Paisagem de Águeda

«Aqui Águeda!... a terra mais linda de Portugal».

Alameda de ParedesQuando as emissoras particulares podiam trocar impressões técnicas entre si, levando as conversas até ao estrangeiro, era assim que um ilustre oficial do nosso Exército, – espírito insatisfeito de homem culto, ansioso sempre de maior cópia de conhecimentos, era assim que ele continuamente se exprimia, através dos ares, repisando com firmeza inabalável as palavras do seu amor e da sua admiração: – «Aqui Águeda !... a terra mais linda de Portugal».

Se a beleza desta terra fosse cantada somente pelos que aqui nasceram, com o nosso oficial, não poderíamos tomar tanto à letra as expressões de carinho e encantamento desses seus filhos. Era natural a ternura, o entusiasmo, e até o exagero na descrição. Mas Águeda é realmente bela, porque todos a admiram incondicionalmente.

Um poeta de há cinquenta anos, em versos de adorável ritmo e simplicidade, chamou-lhe «Águeda-a-linda». E um grande político desse tempo, quando pela primeira vez usou da palavra no parlamento, foi para exaltar apaixonadamente a terra de Águeda, que ele adorava, nos seus costumes e na sua paisagem. Falou nos dois rios, o Agadão e o Alfusqueiro, comparando-os aos dois partidos políticos que então se revezavam no poder: um de águas claras e transparentes, indo alegremente ao seu destino; outro de sombrio aspecto e águas turvas, incerto no seu rumo. – E foi por aí fora, o / 96 / notável político, procurando similis na sua terra, para a lembrar uma vez, duas vezes, sempre em ataque aos adversários, mas com um nobre e natural aprumo, uma elevação simples e primorosa, que faziam do seu trato um raro encanto, para sempre lembrado pelos seus amigos, e nota predominante da sua personalidade.

Recanto poético no rio ÁguedaEstes dois rios, que vêm serpenteando das alturas do Caramulo, murmurando e cantando, mas às vezes também em clamorosa jornada, juntam-se aqui perto, e entram na campina sossegadamente, como bons amigos, arrufados temporariamente é certo, quando caminhavam lado a lado sem se avistarem, mas reconciliados enfim sob o nome prestigioso de rio Águeda. E por um singular trabalho de decantação, a que não será estranha a acção dos personagens legendários da «Mesa-dos-Moiros», perto de Bolfiar, logo as águas ficam límpidas, cristalinas, e assim descem ao Soito, e logo depois entram prazenteiras nos cinco arcos da nossa linda ponte...

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Apesar do aparecimento de certas inscrições romanas que denunciam a existência da Eminium mais para o Sul, ainda há quem afirme, com certa autoridade, que Águeda é terra antiga, e ela mesmo se chamava a Eminium dos romanos.

Outro aspecto pitoresco do rio ÁguedaVestígios da demora dos moiros e romanos há por aí além, pelas próximas terras do nascente; mas propriamente em Águeda não há sinais da vida dos invasores. Nem os franceses, na sua passagem, deixaram rasto da sua heresia ou do seu vandalismo!

Águeda fez-se há pouco tempo. E foram os políticos no parlamento e na administração pública, que chamaram para ela as atenções gerais. Não se cansavam de a engrandecer, engrandecendo-se. Todos os pretextos serviam para a levantar bem alto nos seus escudos: o célebre comício contra os Regeneradores; as formidáveis Festas-do-Alpoim; as diversões regionais; as festividades religiosas, etc, etc. E os forasteiros, surpreendidos e gratos, iam louvar nas suas tertúlias, ou nos jornais e revistas das grandes cidades, os encantos, as belezas recônditas desta linda terra.

Mas, se Águeda era uma linda e hospitaleira terra, há cinquenta anos, quando em lugar de cafés, pensões e hotéis, tinha apenas tabernas e estalagens, – o que não será ela agora, com mais este meio século de existência?

Passam os anos, e as pessoas vergam e morrem. Mas para as vilas, cidades e aldeias, os anos passam e elas prosperam, alindam-se e asseiam-se. Águeda, lançada na correnteza dos melhoramentos gerais, não podia ficar isenta dos grandes benefícios...

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Disse Ramalho Ortigão que não havia praia mais linda que a Figueira da Foz. Permitam que imitemos o insigne escritor, dizendo: – Quem ainda não visitou Águeda não conhece a terra mais linda de Portugal.

Armando Castela
 

 

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