Índice do Almanaque.
 

AVIFAUNA

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

A Cotovia

Carlos A. Ferraz da Conceição

Cotovia-comum (lullula arbórea). Clicar para ampliar.

1. ‘Cotovia’ é uma designação genérica dada a diversas espécies destas aves que, para efeitos de classificação, foram agrupadas na família ‘Alaudidae’, que integra, por exemplo, as calhandras

A cotovia é uma ave pequena, com um comprimento médio entre os 15 cm e os 18 cm, de cor bastante uniforme, sobretudo o castanho, com estrias escuras no dorso e ventre um pouco mais claro. A cabeça exibe um pequeno tufo, a cauda é alongada e em cujas bordas sobressaem duas linhas brancas. Nas patas possuem uma unha mais comprida e recta no dedo posterior.

Cotovia-comum (lullula arbórea)

Encontra-se na Europa, Ásia e Norte de África, sendo que as que vivem em regiões mais setentrionais ou mais a oriente têm movimentos migratórios em direcção ao sul, no inverno.

Os sexos são, de um modo geral, semelhantes. Habitam preferencialmente terreno aberto, em terras lavradas e baldios, alimentando-se de sementes e insectos e nidificando no solo, onde põem de 3 a 5 ovos, incubados pela fêmea durante 12 a 13 dias.

As cotovias têm um voo ondulante, com descidas bruscas seguidas de ascensões lentas. São conhecidas pelo seu canto característico, em regra durante voos prolongados, a grande altura. É um canto muito belo, que se assemelha ao do rouxinol, durando com frequência vários minutos. Os machos costumam cantar descrevendo círculos, elevando-se quase a perder de vista, reduzidos a pequenos pontos no céu. No chão são, porém, difíceis de distinguir, devido ao dorso acastanhado que se confunde com o meio envolvente.

2.  Atentas as diversas espécies existentes, dedicamos umas breves palavras a duas delas, muito frequentes no nosso País e, em especial, no Alentejo – a cotovia-comum (também chamada de cotovia-arbórea ou cotovia-pequena) e a cotovia-montesina.

2.1  A cotovia-comum (lullula arbórea)

Com um comprimento de cerca de 15 cm, possui uma crista curta, habitualmente não levantada (e, por isso, não visível), e uma lista supraciliar clara que quase se une à nuca. Uma sua característica é uma mancha escura, rodeada por um castanho esbranquiçado, na parte superior da orla dianteira da asa. De voo ondulante, empoleira-se com frequência em árvores e arbustos, mas alimenta-se no solo. O seu canto, ouvido sobretudo de manhã cedo e à noite, traduz-se numa sequência de notas melodiosas, com um som maravilhoso, que começa tímido, acelerando e aumentando de intensidade à medida que as notas se tornam mais graves. Este canto é frequentemente proferido em voo, mas também a partir de um poleiro (árvore, poste, etc.).

É uma espécie residente, que pode ser encontrada em todo o território nacional, com maior incidência no interior. No Alentejo, com excelentes zonas para a sua observação, distinguimos as regiões de Marvão, Moura-Mourão, Arraiolos, Serra de Grândola, Mina de São Domingos.

2.2  A cotovia-montesina (Galerida theklae)

De plumagem castanha, com riscas verticais escuras no peito, o seu comprimento ronda os 16 cm. Apresenta uma pequena poupa no alto da cabeça, tornando-a muito parecida com a cotovia-de-poupa. As supra caudais têm um tom ferrugíneo e as penas da cauda são levemente acinzentadas. A mandíbula inferior do bico é convexa.

Prefere os terrenos incultos e pedregosos e voa com frequência para árvores. O seu canto tem um tom suave e melodioso, variado e de alguma complexidade.

Sendo também uma espécie residente, pode ser vista durante todo o ano, abundando em especial na metade interior do País, com um habitat que lhe é mais favorável. No Alentejo é facilmente observável, por exemplo nas zonas de Nisa, Marvão, Mourão, Castro Verde e Mértola.

Cotovia montesina. Clicar para ampliar.

Cotovia montesina

3.  A cotovia sempre foi considerada, desde tempos recuados, uma ave especial, particularmente ‘simpática’, entrando na mitologia, na literatura, no folclore, etc., tanto pela beleza do seu canto como pelo simbolismo do seu voo.

Para os gauleses era uma ave sagrada, continuando através das lendas populares francesas a ser vista como ‘de bom augúrio’. As suas passagens sucessivas da terra ao céu e vice-versa unem os dois pólos da existência e representam a união entre o terrestre e o celeste.

O seu canto é de alegria e, para os teólogos místicos por exemplo, simboliza a oração jubilosa perante Deus. Na Natureza, as cotovias eram as amigas predilectas de São Francisco de Assis, às quais chamava de ‘irmãs cotovias’.

Respeitemos, pois, este pequeno pássaro, para que o seu canto se perpetue e possa ser usufruído pelas gerações vindouras.

Cimo da páginaPágina anteriorPágina seguinte