Amanhã sobre o cedo
vou, de mão leve
afagar a pedra rugosa
de mármore ou calcário
tanto faz;
quero vê-la lisa
bem trabalhada, polida
afagada,
pronta a ser sacrificada.
Para melhor se entender
o que passará a ser o que foi
a peça bruta e tosca
jazente no entulho da montanha
quero vé-la tomando forma humana:
– busto de cientista, poeta ou de
santo?
Não!
O reconhecimento desses
não necessita de estátuas
está no registo das memórias
indeléveis.
– Então de políticos?
Sim!
Precisam de estátuas,
bustos, efígies e,
até de lápides sumptuosas
para mascararem ou sepultarem a
mentira
com a ausência dos princípios.
No monólito que os representa
passarão a ser lembrados
no esquecimento e repúdio
nas mesmas proporções
da dimensão e dureza da pedra.
Agosto de 2020
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