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            Dia de Feira! Na 
            aldeia reina a alegria, aliás como sempre, semana após semana, no 
            dia em
            que os feirantes descem até à aldeia escondida entre as serros verdejantes, bem 
            lá no fundo do vale. Ao lado de tanta verdura 
            parece ainda mais branca, limpa e graciosa aquela pequena aldeia que 
            visitei, quando em férias. Que sorte tive calhar a minha passagem 
            por lá no dia de feira e levar comigo alguém que bem a conhecia, 
            pois lá nasceu! 
            O dia estava quente, 
            abafante, como são os dias de Agosto na serra. 
            Mas nem mesmo aquele calor, que parecia pesar sobre todas as coisas, 
            diminuía a alegria da pequenada que olhava com
            avidez tantas coisas lindas. 
            A feira estava imponente! O largo empedrado, em que se realizava, 
            um pouco em declive, estava pejado de gente. Sobretudo a sombra apetecida das árvores frondosas convidava a dois dedos de 
            conversa e ao descanso, depois das compras. 
            Bem no meio da praça 
            erguia-se, majestoso, um antigo fontenário de pedra resistente, com três 
            bicas que deitavam a sua pouca água no tanque redondo e fundo. 
            A pequenada deliciava-se com os seus barquitos novinhos em folha. 
            Como era bom mergulhar os bracitos naquela água fresca! 
            Lá um pouco mais acima erguia-se o cruzeiro, onde os homens 
            passavam respeitosamente de chapéu na mão e onde, à sombra da Cruz, falavam com os 
            amigos naquela hora de calma. 
            A minha amiga deliciava-se à vista de tudo 
            aquilo que tão gratas 
            recordações lhe trazia, e a pouco e pouco foi-me mostrando os seus 
            conhecimentos: 
            – «Olha, vês aquele velhote 
            ali? O que tem todos aqueles tamancos, 
            vês? Pois foi a ele que comprei uns tamanquinhos pequeninos para 
            mim... Não me esqueço, a minha mãe não queria, mas o velhote 
            começou a fazer-me festas e a lisonjear as minhas tranças com 
            laços encarnados e a mãe lá se resolveu. Sim, 
            
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            nessa altura já era velho. Lembro-me tão bem como fiquei contente! 
            Vês agora aqui à frente aquela doceira com o tabuleiro cheio de 
            bolos? Pois uma vez em que o meu pai me deu vinte e cinco tostões 
            gastei-os todos em suspiros. Se soubesses como fiquei maldisposta! 
            A minha mãe ralhou comigo e o meu pai até disse que para outra vez 
            só me dava cinco tostões. Nunca mais comi
            suspiros!» 
            E assim por diante, fui entrando nos segredos de uma feira. 
            Uma mulher a vender bonecas pequeninas, bolas e tambores trazia 
            novas recordações à Teresa. Uma velhota encarquilhada e sorridente 
            até falou com ela e lhe lembrou (como se isso fosse preciso) a sua 
            birra, quando
            o irmão tinha troçado de um bocadinho de chita comprada de 
            propósito para a sua boneca nova e acrescentou logo: 
            – «Isto de rapazes... só querem bola e joelhos esmurrados, por 
            baterem uns nos outros. E eu que bem o sei...» 
            Mas o tempo foi passando e chegou a hora de dizer adeus àquele mundo 
            que enche de alegria tantos corações pequeninos ou já crescidos. 
            Até a Teresa ficou triste 
            à despedida. 
            Sim, deve trazer muitas saudades recordar 
            assim pequenos episódios 
            que encheram a nossa vida há alguns anos. 
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