|
Na edição de
16 de Fevereiro passado, o semanário “Expresso”
dedicou algumas páginas ao escritor José Luís
Peixoto. Aí se noticia que vai viver, por uns
tempos, para os Estados Unidos, a fim de promover a
divulgação do seu primeiro romance, “Nenhum Olhar”,
publicado pela maior editora anglo-saxónica, a
Randon House. A tradução é de Richard Zenith,
tradutor de Fernando Pessoa, de António Lobo
Antunes, de José Saramago; segundo ele, este
trabalho “foi um desafio pela linguagem bíblica,
pela cadência das palavras e das frases, pela
natureza das personagens (...)”. |
|
Peixoto vai
afastar-se de nós, mas leva-nos para cada país onde
está traduzido – já mais de uma dezena. “Podemos
tirar o escritor da aldeia, mas ninguém tira a
aldeia do escritor.” (José Manuel Silva). Assim como
as suas origens estão presentes em cada texto seu,
assim também a língua portuguesa estará viva em cada
terra que habitar. Por isso, não tenho medo de
perder José Luís Peixoto.
Escritor muito
jovem, de 33 anos. Filho de uma povoação humilde no
Alentejo, Galveias, e de uma família humilde,
Peixoto é, ele mesmo, essa humildade quando escreve,
quando fala de si, quando lhe falam dos prémios que
já recebeu, ou dos países que já o chamaram, ou do
jantar, em Paris, com Umberto Eco,... |
|
Olho para esse “menino” da
literatura e vejo-o gigante entre gigantes... Acabou
agora de ganhar o prémio de poesia Daniel Faria com
“Gaveta de Papéis”, a que concorreu sob pseudónimo – o
júri escolheu unanimemente os seus textos por neles
descobrir, de imediato, o “poeta maduro” que ali se
apresentava.
Passo em revista alguns dos seus poemas, relembro os
seus romances – “Nenhum Olhar”, “Uma Casa na Escuridão”,
“Cemitério de Pianos”e o último livro de contos “Cal” –
e em cada um deles confirmo a impressão original –
encanta-me pela simplicidade das palavras, a que sabe
dar novas texturas, pela capacidade de olhar por dentro
e dizer o que nós sentimos e não sabemos dizer, pela
cadência das frases que nos obriga a seguir o seu ritmo
e a mudar constantemente de ritmo, pela ternura com que
fala dos velhos, do pai, da mãe, das mulheres, com a
bondade com que define o amor. Uma das palavras que mais
procura é a palavra “bondade”: “É uma palavra fora de
moda, mas tão bonita! A todos os níveis.” (“Expresso”,
16/02/08)
É uma escrita dura, dolorosa, triste... mas de um amargo
doce que delicia... Quando dá ao protagonista de “Uma
Casa na Escuridão” o espaço de duas páginas para dizer
297 vezes, ininterruptamente, “quero morrer”, nós somos
“obrigados” a ler esse desespero e queremos lê-lo,
porque sentimos que a personagem está a dizê-lo para nós
e exige a nossa compaixão. O que parece absurdo faz ali
todo o sentido, tinha de estar lá!
Na entrevista que concedeu a Cristina Margato, na edição
do “Expresso” mencionada, José Luís Peixoto diz de si:
«Escrevo livros, mas faço muitas outras coisas. Lavo a
loiça, vou ao supermercado, às Finanças, faço a
inspecção do carro... (...) Sou uma pessoa completamente
banal.»
Continua na pág. 7
- >>>
|