Passeio no Parque

 

Quem hoje passar pelo parque
Outrora povoado de belas árvores
Onde a passarada em euforia
Desfiava hinos nas primaveras,
Ficará com certeza desapontado
Vendo na altivez de cada árvore
O definhar, o estiolar, e a morte
Mercê de uma moléstia sem nome
Que vai juncando todo o restolho
Com um manto opaco e tenebroso
Fazendo do parque um lamaçal
À vista de passarões empoleirados
Nos discretos e galhardos galhos
Donde vigiam as suas nédias crias
Aguardando que sejam doutrinadas
Na selectiva Academia do Paleio
E nela amanhadas com o esterco
Do cinismo com pesos, contrapesos
E o dote duma larvar inépcia seminal.

E partindo da teoria da renovação
Há por aí quem prenuncie a virtude
De uma utopia, talismã ou desígnio
Capaz de incrementar um arvoredo
A fazer roer de inveja os descrentes,
Mas há também outros, muitos mais
Que não conseguem deixar de ver
O inescrutável curador deste parque
A querer tapar o sol com a peneira.

                          Janeiro de 2022

 

 

25-01-2023