Futebol e pesca |
Tenho neste momento a foto que o médico me deu em cima da mesa. Há-de ir juntamente com estes aerogramas. Recebi-a em Quimbele, na véspera de ter vindo para aqui, para Cabula Calonge. Na manhã do dia vinte e cinco fui para Quimbele com o capitão e o Graça Marques. Foi a primeira coisa que o médico me entregou mal entrámos na messe de oficiais. Da parte da tarde, tive um convite surpreendente do capitão. Desafiou-me para ir à pesca com ele. Fomos para um rio que passa nos arredores da vila. E até passei uma tarde diferente. Apanhámos dois peixes enormes, com cerca de um quilo cada um. E, segundo pude verificar, um deles bastante perigoso, mas bastante saboroso depois de bem frito, como comprovámos ao jantar. Trata-se de um peixe perigoso porquê? Para a tarde desportiva de pesca, levámos connosco alguns nativos de uma sanzala próxima, que conhecem bem as espécies locais. Felizmente que tinha um bom elemento ao meu lado, quando apanhei o peixe, cujo nome não posso dizer, porque não percebi o que o homem me disse. O que percebi é que, mal o fisguei e o puxei para a margem, ele ficou alarmado. Não me deixou tocar-lhe. Foi ele que o retirou do anzol, com a máxima das precauções. É uma espécie que nunca tinha visto na vida. É um peixe enorme e perigoso, com umas enormes mandíbulas de dentes afiados, suficientemente fortes para nos arrancarem um pedaço da mão ou até mesmo os dedos. Tive a prova disso. Quando o nativo o colocou na cesta, ao lado do outro apanhado pelo capitão, sabem o que aconteceu? O animal abocanhou o outro pelo meio e fez-lhe um enorme rombo, tal como fazemos com uma maçã quando lhe damos uma valente dentada e lhe arrancamos um pedaço. Fiquei todo arrepiado com a cena. Até os pelos se me puseram em pé, quando imaginei o que poderia ter sucedido se não tivesse ao meu lado um elemento experiente. Autênticas navalhas, aqueles dentes triangulares e afiados! Vou ter de interromper a escrita. Ouço barulho de viaturas. Pelo ruído e trabalhar dos motores, só podem ser unimogues. Vem aí pessoal. Não deve ser coisa boa. Vou ver o que se passa. Até já. |