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"Patrimónios" – n.º 2, Março 2002, Ano XXIII, 2ª série, 160 páginas.


O GENERAL JOSÉ MARIA COUCEIRO DA COSTA

Brevíssima biografia

José Couceiro da Costa *
 

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Reprodução do retrato existente na sala da biblioteca do Colégio Militar.

 

«...A educação moral corôa e domina toda a educação do homem; forma o caracter, e faz frutificar a educação physica e intellectual...»
 

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Radicada em Aveiro há séculos, a família Couceiro da Costa foi fértil na "produção" de oficiais do exército. Todos eles serviram com particular zelo, dedicação e satisfação, a coroa portuguesa; de entre eles avoluma-se a figura de José Maria Couceiro da Costa, que paradoxalmente os elevados serviços que prestou à pátria foram de índole marcadamente intelectual, em detrimento de uma carreira convencional. Esta assincronia realça de uma forma marcadamente positiva a vida militar deste oficial general.

José Maria Couceiro da Costa nasceu a 06.09.1830 – Fataúnços – S. Pedro do Sul. Filho de João Couceiro da Costa(1), (n. 10.03.1807 – Campo Maior) general de cavalaria, barão de Paço de Couceiro (alvará de 28.07.1870), comendador da Ordem de Aviz, cavaleiro da Ordem de N. Sr.ª da Conceição, cavaleiro da Torre Espada, etc., etc. ... e de sua mulher, Dona Maria de Menezes de Mello e Castro (natural de Fataúnços) e filha de José de Souza de Menezes e de Dona Maria Rita de MeIo e Castro e Figueiredo.

Neto paterno de João Couceiro da Costa (n. 04.09.1773 – Campo Maior) tenente coronel de infantaria, comandante da Companhia de Veteranos da Província do Alentejo, cavaleiro da Ordem de Aviz, etc., etc. ... e de sua mulher, Dona Joana Rosa Viterbo de Mendonça Arraes e Almada (n. 1785 – Viana do Castelo).

Bisneto paterno de António Lançarote Couceiro da Costa(2) capitão de cavalos na praça de Campo Maior (n. 28.06.1746 – Cacia – Vilarinho), de sua mulher Dona Mariana Antónia Narcisa de Andrade e Castelo.

Trineto de João Couceiro Lançarote Coelho da Costa(3) administrador dos vínculos da Morraceira(4) e Vilarinho(5) (por sucessão do Rev. Pe. Pedro Couceiro da Costa) de Santa-Cruz(6) e Ceboleira(7), (por sucessão de seu pai), todos em Aveiro e seu termo, e de sua mulher Dona Tereza Quitéria de Figueiredo e Silva(8).

Em 1839 matriculou-se no Colégio Militar, em Lisboa, completando o curso em 1847 passando para a Escola Politécnica e matriculando-se também na Escola do Exército.

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Em 1856 ficou habilitado a ingressar no Corpo de Engenharia do exército, o que no entanto só o fez em 1864.

 
  A Casa de Vilarinho, em Cacia. Fotografia de 28 de Setembro de 1937. - Clicarpara ampliar.  
 

A Casa de Vilarinho, em Cacia. Fotografia de 28 de Setembro de 1937.

 

A 31.03.1857(9) toma posse da cadeira de Geografia Cronologia e História no Colégio Militar. Aos 04.02.1858(10) é nomeado, por concurso, professor de Matemática e aos 17.02.1860(11) foi provido na efectividade de Lente Proprietário da cadeira de Matemática no mesmo Colégio Militar (C.M.). Pugnando pelos interesses e direitos dos professores do C.M., expôs ao Rei, por uma petição de 08.06.1866(12), a situação discriminatória que os lentes do C.M. sofriam na sua remuneração anual relativamente aos da Escola Politécnica e da Escola do Exército; mais pedia que, caso não fosse reposta a justiça subir aos degraus do throno para entregar nas mãos de Vossa Magestade a espada, que me foi confiada para usar com honra militar, e que entrego impoluta.

Situação resolvida e já em 11.06.1866(13) o vemos a remeter ao Rei para aprovação o Compendio de Geometria Elementar para ser ministrado exclusivamente aos alunos do C.M. em virtude de os compêndios em uso estarem desajustados, pelo que solicitava a intervenção do Conselho Geral da Instrução Militar.
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A sua profícua acção na reorganização do ensino, nomeadamente no C.M., leva-o a publicar um vasto e importante conjunto de obras com Tratado de Aritmética; Arte de contar e rudimentos da Aritmética usual; Noções gerais dos sólidos geométricos; Tratado de Geometria elementar, Geometria Pura; Aplicações de Geometria elementar; Tratado de Trigonometria rectilínea; Geometria aplicada, etc., etc...

Com 37 anos de idade (27.04.1868)(14) em atenção ao seu distinto mérito, aos relevantes serviços prestados no professorado, assiduidade no magistério e a ser autor de compêndios úteis ao ensino, foi agraciado pelo Rei Dom Luís I como cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do valor, lealdade e mérito.

Na prossecução dos seus intentos reformadores do ensino, deparou-se com grandes resistências à mudança por parte de alguns dos seus superiores hierárquicos; não fosse a sua conduta rectilínea, mas de uma total clareza de objectivos e superior argumentação, teria sido afastado do C.M. como consta de uma sindicância que contra ele moveu em 1872 o general José Paulino de Sá Carneiro, director do C.M.(15).

Pedagogo de brilhante erudição, ensaísta quer das ciências meramente especulativas quer das ciências sociais, a sua lúcida exposição e a réplica pronta à mais pequena observação, revelam a vivacidade e a maleabilidade da sua poderosa e fecunda actividade intelectual.

Marco miliário da evolução do ensino das matemáticas em Portugal(16), o seu pensamento de feição marcadamente positivista leva-o a estabelecer uma transição insensível nos estudos matemáticos entre os diferentes graus, amplamente tratado nas suas obras Elementos de Matemática e O Método prático de calcular e a Geometria prática, acentuando também o princípio filosófico de que a Aritmética e a Geometria são instrumentos essenciais da arte, da ciência e da civilização. Inspirado em Wronski(17), concebe a ideia de lançar no ensino a semente da Geometria moderna e o gosto pelo seu estudo.

Não só no campo da abstracção pura se deteve, pois quando se debruçou sobre os poliedros estrelados foi além de célebres geómetras como Poinsot(18) e Cauchy(19) , construindo ele próprio em cartão os primeiros modelos destinados ao ensino oficial, que os apresentou à Congregação Literária do Colégio Militar em 05.12.1858. Lamentavelmente, só muitos anos passados é que os mesmos modelos foram adoptados para o ensino, sendo que as primeiras réplicas dos modelos foram feitas em buxo na Escola Industrial Marquês de Pombal.(20).
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Reprodução das armas que se encontram na berlinda cupé dos morgados de Vilarinho, hoje no Museu de Aveiro, por doação da Sr.ª Dona Maria Amélia Couceiro da Costa, filha de Francisco Manuel Couceiro da Costa, último morgado de Vilarinho.


O espírito cientista de J. M. Couceiro da Costa, o hábito dos raciocínios sobre as abstracções puras das especulações das ciências exactas e a sugestão das ideias do Nada e do Infinito filosófico levam-no a escrever Filosofia das Matemáticas.

Em 21.11.1883 foi o lente convidado para proferir o discurso da sessão de abertura desse ano lectivo; ao longo das 39 páginas trata de forma magistral os mais prementes aspectos da prática educativa, com uma actualidade ainda notável. Traduzirá talvez este texto a globalidade do seu pensamento educativo.

Em 1903(21) redige Factos e teorias – Dissertação poligráfica em convergência monística, uma análise ponderada de uma extensa série de factos e teorias sobre os mais variados problemas de cosmogonia, da física, da biologia e da sociologia, subordinada sob o ponto de vista filosófico ao idealismo de Kant.

Em 1905 publica These Sociológica (22) , abordando o tema de edificações de prédios para rendas económicas, alertando desde logo para o facto de países como Inglaterra, França, Itália, Allemanha, nos estados Norte Americanos, etc., as associações constructoras de casas económicas visam o interesse do capital, e não se regem por pensamento algum de moralidade, civilização, e patriotismo, tecendo na segunda parte da obra "Critérios de Pura Razão" considerações sobre a moralidade, civilização e patriotismo das sociedades, e em especial, a portuguesa.

O General José Maria Couceiro da Costa foi casado com Dona Natália Francisca Rodrigues Galhardo, morrendo sem deixar geração a 26.06.1911 em Lisboa, tendo ainda em sua vida sido comendador da Ordem de Cristo e cavaleiro da Ordem de Aviz.

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Em sua honra instituiu o Liceu de Viseu o prémio anual "Couceiro da Costa" para o aluno com a mais alta classificação a Matemática, sendo certo que ainda em 1920 foi atribuído.(23)

Sou metafísico, idealista, sim, mas dentro da Natureza, onde se arquivam os princípios do meu dogmatismo; a que só renuncio quando a mesma Natureza me faz conhecer o falso critério da minha Razão.
   
 

fac-símile da sua assinatura – 08.06.1866

 

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* José Cardoso de Menezes Couceiro da Costa. Licenciado em Business Administration, pela European University. – Administrador de Empresas – Do Instituto Português de Heráldica – Da Associação Portuguesa de Genealogia.

 

(1) – Foi seu padrinho João Agostinho Couceiro da Costa, nascido na Esgueira a 05.04.1767, falecendo na sua casa de Aveiro, no cimo da Rua Larga, a 23.05.1825, tenente-coronel de cavalaria, filho herdeiro e sucessor na Casa de seu pai o coronel Francisco Manuel Lançarote Couceiro da Costa, cavaleiro professo na Ordem de Aviz, administrador dos vínculos de Vilarinho, Morraceira, Santa-Cruz e da Ceboleira, bem como de sua mãe, a Dona Joana Eufrásia de Moura Coutinho Almeida e Castro.

(2) – Foi baptizado com o nome de Isidoro, em honra ao seu tio o Dr.lsidoro José Valente de Figueiredo; presume-se que após o seu crisma terá adoptado o nome de António.

(3) – Filho de Luís Couceiro Lançarote Coelho, capitão da Companhia da Nobreza do Estado do Maranhão, Juiz dos Órfãos em São Luís do Maranhão, e de sua mulher Dona Mariana de Barbosa. É este João Couceiro Lançarote Coelho da Costa é 6° avô na varonia do autor destas linhas.

(4) – Instituído pelo prior de São Julião de Cacia, o Pe. Fernão de Afonso, a 23.10.1534 a favor de sua filha Genebra Fernandes legitimada por Dom Manuel I em 08.03.1521.

(5) – Instituído por Dona Leonor Couceiro da Costa, por testamento de 09.06.1665.

(6) – Instituído por António Gonçalves e sua mulher Isabel Dias, a favor de sua filha Felipa Antónia, no ano de 1572 – (ANTT – Chanc. D. Sebastião, Lv. 44, fl. 80).

(7) – Instituído pelo Licenciado José Coelho, por testamento de 04.07.1623.

(8) – Viúva de Manuel Couceiro da Costa, morgado de Vilarinho e da Morraceira.

(9) – Arquivo Histórico Militar – 3ª divisão, 7ª secção, caixa 640

(10) – idem

(11) – idem

(12) – idem

(13) – idem

(14) – Ordens do Exército – ano 1868 – pág. 152

(15) – Arquivo Histórico Militar – 3ª divisão, 7ª secção, caixa 640

(16) – Costa, Alfredo Augusto de Oliveira Machado e – Elogio Histórico do General José Maria Couceiro da Costa – Lisboa, 1915 – pág. 10.

(17) – Jozef Wronski, matemático polaco – 1778/1853.

(18) – Louis Poinsot, matemático francês –1777/1859.

(19) – Augustin Louis Cauchy, matemático francês – 1789/1857

(20) – idem, pág. 13.

(21) – Inédito dedicado a Carlos Adolpho Marques Leitão – Lisboa, Dezembro de 1903.

(22) – These Sociológica – Synopse extrahida d 'um manuscrito de correspondência particular entre dois professores militares – Tipografia da Cooperativa Militar – Lisboa, 1906.

(23) – O aluno galardoado foi João Afonso Brandão de Almeida, com a classificação de 20 valores, o distinto cirurgião Dr. João de Almeida, que durante 50 anos dirigiu a Casa de Saúde da Boavista, no Porto.


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