Acesso à hierarquia superior.

▪ Emprego do tempo

▪ Itinerário e descrição

▪ A Ria na cidade

▪ Igreja de S. Gonçalo


Emprego do tempo

A cidade e a ria requerem, pelo menos, dois dias para serem conhecidas. No 1.º dia; de manhã: ida à Costa Nova e subida ao Farol, na Barra; de tarde: ao Museu e principais templos da cidade: igrejas da Misericórdia, dos Carmelitas, de S. Domingos e do Senhor das Barrocas. No 2.º dia, de manhã (cedo): excursão (de gasolina) pela ria, indo, por exemplo. a S. Jacinto ou Murtosa; de tarde: ida (de automóvel) à fábrica de porcelana da Vista Alegre e, no regresso, Ílhavo. (interessante museu municipal de etnografia marítima). Visita ao Parque Municipal de Aveiro.
 

Itinerário e descrição

Do largo da Estação (PI. n.º 5) saem três artérias: duas para oeste e uma para noroeste. Esta última é a Rua do Almirante Reis, na qual se vê o Quartel de Cavalaria n.º 5. Das outras duas, a mais ao sul, a Rua do Americano, leva ao edifício do Dispensário da Assistência Nacional (à direita), / 477 / ao dos Serviços Municipalizados da Distribuição Eléctrica (à esquerda), e ao esteiro da Fonte Nova, que prolonga a sudeste, o canal da cidade até junto da via férrea. A artéria mais larga que sai do largo da Estação, a do meio, é a Avenida Central, ao fundo da qual se eleva o Monumento aos Mortos da Guerra de 1914-1918 (PI. n.º 11), bronze de José de Caldas. À esquerda, o novo Mercado, o edifício da Comissão de Turismo, (serviço de informações), a sede da Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro, e a Capitania no Porto.

A Avenida Central converge com a Avenida de Bento Moura, junto da doca do Cojo, no extremo do canal da cidade. Logo após é a Arcada, ponto de reunião mais frequentado da cidade, com cafés, restaurantes e o Arcada-Hotel.

 

A Ria na cidade (1)

A Ria comunica com a cidade por três canais: o das Pirâmides, o de S. Roque e o dos Santos Mártires ou do Matadouro.

Do canal das Pirâmides (assim chamado por ladearem a sua entrada, na Cale da Vila, duas pirâmides de pedra), diverge para leste, formando com ele um ângulo obtuso, o canal central de S. João ou da Cidade, que alargando no seu extremo forma a doca do Côjo; desta doca segue, pelo vale que sulca a cidade, o esteiro da Fonte Nova, até à grande fábrica de cerâmica de J. Pereira Campos, Filhos. No canal da Cidade e no esteiro da Fonte Nova concentra-se principalmente o tráfego fluvial de combustíveis, materiais de construção, adubos químicos, produtos agrícolas e manufacturados, bacalhau seco proveniente das secas da Gafanha, sal e mercadorias diversas. Do canal das Pirâmides sai também para noroeste, o canal de S. Roque, que limita a cidade por noroeste, separando-a das salinas. Comunica com este último canal a Ria por vários esteiros, e dá acesso ao cais dos Mercantéis, doca rectangular com o mercado de peixe ao fundo (PI. n.º 9), onde se concentra o tráfego do pescado proveniente da laguna e de várias praias de pesca marítima (2). O canal de S. Roque está ligado à estação de caminho de ferro por dois ramais – via larga e via reduzida – e por estrada; concentra-se nele o transporte fluvial de sal para ser exportado por terra. Do vértice do ângulo que o canal da cidade faz com o das Pirâmides, sai para Sudoeste o canal dos Santos Mártires ou do Matadouro, até ao largo do Paraíso, e comunica com a Cale da Vila e com a Cale de ÍIhavo; há na margem sul deste canal duas docas para serventia das fábricas de serração e da fábrica de moagens, e na margem norte outra doca para as embarcações da Capitania do Porto e Matadouro Municipal. O canal das Pirâmides e o canal da Cidade são limitados lateralmente por muros de alvenaria argamassados, com guarda de cantaria. No séc. XVII a profundidade destes canais ainda permitia o acesso a navios de alto bordo, constituindo o porto comercial da vila. No séc. XVI o tráfego de sal era muito intenso e as portas da muralha da vila do lado do mar ficavam abertas durante a noite, para que não fosse interrompido o serviço da carga e descarga dos / 478 / navios. Ignora-se a data da construção do antigo cais; sabe-se que em 1680 a Câmara foi autorizada a lançar um imposto por três anos para ocorrer às despesas da sua reconstrução. De 1810 a 1816 mandou-se proceder à sua reparação e limpeza; em 1857 as suas muralhas estavam em completa ruína; a reconstrução, na extensão total de 2145 metros, foi dirigida pelo eng.º S. Augusto Pereira da Silva e ficou concluída em 1872.

Sobre os canais estão lançadas as seguintes pontes; sobre o da Cidade, as duas pontes dos Arcos, a do nascente antiquíssima, e a do poente construída no meado do século passado; na entrada do canal de S. Roque, a ponte de S. Gonçalo e na entrada do canal dos Santos Mártires a ponte da Dobadoira, construídas também no meado do século passado. Em frente à rua das Barcas, está projectada a construção duma nova ponte, em cimento armado, com parapeitos de balaústres, de 4 metros de largura, sobre o canal da Cidade, projecto do eng.º Domingos Martins de Lima e do arquitecto Júlio Marques Sobreiro, fazendo-se o acesso a ela por duas escadarias laterais. No ângulo formado pelo Canal das Pirâmides com o Canal da Cidade, está situado o Rossio, onde se realiza a tradicional feira anual de Março.

Na margem esquerda, junto das pontes dos Arcos, está situada a Praça Luís Cipriano, antiga Praça da Fruta e, a partir desta, segue pela mesma margem a rua Cinco de Outubro, lugar da feira da madeira (19 de Março, dia de S. José).

No dia da abertura da feira de Março realiza-se, em frente, no Canal da Cidade, a curiosa feira dos barcos.
 

Igreja de S. Gonçalo

Seguindo pela Arcada e pela Rua dos Mercadores (à direita casa com lápide comemorativa do nascimento de José Estêvão), atinge-se a igreja de S. Gonçalo(3), (PI. n.º 7), matriz da freguesia da Vera Cruz (da Apresentação), construída em 1606, sem valor arquitectónico, que apresenta, no entanto, um bom conjunto de talhas barrocas, dos fins do séc. XVIl ou princípios do XVIlI: são os retábulos laterais (o da epístola foi restaurado à volta de 1880) e da capela-mor, e ainda os florões da abóbada da nave. Na decoração da capela-mor (com abóbada apainelada) é flagrante a influência da igreja de Jesus (pág. 483). Na capela baptismal, uma figuração da Trindade, obra graciosa esculpida em barro, bem estofada, do séc. XVIlI.

Pode chegar-se à mesma igreja seguindo da Arcada pela Rua de José Estêvão, voltando no seu extremo para a esquerda. Daí a Rua de D. Jorge de Lencastre e depois a de António Rodrigues levam à capela de S. Gonçalinho, em pleno bairro piscatório, perto do Cais dos Mercantéis, junto do Mercado ou Praça do Peixe (PI. n.º 9). Vê-se aí o Canal de S. Roque. Está projectada a construção dos portos de pesca e de comércio nas marinhas que bordam a / 479 / margem norte do Canal. É interessante a visita do bairro piscatório, onde se podem observar alguns belos tipos da população regional. Dois ramais de via férrea, um de via larga, outro de via reduzida, ligam o canal à estação do caminho de ferro do Norte e do Vale do Vouga. (À beira do ramal de via larga, encontram-se fábricas de cerâmica aveirense e de mosaicos). Atravessa o canal uma ponte de madeira que permite visitar algumas das marinhas da borda, somente em laboração no Estio. Contornando o cais dos Mercantéis e seguindo para oeste pela margem do canal das Pirâmides (pág. 477), de cima da qual se pode avistar a grande extensão da zona salineira e, voltando para o sul, encontra-se o Rossio, vasto campo banhado a sudoeste pelo canal das Pirâmides e ao sul pelo canal da Cidade. Saindo do Rossio para leste, pela Rua de João Mendonça, encontram-se a Praça de Joaquim de Melo Freitas, a Arcada e as pontes dos Arcos que na Rua de Viana do Castelo dão acesso ao Largo de Luís Cipriano. Daqui, pela Rua de Coimbra, entra-se na airosa Praça da República, ladeada pelos edifícios do Liceu Central de José Estêvão, Teatro Aveirense, Paços do Concelho (séc. XVIll) e igreja da Misericórdia, e ao centro da qual se eleva a estátua de José Estêvão (1809-1862), inaugurada em 1889. A estátua, fundida no Arsenal do Exército, é obra apreciável de Simões de Almeida: tem movimento a figura de José Estêvão em atitude oratória; riscou o projecto do monumento João de Maia Romão (PI. n.º 13).

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(1) – Por ROCHA E CUNHA.

(2) – Na ria há outros mercados de pesca importantes, como Ílhavo, Ovar, Pardilhó e Pardelhas (este talvez mais importante que o de Aveiro).

(3) – Por CARLOS DE PASSOS. São deste Autor todas as descrições dos templos abrangidos pelo presente itinerário e suas respectivas notícias históricas.

 

 

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