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            Alfredo Manuel de Serpa Magalhães[6.º Ano)
 
            
            É numas 
            águas-furtadas que vamos encontrar José Manuel, um rapaz bem constituído, alto, moreno, de
            olhos negros, sempre brilhantes, onde reina a vontade e a inteligência. 
            É rico, filho único duma família
            de comerciantes que se estabelecera na aldeia e que aí fizera
            fortuna, Tem, presentemente, quatorze anos. O pai, burguês
            incapaz de se desligar dos preconceitos familiares, não compreende, não obstante todo o seu carinho pelo filho, a vontade
            deste em estudar os problemas mais estranhos que jamais viu
            e a que tem horror e medo. Sim, ele não compreende que José
            Manuel queira ser um sábio, físico ou químico ou matemático.
 
            À sua inteligência e ao seu orgulho repulsa a ideia de ter um
            sábio na família; que fosse um comerciante, profissão honrada
            e rendosa, estava bem; que fosse um médico, ainda compreendia, pois seria estimado e ganharia bom dinheiro; agora 
            sábio!... 
            Fora num momento em que estava muito bem disposto que
            permitira que o filho tomasse conta do sótão da casa para
            aquelas malfadadas experiências. Oh!, como maldizia esse momento de 
            fraqueza, que hoje, lhe dava tantos temores! Temores, porque podia perder o seu primogénito nalguma 
            explosão (já acontecera ouvir uma e, quando fora acudir ao filho,
            este segurava um frasco na mão, do qual saíam fumos, e todo ele 
            resplandecia de alegria: Justificara-se dizendo ser a combustão 
            
            / 6 / dum tal hidrogénio, mas o coração do pai ficara em 
            sobressalto! Temores, porque podia começar um incêndio na casa que 
            lhe levasse o suor de muitos anos de trabalho. 
            Bem, era verdade que se orgulhava das palavras de 
            elogio dos colegas e dos professores, mas como podia a sua inteligência aceitar o filho como sábio, ele, descendente duma
            burguesia bem conhecida pela sua vida metódica? 
            José Manuel, entretanto, indiferente aos receios paternos,
            passa à experiência os seus conhecimentos teóricos. Neste
            momento está a tentar demonstrar as leis da queda dos graves. 
            O sótão, com os instrumentos, frascos, ácidos, pêndulos, enfim,
            com tudo o que lá meteu, comprado, com o dinheiro que recebe e economiza para esse fim, ou oferecido, está transformado
            num pequeno laboratório. 
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            Com a sua enorme força de vontade, assim como hoje
            consegue, aos quatorze anos, manter-se direito no caminho
            traçado em face do apelo da ciência, assim amanhã aparecerá
            no firmamento científico mais uma estrela de primeira grandeza,
            cujo nome é José Manuel. |