SÍNTESE HISTÓRICA
Na
primeira década do Século a agitação agudizou-se, mas o advento da
República não trouxe a paz interna que se preconizava. Em 5 de Outubro
de 1910 a Monarquia, antiga de 800 anos, caiu em menos de 24 horas, sem
braços nem baionetas que a defendessem.
O novo regime logo se institucionalizou e a assembleia constituinte
escolheu também novo hino e bandeira nacionais, tudo em 1911. Mas,
vítima das suas contradições, falta de quadros, perseguições e vinganças
que logo encetou, hostilização da Igreja e falta de apoio interno, cedo
entrou numa espiral de anarquia social e política. Os anos seguintes
foram uma sucessão de calamidades que deixaram o país exangue, e que a
entrada na Guerra Mundial, em quatro frentes, mais agudizou. A história
dos 16 anos da I Republica foi marcada por oito chefes de Estado (só um
concluiu o mandato), 52 governos, oito parlamentos (cinco deles
violentamente dissolvidos) e 11 ditaduras, pelo que só em cinco anos se
conseguiu cumprir a Constituição aprovada em 1911.
Apesar de tudo e arrostando com as maiores dificuldades, o Exército e a
Armada (e também a diplomacia), foram conseguindo salvaguardar o
património colonial e pacificar as populações. Puderam também
organizar-se para imporem mais uma ditadura militar, a 28 de Maio de
1926, que levaria Carmona a Presidente da República em 1928. O impasse
político criado e, sobretudo, uma crise financeira gravíssima, só
começaram a ser ultrapassados em 1928, com a entrega a Salazar da pasta
das Finanças. Nos quatro anos seguintes consolidou a sua influência o
que, associado aos fenómenos políticos contraditórios que ocorriam na
Europa e no Mundo, o levaram à Presidência do Conselho em 1932. Aprovada
a Constituição de 1933 e o Estatuto do Trabalho, inicia-se o Estado
Novo, que duraria mais de quatro décadas, atravessando períodos
conturbados, como a guerra civil de Espanha, a Segunda Guerra Mundial, a
adesão de Portugal à NATO (1949), a entrada na ONU (1955) e a
independência de muitos países africanos, além de várias tentativas de
derrube do regime. O início da guerra em Angola, seguida do episódio do
Santa Maria, da revolta de Beja e da queda da Índia (com as suas
trágicas sequelas) – tudo em 1961 – tinham posto a descoberto as
fragilidades do regime. Com o alastramento da subversão à Guiné (1963) e
a Moçambique (1964) e com a abertura da frente Leste em Angola (1966), a
situação agrava-se mas a guerra continuaria até 1975.
O 25 de Abril de 1974 não teve origem num diferendo ideológico, ao
contrário de levantamentos militares anteriores. O alcance do golpe não
terá sido bem avaliado, perdendo-se o controle dos acontecimentos e os
militares dividiram-se. O golpe de estado degenerou em revolução e o
poder degradou-se. E, contrariando as tendências de outros movimentos
militares do passado em Portugal, o Movimento dos Capitães
institucionalizou-se como Movimento das Forças Armadas, procurando
estabelecer uma estratégia para os objectivos definidos, fim da guerra,
descolonização, democracia baseada em partidos políticos. E voltou a ser
a Instituição Militar que conseguiu evitar a guerra civil, em 25 de
Novembro de 1975.
Durante o Séc. XX as sucessivas perdas de território começaram em Julho
de 1954 com a ocupação de Dadrá e Nagar-Aveli (distrito de Damão) pela
União Indiana através do movimento dos "satyagrahis"; em Agosto de 1961,
com a destruição e abandono de S. João Baptista de Ajudá (pequeno forte
no interior do Daomé, antiga colónia francesa, hoje Benin); em Dezembro
de 1961, com a queda do Estado Português da Índia; e com as
independências da Guiné (em 1974), S. Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo
Verde e Angola (em 1975). Timor declarou unilateralmente a independência
em 29 de Novembro de 1975 e foi logo ocupado pela Indonésia, só se
tornando independente em 2002; e a administração de Macau foi devolvida
à China em 1999.
Em 1975
Portugal deixou de ter um império, ficou reduzido a 6% do território e a
35% da população que tinha antes e a situação social, política e
económica levou cerca de 10 anos a estabilizar. O abandono do Ultramar
conduziu naturalmente à aproximação à Europa, formalmente consagrada com
a adesão à Comunidade Económica Europeia (em 1986), que entretanto
evoluiu para Comunidade Europeia e mais tarde para União Europeia (UE).
No final do século Portugal era um dos 19 estados membros da União
Europeia.
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SÍNTESE MILITAR
No Séc.
XX, Portugal não travou guerras no seu território continental europeu,
onde os militares apenas estiveram envolvidos em levantamentos,
revoluções e golpes de Estado de curta duração.
Em África continuaram as campanhas de pacificação iniciadas na última
década de Oitocentos, até que, na Guerra Mundial de 1914-1918, estivemos
envolvidos em quatro frentes, Angola, Moçambique, França e Atlântico. Em
França combateu o CEP (Corpo Expedicionário Português), um Corpo de
Exército a duas divisões e tropas de apoio, e também, pela primeira vez,
a incipiente aviação portuguesa, que ali teve o seu baptismo de fogo. No
norte de Moçambique e no sul de Angola, confinantes com territórios
coloniais alemães, as acções militares foram de alguma envergadura; e no
Atlântico foi importante a acção da Marinha, com perdas significativas.
No total, foram empenhados nesta guerra 105.542 portugueses (incluindo
as tropas coloniais), sendo mobilizados no Continente cerca de 82.000
homens. O número de baixas, em todas as frentes, ascendeu a 38.012,
sendo 7.760 mortos, 16.607 feridos e incapazes, 13.645 prisioneiros e
desaparecidos.
Portugal manteve a neutralidade na II Guerra Mundial (1939-1945), mas
esteve envolvido com a cedência de bases nos Açores (aos Aliados) e viu
ocupado Timor pelos australianos e, depois, invadido pelos japoneses. O
Exército chegou a ter um efectivo de 130.00 homens (em 1943), com três
divisões completas no Continente e efectivos mobilizados para os Açores
(26.500), Madeira (3.400), Cabo Verde (6.700), Angola e Moçambique,
cerca de 20.000; e, no final da guerra, um batalhão para a reocupação de
Timor (1945) e outro para Macau (1946), face à guerra civil chinesa.
Com a independência e as consequentes reivindicações territoriais por
parte da União Indiana, o Estado Português da índia foi reforçado,
chegando a ter cerca de 12.500 homens em 1957. Mais tarde reduzido, o
contingente pouco ultrapassava os 4.000 homens à data da invasão, em
Dezembro de 1961, com forças navais exíguas e sem meios aéreos.
Entretanto começara em 1961 a guerra de África, que só terminaria em
1975, e durante a qual foram empenhados quase um milhão de portugueses.
Nesse período foram mobilizadas (do Continente Açores e Madeira) para
Angola, Moçambique e Guiné 2.473 unidades constituídas de escalão
companhia ou superior e 1.131 de escalão inferior (totalizando 3.604),
com comissões de dois anos e rendição colectiva (do Exército); meios
navais e unidades de Fuzileiros (13 companhias e 15 destacamentos de
Fuzileiros Especiais), que mantiveram a mesma constituição durante todo
o período, sendo o pessoal rendido individualmente (Marinha); meios
aéreos e unidades de Pára-quedistas (quatro batalhões e 12 companhias),
também de constituição permanente e rendição individual (Força Aérea).
Além das forças da guarnição normal desses territórios, guarnecidas por
militares do recrutamento local e bem assim a construção e montagem das
infra-estruturas e dos meios logísticos necessários ao apoio das tropas.
Nestes teatros de guerra as nossas tropas sofreram 8.290 mortos (sendo
4.027 em combate) e cerca de 30.000 feridos.
No mesmo período foram enviadas pelos três Ramos tropas para reforço das
guarnições Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Macau e Timor, tendo o
Exército mobilizado 80 unidades de escalão companhia ou superior e 94 de
escalão inferior (totalizando 174), com comissões de dois anos e
rendição colectiva.
Em 1974, as Forças Armadas chegaram a ter 217.000 homens, sendo 179.000
do Exército, 19.500 da Armada e 18.500 da Força Aérea.
Após um interregno de relações difíceis de quase duas décadas,
iniciou-se a cooperação técnico-militar entre Portugal e os novos países
de expressão portuguesa, designadamente na estruturação das novas forças
armadas da Guiné-Bissau, Cabo Verde e Moçambique (em 1990), S. Tomé e
Príncipe (1991) e Angola (1994).
Também no cumprimento de compromissos internacionais (ONU, NATO, União
Europeia e outros), Portugal participou em variadas missões de paz ou de
cooperação técnico-militar, quer com unidades constituídas, meios aéreos
e navais, destacamentos ou simples observadores, sendo de destacar o
empenhamento no Sara Ocidental (desde 1991), na ex-Jugoslávia (Bósnia-Herzegovina,
Sérvia e Kosovo, desde 1992), Moçambique (desde 1993), Angola (desde
1994) e Timor-Leste (desde 1999) que continuaram na transição do século.
E ainda em missões de ajuda humanitária em quatro continentes (excepto
América).
Em termos estruturais, o Séc. XX foi marcado pelas grandes reformas de
1911 (que, entre outras, estabeleceu o serviço militar obrigatório e
pessoal); de 1937 (chamada "de Santos Costa", cuja organização sustentou
toda a guerra de África); e de 1993 que, em várias fases, pôs fim ao
serviço militar obrigatório e criou o serviço militar feminino; pela
criação da Força Aérea, nela se integrando a Arma de Aeronáutica (do
Exército) e a Aviação Naval; e pela criação de forças especiais de
Pára-quedistas (1955), Fuzileiros navais (1960) e Comandos (1962). |