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Neste resquício de
primavera
com os jacarandás ainda em flor
e os silêncios breves a fumegarem
dum fogo submerso nas trevas,
pressinto o sonambulismo lúcido
que, não sendo nuvem nem Juno
será o cavalo rompante do Poder
sulcando umas improváveis paragens
ou à desfilada, em tácticas desaguisadas
prontas a terçar armas intangíveis
capazes de envolverem almas assustadas
numa luta ingénua, desfocada, descabida
de índole primitiva, heterodoxa e sem freio
atropelando com dolo, a ética, o ideal
e projectando assim a sua malvadez
feita de apostas amorais e mesquinhas
de mistura com as mil tranquibérnias
percepcionadas pela população inerme
mas subtraídas ao vero conhecimento
pelos fiéis apaniguados ou ajuramentados
dando por completo desse modo o ciclo
ordenado em prol da sociedade votante;
mas a insistente vibração dos rumores
e a trepidação sísmica dos murmúrios
fá-los entrar em curvas ínvias, apertadas
e, na iminência de derrapagem ou choque
como o sol nasce todas as manhãs
fingem de morto antes que faça tarde.
Junho de 2021
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