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            Alcino Reis
 
            O
            chiar distante monótono dum carro de bois, acabou por me arrancar do 
            sono. Entre o sonolento e o desperto levantei-me, cambaleando e fui 
            abrir a janela do meu quarto. 
            Estremeci e despertei completamente; 
            algo se passava ao meu redor; uma profunda melancolia invadia-me, cercava-me... Estupefacto perguntava 
            a mim mesmo a razão daquela melancolia. Sim 
            como poderia eu estar alegre se tudo quanto me cercava, as árvores, 
            o cantar das aves, o Sol, enfim, tudo era só tristeza? Que fora 
            feito da alegria e boa disposição que acordava comigo? Que é do 
            franco cantar das aves, do verde das árvores, do sol quente, da 
            brisa fresca e sadio? Qual a explicação e razão para tudo isto? – 
            Outono... 
            Vesti-me; um curto passeio matinal pelos campos fazia, de há muito, 
            parte de um programa por mim traçado. Sentei-me
            junto dum álamo, que fora o meu companheiro das minhas divagações de espírito na Primavera e o meu guarda do Sol ardente
            no Estio. Olhei para ele; o seu aspecto alegre de outrora era agora 
            triste. Metia dó o meu velho amigo. 
            Continuei o meu passeio. Agora, era o alto de 
            uma pequena colina que 
            oferecia a meus olhos o que era um dia de Outono. 
            No céu não havia músico; castelos de nuvens haviam tomado
            o lugar às andorinhas e seus trinados; mais além a bouça verdejante 
            está nua, pelada, e a água no regueiro deixara de contar. O Sol, o Sol amigo já não aquecia, já se lhe fora a frescura e 
            brilho de outrora. Pequena viração sacudia agora a Natureza./ 9 /
 Junto ao álamo as folhas cobriam o chão quais cadáveres de soldados 
            juncando o seu campo de batalha. Enfim, toda a Natureza parecia querer descansar para um dia melhor.
 
            Se bem que melancólico, o outono tem o seu quê de 
            poesia e amadurece o pensar do mais estouvado jovem. Que belo pensamento que ela nos dá; ontem, fresca, risonha jovial! Hoje 
            sombria, sem brilho, mesmo velha! 
              
            Jovens. Tomemos a 
            Natureza como imagem da nossa vida,
            mas façamos coisa ainda melhor: vivamos a nossa juventude com
            alma, olhos postos no futuro, com alegria; numa juventude sã e 
            confiante, para que um dia no outono da nossa vida esse outono
            seja saudoso, e nunca melancólico, ao primaveril rebento do
            nosso velho tronco. |