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De Aveiro a Angeja e Angeja a Estarreja

De Aveiro a Angeja (10 km. E. pela E.N. n.º 8-1.ª).

Saindo de Aveiro pela Avenida Central (1), volta-se à esquerda a atingir-se a estação do caminho-de-ferro. Transpõe-se, por uma passagem de nível, a linha do Norte e entra-se na extensa rua suburbana que liga Aveiro a Esgueira.

No séc. XII fazia parte das terras do Infantado, pelo testamento contestado de D. Sancho I (pág. 133). D. Afonso IV confirmou o foral, que já possuía, em 1342 e D. Manuel deu-lhe foral novo, em 1515. Cabeça de comarca extensa, sustentou um prolongado pleito com Aveiro. Pouco resta do seu passado de nobreza municipal, além do pelourinho (monumento nacional), rematado por uma esfera armilar e da igreja matriz (construída em 1680). Aveiro, por fim, venceu-a e assimilou-a. A ria estendia outrora um dos seus braços até seus pés. As escavações realizadas junto dela, a Noroeste, para construção do viaduto do caminho de ferro permitiram descobrir restos de cavernames de navios de tipo latino, que confirmam a tradição da importância do porto lagunar extinto.

Como último resíduo do primitivo braço da ria subsiste hoje, talvegue do vale colmatado, um insignificante esteiro apenas navegável para os pequenos barcos de fundo chato. Ao cruzar-se o valezinho rústico que substituiu a remota reentrância avista-se, num relance, à esquerda, a ponte do caminho-de-ferro, e à direita um verdejante trecho de arvoredo. Em seguida a ria esconde-se. Alguns velhos eucaliptos (sobreviventes do grande número existente antes do vendaval de Fevereiro de 1941) balizam e ensombram a estrada.

À direita, por estrada municipal, poderia visitar-se a pateira da Taboeira.

Sucede-se a longa povoação de casas térreas e brancas de Cacia, antiga vila, situada a pouca distância da margem esquerda do Vouga.

Junto da povoação descobriu-se em nossos dias um pequeno oppidum luso-romano, com os restos de uma torre. Acharam-se âncoras, correntes de ferro e objectos de cerâmica, que foram recolhidos no museu regional de Aveiro (cf. Alberto Souto, Estação Arqueológica de Cacia, 1936). Desses achados tem-se inferido a existência remota de um braço marinho que iria possivelmente (segundo o Prof. Amorim Girão) até à confluência do Vouga e do Águeda. Na localidade subsiste a tradição de à terra terem abordado, em outros tempos, navios.

A Oeste da povoação, servida por estrada municipal, até Vilarinho, com o solar dos Couceiros da Costa, cujo morgadio foi instituído em 1445.

No extremo Nordeste de Cacia transpõe-se a *ponte de cimento (11 tramos, de 262 metros de comprimento) recentemente construída sobre o Vouga, em substituição de outra de madeira. Vista agradável, para um lado e outro dos seus parapeitos, perante a / 544 /  largueza do rio e das suas margens baixas, debruadas por tufos de salgueirais. Depois da ponte, a estrada segue, sobre um talude ao longo da margem direita do rio, sob a protecção de duas longas cortinas de folhagem (cfr. pág. 60). Ao cabo da extensa alameda (10 km.) entra-se na povoação de Angeja, cabeça de concelho antigo (foral de 1514), extinto em 1855. Pertencia aos condes de Vila Verde, depois (1714) marqueses de Angeja. A igreja matriz de N.ª Sr.ª das Neves é um espaçoso templo de três naves, com a fachada inteiramente revestida de azulejos.

A 26 de cada mês, importante feira de gado.

Por virtude da sua situação dominante (um dos raros pontos de passagem do Vouga inferior) travou-se junto dela, em 1919, um combate entre as colunas realistas de Paiva Couceiro e as forças do governo republicano, que terminou desfavoravelmente para os revoltosos.

A povoação é cruzada pela E.N. n.º 28-2.ª, que serve a corda litoral, de Espinho ao Vouga (Pontes de S. João de Loure).

A 4 km. S. E., Frossos nas imediações de outra pateira.

O * panorama abrangido do alto da povoação para a vasta superfície dos arrozais e das águas do Vouga e da ria não deve perder-se na pressa costumeira das jornadas ao nosso tempo.
 

De Angeja a Estarreja (2) (8 km. N., pela E. N. 28-2.ª).

Seguindo de Angeja para o Norte, pela estrada a paralelepípedos que vem de Aveiro, encontra-se, a 6 km, a aldeia de Fermelã, a primeira povoação do concelho de Estarreja, que se estende por uma colina circundada pela estrada ao poente. Do alto dessa elevação, denominada de S. João, ou Viacova, descortinava-se a lindíssima paisagem da várzea de Angeja e a leste, a ria de Aveiro e as terras murtoseiras e de Estarreja. Ali existiu, na parte mais elevada, uma casa solarenga, que pertenceu a Francisco Lourenço de Almeida, que foi, durante o cerco do Porto, presidente da Relação. Incendiada por adversários políticos do proprietário, nada resta hoje no solar.

A seguir, há, à direita, a várzea onde edificaram a igreja da freguesia, (3,8 km.) e mais adiante a povoação de Canelas, de nenhum valor turístico (a 1,840 km., apeadeiro do caminho de ferro. Ali nasceu, em 1763, o poeta Francisco Joaquim Bingre, assaz esquecido, que pertenceu à Nova Arcádia com Bocage, José Agostinho de Macedo, Curvo Semedo e muitos outros, e onde usou o nome de Francélio Vouguense. Bingre foi chamado o Cisne do Vouga. Morreu octogenário e na miséria. A maior parte da sua obra ficou inédita.

A 5,2 km de Angeja, a rica e populosa freguesia de Salreu, com campos férteis, sendo as baixas aproveitadas na cultura do arroz (a 1 km à esquerda fica o apeadeiro de caminho de ferro). Assenta nas ravinas do antigo couto de Antuã. Aqui teve solar a família Bretiandos; esse solar encontra-se hoje muito danificado. Camilo refere-se a Salreu no Olho de Vidro. Junto à igreja matriz, vasta, com 3 naves, mas sem obras artísticas de valor, existe um magnífico plátano, de tronco com 4 metros de circunferência e de avantajada copa. No largo há um busto do Visconde de Salreu, que edificou uma grande escola no centro da aldeia e dotou o concelho de Estarreja, no limite desta freguesia e junto à vila, com um grande Hospital, que encontramos dentro em pouco.

Do largo da Igreja de Salreu destaca-se, à direita um ramal da E.N. n.º 28-2.ª para (6,3 km. Este) Albergaria-a-Nova, (3,5 km.) Soutelo, que vai encontrar, junto da estrada do Vale do Vouga daquele nome com a E.N. n.º 10-1.ª de Lisboa ao Porto.

No lugar de S. Martinho, há uma capela erigida à Senhora das Dores, que oferece certo interesse, e na encosta que, do lado esquerdo / 545 / do rio Antuã, se eleva em frente à vila de Estarreja, e à qual conduz uma estrada municipal; à direita, outra ermida, de despretensiosa construção, toda caiada de branco, a Senhora do Monte, que serve de ponto de referência aos que navegam na ria e aos pescadores que levam as redes ao mar. É ornada de cantaria e muito antiga. Do seu adro goza-se um vastíssimo e formoso panorama. Em torno da capela, estabeleceu-se um florescente agregado populacional que possui uma boa escola, também mandada construir pelo benemérito Visconde de Salreu. Romaria a 15 de Agosto.

Descendo para o rio Antuã, encontra-se, a cerca de 2 km., o referido Hospital, onde há um "Ninho de Pequeninos» da iniciativa da Junta da Beira Litoral, um asilo de velhos e algumas enfermarias em actividade. Depois, atravessa-se a ponte de alvenaria que dá acesso a Estarreja...

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(1) – Hoje ligada ao nome do médico Lourenço Peixinho (morreu em 1943), presidente do município durante 25 anos e, desde 1910, o propulsor dos maiores empreendimentos de urbanização da cidade.

(2) – Por EGAS MONIZ e RAUL PROENÇA.
 

 

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