índice do almanaque
 

A DEGRADAÇÃO DO AMBIENTE,

AS ELEIÇÕES AMERICANAS,

A CRISE FINANCEIRA

E A GRIPE SUÍNA.

FRUTOS DA MESMA ÁRVORE

 

Guilherme Alves Coelho

 

Tal como previmos no número passado, o ano de 2009 caracterizou-se pelo aprofundamento da crise do sistema financeiro mundial. Oficialmente iniciada em finais de 2008, foi-se alargando progressivamente a outros sectores – económico, social e político. Mas para alguns, a crise já existia há muito e compreendia todo o sistema global, incluindo o ambiental. As suas origens eram várias e não se reflectiam apenas no chamado aquecimento global.

Imagem extraída da Internet.

Ao contrário do que uns quantos propagandeavam, as variações do clima não tinham apenas razões humanas centralizadas na produção de CO2. Na sua origem estavam causas humanas que ultrapassavam largamente a referida produção de anidrido carbónico, mas também causas naturais. Este alarmismo, reducionista, seria apenas uma forma de desviar as atenções de outros problemas, de consequências bem mais graves do que as alterações climáticas.

Para muitos especialistas o mundo está em progressiva e irreversível degradação provocada pela destruição indiscriminada dos recursos naturais, pela poluição sem limites, incluindo a provocada por armamento, nuclear e químico, o envenenamento dos produtos alimentares, os gastos energéticos sumptuosos, o fim aprazado dos recursos energéticos conhecidos, etc. Tudo isto contra a imensa maioria da humanidade e em benefício de uma oligarquia poderosa, que continua a enriquecer independentemente das crises (1).

Como sempre, os protagonistas e responsáveis pela maior parte destes problemas são uma minoria planetária de apenas 4% da população mundial. Os E.U.A., embora enfrentando cada vez mais dificuldades, continuam a manter-se na liderança desse protagonismo, sendo o maior consumidor de recursos e o maior poluidor e destruidor do mundo.(2) Daí que os acontecimentos relativos a esse país e seus aliados sejam incontornáveis sempre que tratamos de problemas ambientais e de qualidade de vida ao nível planetário.

Para um mundo farto e aterrado com a agressiva, irresponsável e criminosa governação da dupla Bush/Cheney e seus conselheiros neocons, a eleição de um presidente negro do Partido Democrata, cuja campanha fora um enunciado de promessas de esperança, constituiu uma vaga de alivio.

Passados apenas alguns meses, confirma-se aquilo que os mais avisados previam: as perspectivas abertas com a eleição de Obama não se concretizam, continuando a manter-se, no essencial, todos os problemas que os ultraconservadores deixaram como herança.

Em alguns aspectos, estes até se agravaram, como o refinanciamento do sistema financeiro fraudulento, a não retirada das tropas do Iraque, o envio de mais tropas para o Afeganistão, o alargamento da guerra ao Paquistão, os novos bombardeamentos de civis, a política expansionista, genocida e racista de Israel, as ameaças ao Irão, a manutenção das prisões secretas e dos raptos e a abertura de novas prisões secretas flutuantes, a não resolução do embargo a Cuba, a abertura de mais bases militares na América Latina e em África, culminando com a recente intervenção de militares americanos no golpe de Estado nas Honduras e posterior ajuda financeira. Pesem embora as declarações iniciais de Obama e Sr.ª Clinton, condenando o golpe neste país, a diplomacia USA, tão lesta a defender democracias de pacotilha, permanece muda e queda. Começam-se a levantar legítimas suspeitas de que, ou Obama se encontra refém do mesmos conservadores de sempre, o que configuraria um golpe de estado, ou concorda com eles e mentiu ao eleitorado e ao mundo. O mais certo serão as duas coisas juntas. Por um lado, os complexos militar, industrial/químico e financeiro dos E.U.A., de mãos dadas, continuam apostados em continuar a politica de pilhagem dos E.U.A. Por outro, Obama assume a missão de continuar a suposta predestinação desse país como líder mundial. Comprova-se assim que a mudança no interior do sistema é virtualmente impossível.

Enquanto isso, e talvez para facilitar a aceitação dessa situação, continua a vaga de alarmismo, senão mesmo de terror junto das populações do globo. Para culminar o ano, pródigo em acontecimentos alarmantes, ou alarmistas, propositadamente espalhados ou não, outra notícia surgiu, com uma propagação no mínimo suspeitas: a da gripe suína ou H1N1. Mesmo antes de ser conhecida a gravidade da doença já os governos andavam num afã, ao mais alto nível, todos a uma voz, a “informar” as populações de que um quarto delas, senão mais, iria ficar infectada. Quando uma política responsável apontaria para reduzir o alarmismo nas populações, o que aconteceu foi precisamente o contrário. A crer em tal gravidade da epidemia, tudo indicaria que a OMS e os Governos iriam produzir os seus próprios genéricos, baratos. Mas não. Eis que se vão gastar fortunas (públicas) por esse mundo fora na compra de milhões de vacinas (a monopólios privados). Quem diz gastar para uns, diz obviamente arrecadar para outros. Por acaso, ou talvez não, quando foi divulgada a gripe, a dita vacina estava quase pronta e os governos apressaram-se a encomendar doses imensas à empresa produtora, que, de um dia para o outro via multiplicar os seus lucros centenas de vezes. Por acaso, ou talvez não, a empresa era norte-americana e pertencera ao Sr. Rumsfeld, o ex-secretário da defesa de Bush, cujo governo, fora também comprador de doses maciças de vacinas à mesma empresa quando do anunciado surto de gripe aviária. Daí ao levantar da suspeita de que a gripe era um produto de laboratório propositadamente lançado “no mercado”, com a cumplicidade das autoridades, incluindo as sanitárias, foi um ápice.

Como se vê, o ambiente planetário não melhorou no ano que passou. E o seu principal problema é o mundo continuar à mercê de grupos mais ou menos gananciosos, mais ou menos irresponsáveis, mais ou menos criminosos, que, através da acumulação de dinheiro fácil, chegaram aos lugares cimeiros do poder. As recentes iniciativas das nações mais industrializadas sobre o clima e o desarmamento, destinam-se mais a atemorizar países considerados inimigos e impor metas a outros países em crescimento, do que em assumir a sua quota-parte no desastre climático (3).

Imagem extraída da Internet.

Contraditoriamente, ou talvez não, 2009 pode também vir a ser o ano em que sinais de esperança surgem por algumas partes do mundo, nomeadamente na América Latina, com uma evidência não conhecida há muito. Por mais que a mentira oficial o tente esconder, um mundo novo teima em renascer das cinzas de um mundo velho em decadência. Mas este não dá tréguas, não findará por sua livre vontade e continua a justificar o seu combate cerrado por aqueles que querem ver este planeta livre da barbárie destruidora. Como temos referido em textos anteriores o principal inimigo do ambiente não é o CO2 mas sim o sistema económico/ politico que se impõe pela força ao mundo e o destrói pouco a pouco.

(Dos jornais)

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(1) O sector financeiro está o mesmo que antes; as seguradoras de saúde ganharam com a reforma de saúde, as empresas de energia ganharam com a reforma do sector, os sindicatos perderam com a reforma trabalhista e, certamente, a população dos EUA e do mundo perde, porque a destruição da economia é grave por si mesma. Se o meio ambiente é destruído, os que mais sofrerão serão os pobres. Os ricos sobreviverão aos efeitos do aquecimento global. (Noam Chomsky, em entrevista ao “La Jornada”, 23/09/09)

(2) Um dos problemas ambientais menos conhecidos, mas nem por isso menos importante, é o da quantidade de resíduos radioactivos, bacteriológicos e químicos com que as suas intervenções militares vêm contaminando todo o planeta e não apenas os locais de guerra.

(3) Coincidindo com a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a não proliferação de armas nucleares, realizou-se este mês de Setembro uma Cimeira destinada a preparar a conferência de Copenhaga no próximo mês de Dezembro, na qual os maiores poluidores tentarão um acordo posterior ao de Kioto sobre as alterações climáticas. A China já assumiu que irá fazer mudanças.

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