Um passarinho chamado Alícia

Dulce Vieira, Contos infantis, 2001

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II

 

Na semana seguinte, Alícia foi pondo ovos no ninho. Quando já lá estavam quatro, ela combinou com Alceu:

- Agora vou chocar estes quatro ovos para que nasçam os nossos quatro filhotes. Já sabes: tenho de ficar o dia inteiro e também a noite, durante três semanas, pousada sobre eles, para que estejam sempre quentes.

E Alceu disse:

- Pois é necessário calor, para os nossos passarinhos irem crescendo, primeiro dentro dos ovos, até ficarem fortes; depois, partem a casca e saem; e nós podemos dar-lhes comida e miminhos, não é?

- É, é. Portanto, agora vais trazer-me comida aqui, sim?

- Claro que vou; e água, também – respondeu o companheiro.

E assim fizeram como tinham combinado.

Ao fim de vinte e um dias, que são muitos dias, Alícia sentiu a casca de um ovo partir… Depois outra... E outra... Três passarinhos! Só falta um! Esperou mais um pouco, e... Pronto! O último ovo partido! Saiu e ficou deliciada a olhar para os quatro filhos-passarinhos que tinham nascido. Tão queridos e pequenos! Não tinham penas ainda e Alceu disse:

- Aconchega-os nas tuas asas, Alícia, que devem estar cheiinhos de frio! Eu vou procurar sementes de flores, que são mais pequenas, para lhes dar nos bicos; precisam de se alimentar!

E lá foi, todo feliz! Alícia ficou ali a piar baixinho, embalando os filhotes.

E todos os dias faziam as mesmas coisas, com tanto carinho, que os pequenos pássaros foram crescendo, as penas nasceram e eles até já iam sabendo fazer: piu... piu... Só faltava mesmo voar! Piá, Vogas e Tugi, estes eram os nomes dos três filhotes mais velhos, estavam ansiosos por voar até ao chão, para sentirem a terra nas patas. Só Pituças, o mais novo, não tinha pressa nenhuma. E pensava lá consigo:

- Não quero voar! Estou tão bem aqui no ninho! Os meus pais trazem-me comida e água… Não quero voar! Tenho medo!

E ali ia ficando, com os olhos fechados, cheio de preguiça.

Ora, certo dia, logo de manhãzinha, os passarinhos-papás disseram aos seus filhos:

- Chegou o grande dia. Hoje vamos ensinar-vos a voar e vocês vão connosco, procurar a vossa comida.

Esta notícia encheu de grande contentamento Piá, Vogas e Tugi, que se puseram logo aos saltos. Pituças, porém, aconchegou-se mais no ninho, encolheu a cabeça e ficou.

Veio a mãe e disse-lhe:

- Meu filho, tens de criar ânimo para voar! Podes ter algum medo, no início, mas depois vais ser muito feliz, voando lá por cima, no céu azul.

Mas nada convencia o grande preguiçoso. Já os irmãos se preparavam para o primeiro voo, seguindo os conselhos do pai, e.... lá vai Piá! Já se lançou no ar, batendo as asas... E pousou no chão, tão contente por ter conseguido! A seguir, foi a vez de Vogas e de Tugi .... um...dois... e... três! Aí vamos nós! E também eles saíram do ninho e da árvore, onde tinham vivido até ali; e juntaram-se ao irmão, cheios de risos e de alegria.

- Que bom! Que bom!

Agora faltava Pituças. A mãe lá o entusiasmava:

- Vamos, não sejas preguiçoso! Levanta-te. Depois encolhes um pouco as patas, bates as asas devagar e... pronto! Já sabes voar.

Cá de baixo, o pai e os irmãos chamavam-no, dizendo:

- Anda, tem coragem! Tu consegues!

Mas ele... “não, não, não quero! Tenho medo!”

Foi então que sua mãe disse:

- Bom, tenho mesmo de me zangar, tenho!

E então deu um pequeno salto e pôs-se atrás do filho a dar-lhe bicadas no rabo, como quem dá uns empurrões.

Pituças ficou envergonhado e pensou que já não era, de facto, nenhum bebezinho; levantou-se; ergueu as asas; depois começou a batê-las com toda a força que tinha; lançou-se... E... Aí vai ele, voando...

- Ah! consegui! Sou um valente!

Estavam agora todos juntos, no chão, muito contentes e iam procurar comida; depois iriam voar até à margem do rio, para ouvir o suave cântico da água e espreitar os peixinhos vermelhos que nadavam felizes.

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