|
Escondo-me por detrás de cada
mágoa
Acoitando nela as outras mágoas
Como ladrão em fuga,
Como desgraça persistente
A ditar a tristeza no seio da alegria
Enchendo de medos e de cio, a mente
Conturbada, perturbada, confundida
Enovelada por mendicantes preces
Enraizadas num passado remoto
Tendo de há muito cruzado
O ponto de não retorno.
Escondo-me por detrás de cada fraga
Abrigando-me, aí, na dura rocha,
Ciente da fragilidade do meu esconderijo,
Porque, quanto mais m' escondo
Mais me exponho ao tormento e à sanha
De virtuais perseguições, aniquiladoras, e
Vou retomando o ciclo, sem qualquer pudor,
Caminho que foi, de há muito, iniciado
Mas que me parece ser infindo.
Sem essa certeza, vou indo,
Pois há a probabilidade
De poder vir a saber, de certeza certa,
Como tudo começa,
Onde e como tudo acaba. |