A partir de certa
altura, o professor primário constrói um laboratório de fotografia
na cave da escola e inicia um curso de electrónica por
correspondência, matriculando-se na «Electronic School of Los Angeles»,
na Califórnia. O arquitecto adquire uma câmara de filmar de oito
milímetros e uma máquina de projectar. E os dois começam a
partilhar experiências. A dada altura, o
professor primário manda vir as peças da Alemanha e começa a
construir um gravador de fita magnética, aparelhómetro praticamente
desconhecido na época. Os poucos gravadores de som até aí
existentes, entre os quais o de um dos animadores da cabine de som da
Esplanada da Avenida 8 de Espinho, funcionavam com bobinas de fio de
aço. Era um sistema de reduzida qualidade sonora e, sobretudo, pouco
prático. O fio partia-se frequentemente e tinha de ser
emendado. Com o novo modelo, abria-se uma nova era na gravação e
reprodução dos sons. A
fita magnética tinha praticamente acabado de ser inventada. E o meu
pai, a par das inovações técnicas, decidiu construir um gravador de
fita magnética. E, durante semanas, com a ajuda do arquitecto,
construíram um pesado aparelho com bobinas de 18 centímetros de
diâmetro. O
pesado aparelho tinha a marca Philmagna. Trabalhava perfeitamente. As
primeiras cobaias foram os alunos, durante a segunda classe. O
professor gravava as sessões de leitura. E punha-nos a ouvir, perante
a nossa admiração, as asneiras que antes teimávamos em negar,
quando ele as corrigia. As
experiências com o gravador e com as filmagens sucederam-se. Em
breve, aos dois jovens pais de família começa a juntar-se um
terceiro elemento, um miúdo de oito anos de idade, que, fascinado
pelas experiências dos mais velhos, os troca pelos companheiros de
brincadeira, sempre que eles se juntam para novas experiências. E, a
partir daqui, começa uma série de aventuras, que me fariam gostar
cada vez mais do cinema, apesar dos mais velhos nos terem proibido a
entrada nas salas. Teriam certamente medo que o cinema nos corrompesse
ou ensinasse coisas menos próprias. Sem televisão, que ainda não
existia em Portugal, e sem cinema, vedaram-nos quase por completo,
até fazermos os doze anos, o acesso à magia do cinema. |