se lembrar qu'a seu lado
Há sempre um desventurado
Que morre por passar fome, 

Teve que sofrer, com paixão,
Na vida, certos revezes
E feroz perseguição
Que, pela mesma razão,
Sofreram mais portugueses!

Parece até ficar mal
Trazê-lo gravado agora
Nas notas de Portugal
— Das mais ricas por sinal!
E ser perseguido outrora.

Seria mais pertinente
Em notas das mais baixinhas...
Porque as outras, certamente,
Vão às mãos de alguma gente,
Mas nunca às mãos pobrezinhas.

Oh Sérgio! Oh Alma Nobre!
Foste um «cristão» verdadeiro:
Defendeste sempre o pobre,
Honra que ninguém te encobre
Nem pintado no dinheiro!

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