Acesso à hierarquia superior.

Em tempo de vale tudo...

Nesta quadra festiva de despedida do ano, que dura, com “pontes” por isto e por aquilo, todo o mês de Dezembro, aperfeiçoa-se o fingimento praticado como coisa banal no quotidiano. Fazem-se balanços dos resultados dos sofisticados e cientificamente estudados actos, que foram praticados para ajeitamento desta sociedade abstrusa e desumanizada, servidora de meia dúzia (sempre os mesmos, que pulam de poleiro para poleiro) em detrimento de todos os outros. Celebram-se santas missas e fazem-se homilias que, discretamente, pretendem disfarçar o indisfarçável, isto é, a omnipresente hipocrisia. Acentua-se a publicidade (que chega a ser um insulto à desgraçada miséria de vinte por cento dos portugueses) visando incendiar, ainda mais, o desejo de comprar, aprimorando-se aqui os engravatadinhos do marketing e da publicidade, especialmente no que toca à exploração do inocente imaginário das crianças. Neste período, mais do que em qualquer outra, pratica-se um inaceitável vale-tudo.

 

Este ano, estou convicto que, mais do que em qualquer outro, o nosso pais ultrapassou-se no douramento deste triste figurino de sociedade, dando mais alguns passos, muitos mais, significativos no sentido da anulação do que resta do vector social, senão vejamos a titulo de exemplo o que está a acontecer ao Serviço Nacional de Saúde, filho de tantas lutas.

 

Este ano a desvergonha foi completa, pois a dor habitual foi complementada pelo facto de Portugal ter a presidência europeia e, por concomitância, serem aqui realizadas as várias conferências, em Dezembro União Europeia-África (qualquer coisa como 80 países participantes, mais não sei quantos observadores e mais uns milhares de jornalistas). Neste fim-de-semana de 8 e 9, a espampanância ultrapassou tudo, até o sentido da dignidade e da vergonha, sobretudo se tivermos em conta que na mesma altura, em boa parte dos países aqui representados, enquanto os seus dirigentes, e respectivas “cortes”, exibiam fortunas faraónicas, conseguidas vá-se lá saber como, milhões de crianças e outros tantos velhos, morriam de fome ou cilindrados pelas guerras provocadas por inconfessos motivos ou ainda apodrecidos pelas doenças sem qualquer tipo de cuidados mínimos. Violavam-se por todo o lado os direitos humanos que a Europa tanto diz defender. E nas acima faladas santas missas em que se proferiam santas homilias onde, também, se falava do nascimento de homem justo e humilde que baniu os vendilhões do templo e abominava a injustiça, nem uma palavra condenando esta falta de carácter, de dignidade e de humanismo.   

 

Este ano tudo foi permitido aos serventuários do poder, disfarçados de governantes, que, década após década, se foram especializando em nos zurzir.

 

Por estranho que pareça, quando me sentei para ajuntar algumas palavras, era visando desejar a quem me lesse aquelas coisas que se costumam desejar todos os anos nesta época: Boas-Festas, Feliz Ano Novo, etc., etc. Depois, simplesmente, não fui capaz, porque como que montadas num raio, vieram-me à ideia todas estas, e mais outras tantas que tais, dolorosas coisas, umas atrás das outras. Digam-me lá, se face a isto, teria sentido tê-lo feito!?...

 

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Ah! Já agora, em jeito de pé de página, em primeiríssima mão, constou-me que, complementando as medidas de controlo (videovigilância, cartão único, contadores da água e da luz, acesso às bases de dados, “secretas”, etc., etc. ...) já tomadas e/ou em preparação, está em estudo a criação de um novo contador, que será colocado na barra de todas as camas, especialmente as de casal, logo na sua construção, servindo esse aparelho controlador, também, como elemento de calculo para a criação de um novo imposto. O nome do tal aparelho ainda não está bem definido, mas, ao que parece, vai chamar-se, simplesmente, sexómetro...

 

Luís Jordão

Dezembro 2007
(ultima semana)

 
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