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            Agostinho Vidal de Pinho(5.° ano)
 
            A
            noite era tenebrosa. Um vento contínuo e forte impelia as frondes 
            dos pinheiros e arbustos. Rodopiavam folhas no ar, agitadas por esse vento frio, que uivava 
            lúgubre. Os arbustos mais fracos vergavam e gemiam, melancólicos. A 
            maior
            parte das árvores, despidas de suas ramas, estendiam os braços 
            descarnados para o céu, como que a pedir clemência. 
            Caía neve... Flocos esbranquiçados esvoaçam no ar, arrastados pelo 
            vento gélido, que soprava ameaçadoramente. Os caminhos eram tapetes 
            fofos, brilhantes, frios... As ramarias mais altas dos pinheiros 
            brilhavam na noite. Os ramos das carvalheiras ancestrais, 
            desprovidos de folhas, tremiam; e deles pendiam leves farrapos de 
            neve. E, a cobrir tudo isto, o céu estendia o seu manto amigo 
            sobre a Natureza. A face pálida da lua luzia fraca e arrancava 
            breves cintilações aos caminhos. 
            As ovelhas tinham já há muito entrado no curral. Permaneciam 
            silenciosas, sob o olhar fiel do cão de guarda, a quem o pastor 
            tinha confiado velar pelo rebanho. De quando em quando, algum 
            cordeiro, apartado da mãe, balia, e logo o cão se movia a recomendar 
            quietude. 
            Reinava um silêncio aterrador, mas algo de estranho veio 
            perturbá-lo: os lobos. O vento tinha acalmado um pouco e, então, a 
            neve caía mais forte, produzindo pequenos ruídos. 
            Lá ao longe, os lobos uivavam... Cada vez mais próximo,
            como um perigo iminente, assim avançavam eles, para sacrificar as 
            suas vítimas. O cão de guarda, sempre fiel e amigo, 
            
            / 5 / ladrou, para despertar o seu dono, que dormia tranquilo no 
            seu leito de feno. As ovelhas moveram-se e, logo a seguir, um silêncio de morte, que os lobos perturbavam com uivos 
             
            ameaçadores. Estavam mais perto da cerca e, à medida que se aproximavam, aumentavam as suas vozes agoirentas. 
            O rafeiro, por sua vez, corria dum lado para o outro, a ladrar, debaixo dos olhares 
            fugazes da matilha. Então, uma porta 
            rangeu nos gonzos e um vulto embuçado assomou na escuridão, trazendo uma candeia e um cajado. 
            À porta da cabana de colmo, lá estava o pastor pronto a defender a sua 
            riqueza: o rebanho. O cão, a seu lado, abanava a cauda, inquieto. 
            Vários pares de olhos luminosos brilhavam aqui e ali e,  de vez 
            em quando, um uivo agudo e sonoro, que fazia gelar o sangue nas veias, cortava a noite, indo ecoar nas profundezas da serra. 
            O pastor, seguindo o seu cão, aproximou-se da cerca e, 
            então, sombras movediças romperam de todos os lados. Seguiu-se uma luta tremenda, onde o varapau e os dentes 
            agudos do cão obravam prodígios. Ao fim de longo intervalo de tempo, os lobos, vencidos, fugiram cabisbaixos, sem nenhuma presa e deixando atrás muitos irmãos mortos, que, 
            passadas algumas horas, haviam de ser devorados pelos outros lobos sobreviventes. 
            O cão e o homem regressaram à cabana e, à luz mortiça 
            da candeia, curaram as feridas provocadas no combate. 
            A manhã aproximava-se e as campainhas do rebanho 
            tilintavam docemente... O sol dentro em breve havia de iluminar de novo a serra e a vida voltava de novo, esquecendo 
            uma noite terrível... |