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Uma
possível classificação taxonómica |
Efectuar uma
classificação tipológica do que quer que seja é sempre
uma tarefa arriscada, susceptível de originar críticas e
pontos de vista diferentes. Mas, no caso específico dos
meios audiovisuais, não deixa de ter grandes vantagens,
permitindo-nos uma listagem, se não de todos, pelo menos de
quase todos os meios actualmente existentes. E dizemos de
quase todos, porque há os que, pela sua grandeza,
complexidade técnica e elevado custo, só são viáveis a nível
de grandes organizações e realizações. Por exemplo, um
planetário não deixa de ser um meio audiovisual de
representação do universo. No entanto, o seu elevado custo
e especificidade só o tornam viável num centro
especialmente criado para o efeito. E quem diz um planetário,
diz igualmente as sofisticadíssimas técnicas audiovisuais
utilizadas em certos centros culturais ou em exposições
ocasionais de carácter universal, como tivemos
oportunidade de ver em alguns pavilhões da recente Exposição
Universal de Sevilha de 1992[1].
A nível do ensino e atendendo às precárias situações
materiais em que, por vezes, este é ministrado, teremos
de nos limitar aos meios mais acessíveis, quer do ponto
de vista económico, quer do da sua facilidade de
utilização.
Caberá aos professores organizar visitas de estudo e
levar os seus alunos ao contacto com esses centros de formação
e divulgação científica, onde meios altamente caros e
sofisticados estarão à sua disposição como forma de
acesso a determinados conhecimentos.
Antes de efectuarmos uma classificação tipológica
dos meios audiovisuais, convirá reflectir um pouco acerca
do que se entende precisamente por esta expressão: «meios
ou métodos audiovisuais». Geralmente costuma-se utilizar
as palavras «meio» e «método» com sentidos diferentes.
Costumamos associar a palavra método
a estratégias, designando através dela um `conjunto de
procedimentos que servem para ensinar ou aprender alguma
coisa'. Também a designação audiovisual apresenta do
ponto de vista semântico uma certa flutuação de sentidos,
aparecendo muitas vezes como uma forma de designação dos
«mass media» - rádio e televisão - e, outras vezes, com
o sentido de ensino através da rádio ou da televisão. A
consulta de obras diversas mostra-nos diferentes sentidos,
de acordo também com as épocas, para o termo audiovisual.
Em algumas enciclopédias mais antigas, audiovisual é
explicado como tratando-se de um método de ensino fundado
na sensibilidade visual e auditiva das crianças, sendo uma
forma de ensino baseada sobretudo na apresentação de
imagens ou de filmes. E enciclopédias mais antigas excluem
mesmo os meios sonoros, tais como a rádio, o gravador e o
gira-discos, correspondendo a parte auditiva às explicações
e comentários dos professores. Posteriormente, obras de
psicologia consideram que os meios audiovisuais não são um
método, mas um conjunto de meios. Por exemplo, no Vocabulaire
de la Psychologie de Piéron, de 1957, por audiovisual
entende-se um conjunto de meios, englobando «todos os
processos de educação e de informação baseados nas
descobertas modernas de reprodução das imagens e dos sons
e, mais especificamente, o cinema e a televisão, o
magnetofone e a rádio». Se a definição fosse formulada
actualmente, também entrariam certamente nela os modernos
meios que têm por base as tecnologias de ponta, desde os
sistemas de vídeo e de disco compacto até aos meios informáticos
ou informatizados. Vemos que a designação audiovisual se
torna bastante ampla, para englobar praticamente tudo, não
ficando de fora o meio mais antigo utilizado pelo Homem: o
do recurso ao desenho e à pintura como forma de comunicação.
Assim, as pinturas rupestres são já uma forma de comunicação
audiovisual; e o tradicional quadro preto, que ainda hoje
presta um relevante e indispensável serviço, é igualmente
um meio audiovisual ao serviço do professor.
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Quadro com uma classificação tipológica dos
diferentes meios
audiovisuais actualmente disponíveis.
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No nosso caso, iremos então utilizar a palavra
audiovisual em mais do que um sentido: num sentido amplo e
num sentido restrito.
Num sentido amplo e relativamente ao ensino, por métodos
ou meios audiovisuais designaremos tudo aquilo que pode
facilitar as actividades docente e discente por intermédio
dos sentidos auditivo e visual, independentemente um do
outro. No sentido restrito do termo, iremos empregar a
palavra audiovisual para designar todos os meios que
utilizam simultaneamente os dois sentidos, juntando a imagem
ao som, sem necessidade de quaisquer
comentários do professor. Com base nestes dois
sentidos da palavra audiovisual, poderemos efectuar um
levantamento dos meios audiovisuais disponíveis elaborando
a sua classificação tipológica com base apenas no som
ou na imagem (sentido lato do termo) ou na utilização
simultânea dos dois sentidos (sentido restrito), o que nos
permitirá obter um quadro idêntico ao da figura.
Analisando o quadro, verificamos que os
meios audiovisuais indicados se encontram distribuídos por
três classes ou grupos:
1 - Meios visuais;
2 - Meios auditivos;
3 - Meios audiovisuais.
Englobamos na designação visuais
todos aqueles que têm como principal suporte a imagem,
cabendo ao professor ou animador do grupo comentar aquilo
que se observa e ajudando os alunos ou participantes a dela
extrair informações e conclusões. E, dentro dos meios
estritamente visuais, efectuámos ainda uma subdivisão,
tendo em conta o seu grau de complexidade. Ninguém terá dúvidas
em considerar um quadro e um retroprojector como dois meios
visuais, como também ninguém os colocará no mesmo plano
de facilidade de utilização. As condições de utilização
de um quadro, que também tem as suas regras (que nem todos
conhecem) e de um retroprojector são completamente
diferentes. O primeiro, à partida, não levanta qualquer
problema de utilização; o segundo dá já que pensar a
quem o for utilizar sobre se o deve ou não empregar,
podendo mesmo gerar alguns receios e colocar algumas
dificuldades. O primeiro é visto como um elemento passivo,
que nunca levantará problemas; o segundo é visto já como
uma máquina e, como tal, como um elemento activo, como um
elemento com alguma complexidade, susceptível de criar
algumas situações imprevistas e exigindo algumas competências
e diligências por parte de quem o for utilizar.
Dentro dos meios visuais, em elevado número,
incluem-se, por um lado, todos os que constituem
instrumentos simples de utilização, por outro, todos os
que poderemos englobar sob a designação de máquinas,
aparelhos mais ou menos complexos, constituídos por
diversos mecanismos, exigindo energia eléctrica e
determinadas
condições de utilização, não podendo funcionar sem a
existência do software adequado contendo a necessária
informação. São todos eles constituídos por máquinas
que poderemos designar pela moderna palavra de origem
inglesa, tão divulgada nos últimos anos pelos meios informáticos,
que dá pelo nome de hardware, tendo por base um sistema
óptico de projecção de imagens.
Temos, de um lado, meios visuais simples, tais como o
quadro, com todas as suas variedades, os posters e os
cartazes, os mapas e os gráficos, as fotografias e os
postais ilustrados, o jornal de parede e a banda desenhada;
do outro lado, os meios visuais complexos, baseados na
projecção de imagens sobre um ecrã, tais como o cinema, o
retroprojector e o retrodiascópio, o episcópio e o
epidiascópio, o taquiscópio e o adiscópio, o diascópio e
o triscópio ou xermascópio e, finalmente, o magnabyte[2],
que colocámos separado dos outros meios, porque não o
podemos considerar como uma máquina de projecção, mas
sim como um
acessório sofisticado que permite conciliar o
retroprojector com o computador.
Como meios sonoros ou auditivos, consideramos todos
aqueles que têm como suporte unicamente o som, quer se
trate ou não da voz humana, quer de sons musicais ou não.
Temos, então, dentro desta classe, o rádio, o gira-discos,
o leitor de discos compactos e os gravadores de bobina ou
de cassete.
O terceiro grupo ou classe, que designamos por
audiovisuais no sentido restrito do termo, inclui todos
aqueles meios que conjugam, simultaneamente, a imagem e o
som (áudio + visuais = som + imagens). Nele incluímos a
televisão, com todas as suas modernas variantes, o cinema
sonoro, de utilização cada vez menos frequente, o
diaporama e o videoprojector. À semelhança do que fizemos
relativamente ao magnabyte, colocamos o videoprojector
isoladamente, pois este é também um meio sofisticado de
conciliar a projecção, à semelhança do cinema, com a
televisão, com o vídeo e ainda com os meios informáticos[3].
Na parte inferior do quadrado da figura, colocámos
isoladamente os meios informáticos e os meios
informatizados. Esta classificação poderá suscitar
algumas divergências. Mas uma reflexão mais cuidada acerca
das potencialidades do computador levar-nos-á seguramente a
considerá-lo como um meio audiovisual, na verdadeira acepção
do termo, dotado de inúmeras potencialidades,
infelizmente ainda mal exploradas, apesar dos últimos
projectos educativos realizados no nosso País, tendo em
vista a sua inserção e divulgação junto dos
profissionais do ensino. É que os técnicos da informática,
os programadores, geralmente, apenas conseguem equacionar o
computador como uma máquina de cálculo, como uma máquina
de arquivo de dados, de tratamento e processamento de textos
e imagens, esquecendo certas vertentes que a poderiam tornar
num extraordinário e potencial auxiliar da missão
educativa, transformando-a num poderosíssimo meio
audiovisual,
versátil e polivalente, funcionando ao lado do professor
e dos alunos como um "inteligente" ajudante. E que
extraordinária ajuda poderia esta máquina dar no ensino
das línguas vivas, não se limitando à vulgar e pouco
prestável utilização que lhe tem vindo a ser dada,
utilizando-a apenas como base de dados e como meio de
processamento e criação textual. Uma máquina com
potencialidades
virtuais acaba, deste modo, por ter uma utilização muito
restrita e de proveito bastante reduzido[4].
In:
Henrique J. C. de Oliveira, Meios audiovisuais e
tecnológicos aplicados ao ensino, Aveiro, 1992, pp. 13-18.
(edição limitada do autor).
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