A Recuperação da fragata "D. Fernando II e Glória", in: "Revista da Armada", n.º 305 e 306, Jan. e Fev. 1998.


7. ENTREVISTA AO DESENHADOR PROJECTISTA DO AA, SR. AGOSTINHO VAZ (AV)
REVISTA DA ARMADA”, n.º 306, Fevereiro 1998, págs. 20-21.

A R. A. teve oportunidade de conversar com o Sr. Agostinho Vaz que é o desenhador projectista responsável pelo projecto de mastreação da Fragata. Vamos começar com uma introdução em que o Sr. Agostinho nos vai falar dos problemas da mastreação.

AV: O projecto da mastreação teve como base inicial um estudo comparativo feito pelo Comandante Malhão Pereira e com estudos de vários autores portugueses desde Fontes Pereira de Melo (1818). O Comandante Malhão Pereira, com base nesses estudos, estabeleceu os comprimentos, diâmetros e massas das peças da mastreação do navio (grande, traquete, gávea) e só a partir desses elementos com as dimensões principais é que se começaram a elaborar os desenhos da mastreação. Começou-se pela geometria das peças, que não são cónicas, e toda a geometria é reproduzida pelos métodos construtivos e depois pelas próprias aplicações. Portanto, quanto à geometria, baseámo-nos em vários processos e métodos da arquitectura naval antiga, como os métodos ou processos da mitra, do raio, dos três quartos; esses foram os processos utilizados. Depois de estabelecida a geometria das peças, mastros, vergas, etc., passou-se ao método de construção das peças, ou seja, o modo como a peça deve ser construída. No que diz respeito aos mastros reais, são compostos por quatro peças, enfaixadas e furadas / pág. 21 / que são colocadas pelo método de enfaixamento cruzado, com buchas que impedem o deslocamento dessas peças, e ainda muitas outras peças que se irão aplicar nos mastros, por exemplo, as romãs, dos cestos de gávea, as pegas, e todo um conjunto de peças de diversas aplicações para os mastros. Uma coisa que se procurou sempre respeitar foi a genuinidade da arquitectura naval portuguesa, procurando-se sempre recorrer a livros e a desenhos de autores portugueses, e só quando não tínhamos informação alguma é que recorríamos a autores estrangeiros. Inclusive, nós temos na "nossa" mastreação peças genuínas que não existem em navios nenhuns iguais ou do mesmo tipo, como, por exemplo, as romãs, etc., que não existem em fragatas à vela da mesma época: alguns têm as mesmas peças, mas com uma geometria diferente.

RA: Como se processou relativamente ao desenho dessas peças genuínas da arquitectura naval portuguesa?

AV: Temos muito poucos desenhos antigos, e tivemos que recorrer nalgumas peças a livros especializados, mesmo estrangeiros, caso das romãs, do curvatão, dos vaus, das pegas, etc., e aí em pormenor houve que recorrer a autores estrangeiros.

RA: E em termos de tempo de execução destes desenhos, foi uma operação longa?

AV: Nós não podemos separar a parte de investigação e pesquisa da parte de execução, pois as duas coisas estão intimamente ligadas, e assim podemos dizer que demorou, entre estudo e desenho, um pouco mais de um ano.

RA: Quantos desenhos ocupa a parte da mastreação do navio?

AV: Os desenhos gerais descritivos são em número de oito, mas depois em, pormenor, como, por exemplo, só para as ferragens de bordo são mais de trinta folhas.

RA: Quanto à matéria-prima (madeira) de que são feitos os mastros e as vergas, pode descrever-nos sumariamente algo sobre este tema?

AV: Bem, os mastros, vergas e mastaréus de 2.º nível são construídos em pinho virgem, importado da Finlândia, em árvores. As vergas maiores são feitas em duas árvores, e depois são escarvadas e encaixadas, dadas as suas dimensões. As vergas menores e mastaréus são todos de uma peça única, dada a sua menor dimensão.

 

 

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