As trevas calaram os uivos dos lobos
famintos de guerra em alcateia
e adiado ficou o dobre dos sinos
assim como o trilo álacre da cotovia,
apenas nos hiatos do silêncio
se ouvem vagidos de crianças órfãs
e tímidos rumores, indícios,
suspeitas
evoluindo para murmúrios e lástimas
dão ensejo às cobras amotinadas
a procurarem refúgio para hibernar;
entrementes, do monumental asilo
sai o iracundo e psicótico Tigre,
cruza doirados portais faraónicos
que uma nova estirpe de janíçaros
em vistosa coreografia medieval,
flanqueia para o encontro, algures
com o tenebroso e astuto Dragão,
ser sibilino, melancólico, insondável
o qual, após encerrar os falcões
nos jardins do desconhecimento
onde as flores murcham em botão
se dispôs a dar cor a esta farsa;
olham-se num vazio manhoso
vão vasculhando a neblina interior
ocultando segredos, liturgias e
rituais
até se unirem num abraço flácido
na rudeza de um até breve sem data;
e à margem deste preclaro trambique,
pelos obscuros trilhos do deserto
vemos os bastardos da democracia,
nómadas intempestivos e serôdios
batidos por ondas de inconformismo,
rasteados pelos poderes fácticos,
alinhados pele constelação de Orion
e, alumiados pelo brilho da estrela
que ninguém ousa questionar
procuram o vicejo do amor fraterno.
Outubro de 2022 |