Ficções e Recordações - 2015

Relações Internacionais

Geminações

Jogos Sem Fronteiras

Mesa Permanente Luso-Espanhola − Uma Rota para a Europa

Rede Europeia dos Países com Indústria Automóvel

Encontro Internacional de Aquicultura

O facto de pertencer ao quadro dos Serviços de Turismo da Câmara Municipal de Aveiro levou a que me tivessem sido atribuídas tarefas no âmbito das “Relações Internacionais”. Não é meu intuito fazer um relato de todos os trabalhos que desempenhei neste sector, mas tão só pôr por escrito alguns casos que considero interessantes, pelo que não me preocuparei com a sequência cronológica, nem com a exactidão de datas, para o que teria de fazer consultas documentais que diminuiriam o prazer que me dá este exercício de avaliação – e, em certa parte, de manutenção – do estado da minha memória que os anos e a consequente perda de neurónios vão inelutável e aceleradamente corroendo.

 

Geminações

Para começar, decidi, sem que para tal tivesse nenhuma razão, começar por experiências que tive no sector das “Geminações”, área esta em que o Município de Aveiro atravessou uma fase de grande actividade, tendo “Cidades Irmãs” disseminadas pelos quatro cantos do mundo: Brasil (Belém do Pará e Pelotas), Japão (Oita), África (Santa Cruz – Cabo Verde e Ilha do Príncipe – São Tomé e Príncipe) e Europa (Espanha, Ciudad Rodrigo e França, Bourges e Arcachon).

Na sequência de uma visita de dois elementos da Vereação a uma cidade francesa de que não me recordo o nome, a Câmara convidou a “Musique Municipale de Bourges” para vir a Aveiro dar um concerto, sendo todos os encargos, excepto a viagem de comboio, por conta da autarquia.

Fui incumbido de tratar do alojamento, refeições, organização do concerto e programa social. Quando me foi entregue a lista dos visitantes, surpreendeu-me, à primeira vista, o seu número (quase noventa); a minha surpresa aumentou, quando constatei que havia uma vintena de nomes femininos; e continuou a subir de grau, ao constatar que seriam necessários vinte e tal quartos de casal. Nunca tinha visto nenhuma Banda francesa... As senhoras seriam músicas? Majorettes? Como se justificaria uma percentagem tão elevada de casais?

Segundo indicação que me tinha sido transmitida, por razões de ordem económica, alguns visitantes deveriam ficar em quartos da “Escola Santa Joana”, no largo Maia Magalhães, e os restantes no Hotel Imperial, onde seriam servidas as refeições.

Solicitei dois autocarros dos transportes urbanos, aos Serviços Municipalizados, e, no dia da chegada, acompanhado por uma colega, esperámos a Banda, na Estação da CP. Quando o grupo desembarcou, o meu grau de surpreendimento voltou a aumentar, na medida em que uma boa metade do grupo era constituída por casais da terceira idade, de mala de viagem na mão, mas sem transportar nenhuma caixa ou saco que fosse susceptível de conter um instrumento. Distribuídas as pessoas pelos autocarros, em função do local de destino, a minha colega dirigiu-se para a Escola e eu para o Hotel.

Antes do jantar, fui interpelado por um senhor idoso que me perguntou se tinha sido eu o responsável pela distribuição dos quartos. Face à minha resposta afirmativa, quis saber a razão de semelhante pergunta, porque, tendo pago tanto como os outros, ele e a mulher estavam alojados num quarto sofrível, num estabelecimento de ensino, e outras pessoas estavam instaladas num hotel dotado de boas condições. Respondi que deveria haver qualquer confusão, já que ninguém pagaria nada pelos quartos nem pelas refeições, porque a estadia da Banda seria paga pela Câmara. Redarguiu que não só não fazia parte da “Musique Municipale de Bourges”, mas também que se tinha inscrito para um passeio pago a Portugal, organizado pela predita Banda, digressão essa que tinha sido publicitada na Imprensa regional, afirmações estas que comprovou, exibindo o respectivo recibo de pagamento e, ainda, um recorte de um jornal de Bourges.

Depois de ter procedido, da maneira mais discreta possível, a um breve inquérito, apurei os factos que a seguir menciono, os quais transmiti ao Presidente da Câmara, Girão Pereira, que foi o primeiro elemento da edilidade a chegar para o jantar de boas vindas, o qual não ficou menos estupefacto do que eu.

1º – A “Mairie de Bourges” era uma das mais importantes autarquias detidas pelo Partido Comunista Francês.

2º – A “Musique Municipale de Bourges” não tinha nenhuma ligação com aquela Câmara e tanto se podia chamar assim como “Musique 14 Juillet” ou “La Musique Berruyère” (os habitantes daquela cidade são chamados berruyers).

3º – A “Mairie de Bourges” tinha tido conhecimento da deslocação, mas não tinha tido nela qualquer responsabilidade, ao contrário do que pensava a Câmara de Aveiro.

4º – A viagem tinha sido organizada e publicitada somente pelo Maestro da Banda que tinha cobrado bilhetes a toda a gente, inclusive aos músicos, como se a Câmara de Aveiro não suportasse nenhuns encargos, tendo, com isso, deduzi eu e mais tarde confirmou-se, arrecadado uma boa maquia.

Posteriormente, este caso foi denunciado à “Mairie de Bourges” que pouco pôde fazer, a não ser tornar pública a condenável atitude do Maestro, porquanto não tinha sido cometida nenhuma ilegalidade, já que o convite lhe tinha sido dirigido.

Todavia, e apesar de terem começado mal, as relações com Bourges acabaram por se iniciar não só a nível oficial, mas também se tornaram frequentes e diversificadas, com visitas recíprocas, por exemplo, das Associações de Comerciantes, do Pessoal dos CTT, de Associações Culturais – o “Grupo Folclórico de Eixo”, numa ida a Macon que eu acompanhei, pernoitou e fez uma exibição em Bourges – e várias outras de que não me recordo, tendo este bom entendimento culminado numa geminação entre as duas cidades.

Aveiro foi mesmo convidada a fazer-se representar na “Foire de Bourges”, importante feira do centro de França, onde foi montado um Posto de Informação Turística, por mim e por uma colega (Maria Manuel Vilhena Barbosa) que lá ficou até ao fim do certame, tendo eu regressado a Aveiro com o Vereador Luís António Moreira Tavares, que participou na cerimónia da Inauguração.

Durante essa visita inaugural, que também acompanhei, aconteceu-me algo que não resisto a contar: o “Maire” Jacques Rimbault (homófono do poeta Rimbaud), quando chegámos ao espaço ocupado pela Força Aérea Francesa que, para captar pessoal para as suas fileiras, tinha montado um stand, cuja grande atracção era o simulacro de um sistema de ejecção de emergência para os pilotos de aviões de combate, resolveu exibir-se para os seus votantes e, no fim, perguntou, do alto do seu metro e oitenta e tal, se mais alguém gostaria de experimentar; subiu-me o patriotismo à cabeça e lá fui eu dar um salto ao tecto do pavilhão, com grandes queixas do meu estômago, que me deu a sensação de que teria preferido ter ficado no rés-do-chão. Não ficaram por aqui as minhas experiências militares em Bourges, porque, durante outra estadia, tive a oportunidade de visitar a fábrica onde eram produzidos os mísseis, que se tornaram muito conhecidos, (“Exocet” ou “Super-Étendard”, ou os dois, já não me lembro), quando foram utilizados pelos argentinos, na Guerra das Malvinas.

Não quero encerrar este capítulo sobre Bourges sem falar de um amigo berruyer, chamado Robert Terminé, membro da “Associação de Amizade França-Portugal”, de quem fiquei a conhecer alguns traços e casos curiosos que ficaram registados na minha memória. Antigo combatente da Segunda Grande Guerra Mundial, tinha levado um tiro numa perna – não podia ver nenhum alemão da sua idade, sem pensar que poderia ter sido ele o maldito boche que o tinha chumbado –, pelo que tiveram de lhe extrair um bocado de osso que ele guardava religiosamente numa vitrina exposta na sua adega, onde cheguei, por mais do que uma vez, a beber uns copos e a comer uns aperitivos, pousados sobre um pesado manto negro, com debruns dourados, que cobria a sua futura urna. Para terminar este parágrafo dedicado a esse velho amigo, referirei algo que me foi contado por ele. Um dia, em Salreu, de visita a casa de uns emigrantes seus conhecidos, depois de almoçar, quis demonstrar os seus conhecimentos de português; diga-se que gostava de o fazer, mas eles eram tão reduzidos que, quando estava a falar comigo e eu deixava de o compreender era porque ele estava a tentar comunicar na nossa língua. Aproveitou ter aparecido o gato da casa e disse: “Eu gostar muito de gatôs”; os donos da casa pensaram que ele queria gateaux (bolos) para a sobremesa, foram buscá-los e ele disse “Eu dizer gostar do chat (gato) ; então, deram-lhe chá. Robert acabou por explicar, em francês, que o que ele queria dizer era “Eu gosto muito de gatos”, mas acabou por comer os ovos-moles, que ele bem conhecia e apreciava, acompanhados de uma chazada.

De todas as geminações, a mais potente e com resultados mais evidentes e duradouros para Aveiro foi a celebrada com Arcachon. Nasceu de um encontro casual de delegações das duas autarquias, creio que em Bordéus, e, considerando as semelhanças existentes, não entre as duas cidades que nada têm a ver uma com a outra, mas entre as duas regiões – o bassin arcachonense e a sua zona envolvente têm grandes parecenças com a nossa região lagunar –, as visitas oficiais iniciaram-se e estabeleceu-se um intercâmbio a nível de várias instituições. No que me diz respeito, efectuei deslocações a essa cidade, acompanhando as seguintes entidades:

– uma equipa de juvenis do “S. C. Beira-Mar”, que participou num torneio de futebol;

– o “Coral Vera Cruz” que deu um concerto, juntamente com um Orfeão local, na Igreja de Notre Dame;

– uma delegação dos Bombeiros Velhos, convidada para o aniversário da corporação local;

– os participantes do “Encontro Internacional de Aquicultura”, evento de que falarei, mais à frente;

– quatro marnotos aveirenses que se deslocavam à Guérande, a convite da União Europeia, para visitarem o salgado daquela península e trocarem experiências com os seus colegas franceses;

– o doutor Vasco Branco, que tinha sido convidado para fazer um grande painel cerâmico, num túnel da avenida marginal;

– o Vereador João José Ferreira da Maia aproveitou a ida comigo para tratar de assuntos referentes à recolha e tratamento de lixos, quando eu fui preparar as comemorações do “5º Aniversário da Geminação”.

Finalmente, ajudei o pintor aveirense e meu amigo, Jeremias Bandarra, a montar uma exposição comemorativa do supracitado aniversário, que esteve aberta ao público, durante dez dias, na Sala de Exposições, anexa ao “Hôtel de Ville”. Nessa mostra, para além de trabalhos dos mais conceituados artistas plásticos e artesãos aveirenses, também se prestava informação turística não só através de folhetos, mas também de um “Quiosque Interactivo” que continha a informação constante do meu “Roteiro” e na concepção do qual eu tinha colaborado com um técnico de Informática de uma empresa de que era sócio o Eng.º Belmiro Couto. Tive o grato prazer de ser procurado por uma pessoa que se tinha deslocado expressamente de Paris para ver a referida máquina que, para meu espanto, foi considerada, por esse visitante, como uma novidade.

Durante esta estadia, auxiliei as entidades locais na elaboração do programa das festividades referentes ao predito aniversário, por exemplo, fazendo as necessárias traduções, festas estas, cujo prato forte foi constituído por um espectáculo a cargo da “Confraria de São Gonçalo” e em que participou a fadista aveirense Lisete da Conceição, com o guitarrista Armindo, que já tinha acompanhado Amália Rodrigues.

No que respeita à vinda a Aveiro de Delegações de Arcachon, referirei, somente, que os Bombeiros do Sud Bassin não só se fazem representar, ainda hoje, em todos os aniversários dos Bombeiros Velhos, mas também que têm levado a cabo frequentes e importantes acções de formação junto destes seus colegas aveirenses.

Mas o que me levou a afirmar que de todas “as geminações, a mais potente e com resultados mais evidentes e duradouros para Aveiro” tinha sido esta, foi a circunstância de ela ter sido determinante para que se instalasse, em Aveiro, o actual “Centro Comercial Glicínias Plaza”, com todas as consequências que isso acarretou a nível comercial, económico e até urbanístico – creio não ser excessivo afirmar que foi a primeira vez que a mancha citadina se estendeu para sul da 109.

Assim sendo, penso que merece que se dê notícia de um facto pouco conhecido. Há perto de vinte anos, a “Leclerc” pensou em expandir a sua rede de centros comerciais para a Península Ibérica, tendo incumbido um seu funcionário de fazer uma prospecção. Aconteceu que essa pessoa, quando visitou a Aveiro, pensou que esta cidade seria o sítio ideal para instalar o Centro de que quereria ser o Director. Tentou marcar uma entrevista com o Presidente Girão Pereira, mas ao fim de duas ou três tentativas goradas, voltou para casa, situada na localidade de Pyla, que pertence à comuna de Arcachon. Um dia, encontrou o respectivo “Maire”, Pierre Lataillade, que tinha sido seu professor de Inglês, o qual já não o via há uns tempos, pelo que lhe perguntou em que é que se ocupava; disse-lhe que continuava a trabalhar para a “Leclerc” e falou-lhe do seu projecto para Aveiro e dos seus problemas em falar com o Presidente da Câmara local. “Se é só esse o teu problema, vai deixar de existir, dentro de cinco minutos; vem comigo ao meu gabinete.” Um telefonema e dois dias depois a desejada entrevista teve lugar. Mais tarde, foi dito a essa pessoa, por um membro do “Conseil Municipal” de Arcachon”, que quem lhe poderia ser muito útil, em Aveiro, seria eu, porque conhecia muita gente, pelo que, durante uns dezassete anos, me vi envolvido num processo de criação de Centros Comerciais, em Aveiro e Figueira da Foz, acabando por ser sócio gerente de uma empresa concessionária de estabelecimentos nessas grandes superfícies.

Com a outra Cidade-Irmã europeia, Ciudad Rodrigo, tive inúmeros contactos, mas como a maior parte deles respeitou à “Mesa Luso-Espanhola – Um Caminho para a Europa”, falarei deles mais adiante.

No que respeita às geminações africanas, a primeira tarefa de que fui incumbido foi a do fornecimento de material para os alunos da Ilha do Príncipe. Depois de ter sabido, através da Embaixada, qual era a população escolar e a sua distribuição etária, adquiri, a peso, nas livrarias da cidade, não só antigas edições de livros para as disciplinas de Português (incluindo Gramáticas), Matemática e Ciências Naturais, para os seis primeiros anos, mas também cadernos lisos, pautados e quadriculados – a muitíssimo bom preço, porquanto, pasme-se, as capas estavam desactualizadas e os meninos portugueses já não os queriam – e, ainda, lápis, lápis de cores e borrachas que me dei ao trabalho de cortar ao meio, para serem mais.

Este trabalho chegou ao conhecimento da “Associação Sul”, constituída por africanos que se dedicavam à cooperação com os seus países, e, um dia, fui procurado por alguns deles que me alertaram para a possibilidade de, caso não fossem tomadas previdências, todo aquele material poder ir parar à mão de alguém sem escrúpulos, que o viesse a vender e embolsasse o respectivo lucro. Falei com o Presidente da Câmara; mandaram-se fazer autocolantes com um barco moliceiro, onde se dizia que aquele livro ou caderno era uma oferta da Câmara Municipal de Aveiro. Contudo, considerando, por um lado, que essas folhas ou mesmo os autocolantes poderiam vir a ser arrancados e, por outro lado, que esse processo não poderia ser aplicado ao restante material, foi contactado o embaixador português em São Tomé, cujo nome, se não me engano, era Anacoreta Correia, que assistiu à abertura do contentor e à entrega do material ao Ministro da Ilha do Príncipe, Eng.º Umbelina, conforme me foi confirmado pelo próprio, quando, durante uma estadia, em Aveiro, me acompanhou numa deslocação a Salamanca, onde foi motivo de curiosidade pública, porque, apesar das inúmeras visitas que fiz a essa cidade, não tenho ideia de lá ter visto nenhum negro.

Mais tarde, encarregaram-me de comprar tubagem (galvanizada e plástica), para abastecimento de água da padaria de uma Missão Católica, situada em São Lourenço dos Órgãos, no concelho cabo verdeano de Santa Cruz e de arranjar roupa para os habitantes necessitados daquela Cidade Irmã. No que se refere ao vestuário, organizei um peditório nos estabelecimentos escolares concelhios e a resposta, se bem que abundante, por vezes não foi a mais apropriada, pois recebi muitas roupas de lã e guarda-chuvas que foram enviados para uma comissão que apoiava os moradores do bairro de Santiago. Para acondicionar este material, pedi à Feira Nova, única grande superfície existente, à época, que oferecessem cartões utilizados para as bananas, que uma camioneta da Câmara foi buscar, durante uns dias. Escolhido o vestuário, foi acondicionado, por categorias, dentro das caixas que, após etiquetadas a marcador, foram enviadas, com os preditos tubos, para a agência transportadora, para se juntarem à ambulância e ao carro cisterna, oferecidos pelos Bombeiros Velhos que, por sua vez, receberam contrapartidas da Câmara.

Passados uns tempos, desloquei-me a Cabo Verde, integrando uma Delegação de Aveiro, chefiada pelo Presidente Girão Pereira e incluindo o 1º Comandante e o Presidente da Direcção dos Bombeiros Velhos, respectivamente, António Manuel Machado e Ulisses Rodrigues Pereira e, ainda, o proprietário de uma empresa que se dedicava à adaptação de viaturas para uso das Corporações de Bombeiros, pelo que tive a oportunidade não só de assistir à inauguração-exibição da ambulância que percorreu, com a sirene a tocar e integrada num cortejo automóvel, toda a povoação de Pedra Badejo (nome da sede concelhia), mas também de participar na primeira viagem do carro cisterna que foi abastecer um novo depósito de uma pequeníssima aldeia, chamada Rebelo, perdida no interior montanhoso da ilha de Santiago. Curiosamente, passados muitos anos, em Aveiro, um cabo verdeano perguntou-me, para meu espanto, se eu não tinha estado presente naquele acontecimento, para ele importantíssimo. Visitei, também, entre outras coisas, por exemplo, o antigo campo de concentração, do Tarrafal – por ironia, perto, há uma bonita praia de areia branca, com o mesmo nome – e a Missão de São Lourenço dos Órgãos, onde tive a oportunidade de beber, pela única vez e sem receio, água não engarrafada e comer biscoitos provenientes da padaria, para que tinham sido enviados os tubos.

Perguntei ao Padre pela roupa. Respondeu-me que esse assunto era da responsabilidade da Câmara. Uns dias depois, quando dava uma volta pela povoação, vi uma garagem aberta e, lá dentro, estava um Volvo que, soube mais tarde, tinha sido oferecido por uma ONG sueca, mas, tendo avariado e não havendo peças de substituição, estava encostado, tal como acontecia a todas as outras viaturas com problemas semelhantes. Mas o que me leva a falar desta garagem é que algo, no seu interior, me pareceu familiar: entrei e vi, ocupando toda a parede do fundo e empilhadas até ao tecto, as “minhas” muitas dezenas de caixas de roupa, por culpa das quais ainda tenho, hoje, uma hérnia inguinal. Enquanto estive na ilha, nunca ouvi ninguém falar das vestimentas. Assim, se já não era um grande crente em alguns tipos de caridadezinha para com os coitadinhos, a partir daí fiquei a ser total e irreversivelmente incréu, nesta matéria.

Na véspera da nossa partida, fui encarregado de participar numa reunião com representantes de associações locais que queriam apresentar petições. Percebi que, se fosse para satisfazer os pedidos, seria o Presidente quem estaria presente, pelo que tomei escrupulosamente nota de tudo – instrumentos musicais e respectivo material para sonoplastia, bolas, chuteiras e equipamentos de futebol –, dizendo, no final, que, chegado a Aveiro, iria apresentar a lista a quem tinha poder de decisão sobre o assunto.

Para acabar este capítulo sobre as geminações, direi que desta visita resultou a vinda a Aveiro, a expensas da Câmara, de uma menina de uma dezena de anos que tinha um grave problema cardíaco. Fui buscá-la a Lisboa, com a minha mulher, proporcionei-lhe um passeio na Baixa, durante o qual a criança, de olhos esbugalhados, não despegou o nariz do vidro da janela e, no fim, quando lhe perguntei de que é que tinha gostado mais, respondeu-me: “DA LUZ!!!”. Esteve uns tempos hospedada em casa do doutor Rui de Brito, foi examinada por especialistas, mas acabou por voltar para a sua terra, sem ser operada, já não sei por que motivo.

 

Jogos Sem Fronteiras

Em 1979, Aveiro entrou nos “Jogos Sem Fronteiras” realizados em Saint-Gaudens (França), voltando a participar nas edições levadas a efeito em Annecy (França), 1981, Budapeste, 1982 e 1997, Roznov (Checoslováquia), 1992 e Atenas, 1993.

Colaborei com os seleccionadores nacionais e treinadores locais, facultando-lhes os meios necessários às suas funções – em 1981, o seleccionador nacional, José Goulão, pediu-me, até, para o ajudar na escolha da equipa de Braga, utilizando os meus métodos e as minhas fichas, pelo que me desloquei, com ele, ao Estádio 1º de Maio – e acompanhei as equipas em todas as deslocações, excepto a Annecy, onde, por razões, creio eu, de ordem política, fui substituído por um funcionário municipal, meu amigo, que nunca tinha saído de Portugal e só falava português. Uma greve dos CTT/TLP não possibilitou a retransmissão desses Jogos, por ausência de som, conforme consta da acta nº 39 da CMA, de 29-09-1981, mas juro, por todos os santinhos, que “não tive parte nem arte em tal malcarrilhada”, como diria Gil Vicente, mas deu-me cá um gozo... Curiosamente, em 1997, uma Câmara da mesma cor política entendeu que a minha experiência poderia ser útil, pelo que pediu a minha colaboração (na altura, já estava aposentado), tendo mesmo acompanhado a delegação aveirense à Hungria, sem que para tal me tivesse sido pedido para mudar de opções políticas, só não dizendo de cor, porque nunca estive filiado em nenhum Partido.

As equipas de Aveiro, treinadas, na primeira intervenção, pelo professor Costa Lobo e, nas restantes, pelo também professor de educação física, António Bernardino, obtiveram vários lugares nas tabelas classificativas, tendo mesmo vencido os Jogos de Roznov, pequena cidade, hoje checa e situada perto da fronteira com a Eslováquia.

Para preparar a nossa primeira participação, desloquei-me a Lisboa, para ter uma reunião com José Fialho Gouveia que, na altura, coordenava as participações nos JSF, tendo-me sido dito que, para além da parte desportiva, deveríamos ter muito cuidado com os aspectos social e publicitário, porquanto se tratava de uma representação nacional e a transmissão seria em directo (só aconteceu nas duas primeiras edições) e em horário nobre. Um aspecto particular para que me foi chamada a atenção, foi para que haveria troca de lembranças não só entre as cidades concorrentes, mas também entre os participantes e que, até aí, Portugal tinha deixado uma boa imagem. Chegado a Aveiro, transmiti o que me tinha sido dito ao Vereador José da Cruz Neto, que me deu mão livre para tratar do assunto.

Assim:

– Para as cerimónias públicas, a equipa vestiria casaco azul-escuro, com o logotipo do moliceiro, bordado no bolso do peito, calça cinzenta, camisa branca, gravata azul com riscas pretas (ainda tenho a minha), meias pretas e sapatos pretos.

– Para os treinos e durante o dia, fato-treino vermelho, com cabeção branco (design de Jorge Trindade).

– Foi criada uma mascote para a equipa, pelo predito designer aveirense: um “Pato Bravo” preto, em peluche, com 1,70 m de altura, da qual se fizeram largas dezenas de miniaturas, no mesmo material.

– Para cada cidade participante ofereceu-se: uma miniatura do barco moliceiro, com 0,80 m, uma barrica de ovos-moles, das maiores, uma peça da Vista Alegre, com decoração original baseada nos painéis dos moliceiros, da autoria do supracitado artista, um prato cerâmico, pintado à mão pelo artesão José Augusto, com um motivo regional, uma miniatura da mascote, uma camisola branca com a imagem da mascote e o nome da cidade onde se disputavam os Jogos, uma garrafa de vinho do Porto e publicações turísticas.

– Para cada elemento das equipas, incluindo a nossa, deu-se: um saco típico de Pardilhó, com o logotipo do moliceiro, também de Jorge Trindade, contendo uma miniatura da mascote, uma camisola branca com a imagem da mascote e o nome da cidade onde se disputavam os Jogos, uma lembrança de quase todos os concelhos do Distrito, uma pequena garrafa de amostra de vinho do Porto e, ainda, folhetos turísticos.

– Foram distribuídas pela assistência dezenas de miniaturas da mascote e da camisola com a sua representação.

– Os encargos não foram tão elevados como poderá parecer à primeira vista, porque muitas das coisas – camisas, gravatas, sapatos, as peças da Vista Alegre, algumas das lembranças concelhias e o vinho do Porto – foram oferecidas a troco de menções publicitárias, ditas por mim, durante uma entrevista que me foi feita, com essa intenção, para a RTP, por Fernando Pessa, ocasião essa em que falei, pela primeira vez, para um público televisivo.

A Delegação deslocou-se em autocarro e, na fronteira espanhola, tivemos problemas, porque, por mais que explicássemos ao agente alfandegário, para que se destinava todo aquele material, ele dizia sempre que era “mucha mercancía”. Valeu-nos um telefonema feito para Lisboa pelo Presidente Girão Pereira, para seguir viagem, sem pagar os respectivos direitos.

Em Saint-Gaudens, no dia aprazado para a troca de presentes, que se efectuou no ginásio de um estabelecimento de ensino, fiquei desconfiado, porquanto o nosso material ocupava, totalmente, o fundo da sala, e, para as outras representações e equipas, só havia uma mesa para cada país.

Resumindo: para além de algumas brochuras e folhetos, só nos foi oferecida, pela cidade jugoslava, uma prenda: uns calções de banho, para o supracitado Vereador.

Concluindo: fizemos figura de ricos (para não dizer de parvos), mas serviu-nos de lição. Nas seguintes participações, nunca mais se pensou em fato de passeio; para utilizar aquele tivemos que inventar uma volta pelas ruas da cidade. Os fatos de treino também provaram não ser necessários. Para oferecer as lembranças, que passaram a ser muito simples, utilizaram-se sacos de plástico do Turismo. O “Pato Bravo” perdurou como mascote, pois foi um grande êxito, mesmo entre os organizadores europeus e a nível televisivo apareceu, em várias edições, nos ecrãs, mas só se levava o grande. Continuou-se a oferecer as camisolas com a imagem da mascote, só mudando o nome da cidade, onde se realizavam os Jogos. Para as cidades concorrentes, manteve-se a oferta da miniatura do moliceiro e do prato da autoria do artesão Zé Augusto.

 

Mesa Permanente Luso-Espanhola

Uma Rota para a Europa

Quando, em 1991, a Lista, de que eu fazia parte, perdeu as eleições para a “Região de Turismo da Rota da Luz”, fui convidado a continuar como funcionário e, não tendo aceitado, dei por finda a minha comissão de serviço e voltei para a Câmara Municipal.

A primeira tarefa que me foi confiada foi a de dar corpo a uma ideia surgida no seio da “Mesa Permanente Luso-Espanhola – Uma Rota para a Europa”. A Câmara de Aveiro tinha sido incumbida de criar uns jogos desportivos que viessem a ser disputados pelos municípios portugueses e espanhóis que formavam aquela Associação, cuja principal finalidade era a criação de uma via rápida que os unisse à Europa, desejo esse que, em Portugal, se veio a concretizar com o IP5 que deu origem à actual A25.

Propus que se organizassem, anualmente, os “Jogos Desportivos Luso-Espanhóis – Uma Rota para a Europa”, nas modalidades de Andebol, Atletismo (de estrada, masculino e feminino), Basquetebol, Futebol e Natação (masculina e feminina), para jovens de 15 anos, integrando equipas representativas de Aveiro (nos últimos dois anos, com elementos da Figueira da Foz, pelo que se passou a chamar equipa IP5-Litoral), Viseu, Guarda, Covilhã e Salamanca. Em 1991, tiveram lugar em Aveiro, em 1992, em Salamanca, em 1993, em Viseu, em 1994, na Covilhã e em 1995, na Guarda. Propus a instituição de um troféu (uma talha da Vista Alegre, com o Barco Moliceiro, a Sé da Guarda e a Plaza Mayor de Salamanca), para ser conquistado pela equipa que vencesse os Jogos, três anos seguidos ou cinco alternados, o qual foi ganho por Aveiro que venceu todas as edições, se bem que as duas últimas integrada na equipa IP5-Litoral.

Coordenei a participação de todas as representações aveirenses, cujos aspectos desportivos foram sempre da responsabilidade das respectivas associações distritais e colaborei com as outras cidades, sempre que tal me foi solicitado. Esta colaboração foi reconhecida pelo Ayuntamiento de Salamanca que me ofereceu um bonito quadro com duas placas metálicas, uma com a Plaza Mayor e outra da qual consta a seguinte dedicatória: “AYUNTAMIENTO DE SALAMANCA – II Juegos Deportivos Lusos-Españoles 'Un camino para Europa' – A Diamantino Dias en reconocimiento a su labor organizadora – Salamanca 1992”.

Para publicitar a primeira edição dos Jogos, organizei uma Caravana Automóvel, em que cada viatura ostentava um mastro com a bandeira de um dos municípios da “Mesa Permanente”, precedida por um carro com painéis alusivos àquela Associação e aos Jogos em si, a qual saiu da Plaza Mayor salmantina e percorreu as ruas dessa cidade e as de Ciudad Rodrigo, Fuentes de Oñoro, Guarda, Viseu e Aveiro, terminando o percurso na Praça da República. Por razões de falta de tempo, não se passou nem na Covilhã, nem em Béjar, nem em Tordesillas, neste último caso, com especial pena da minha parte, pois é uma cidade que me merece um especial carinho, porquanto tive a honra de receber um convite pessoal para assistir às cerimónias “Comemorativas do V Centenário do Tratado”.

Com a realização deste evento, aconteceu-me algo de original e caricato. Como a caravana partia cedo, os condutores das viaturas, todos residentes em Aveiro, teriam de dormir em Salamanca. Assim, uns dias antes, desloquei-me a essa cidade e reservei quartos no Hotel Condal, porque se situava na Plaza de Santa Eulalia, onde havia um grande estacionamento subterrâneo. No dia seguinte, telefonou-me o Consejal Angel Calvo, para me dizer que o hotel exigia o pagamento de garantias para manter a reserva; pedi-lhe para reservar os quartos noutro hotel de três estrelas e, passadas umas horas, comunicou-me que o tinha conseguido no Hotel Pasaje, situado numa das passagens da Plaza Mayor. Na noite em que lá dormi, tendo-me esquecido de comprar um jornal para servir de soporífero e, como não havia TV no quarto, procurei nas gavetas, na esperança de encontrar uma bíblia – muitos dos meus conhecimentos na matéria foram assim adquiridos – e qual não foi o meu espanto, quando vi que uma das gavetas da mesa-de-cabeceira estava totalmente preenchida, mesmo nos bordos, com mensagens em espanhol, português, francês, inglês e alemão. Consegui arranjar um pequeno espaço, para deixar ficar a minha colaboração, naquela obra plurilingue colectiva, escrevendo a tradução do provérbio francês que me veio à cabeça (“faute de merles, on mange des grives”): “à falta de livros, lêem-se gavetas”. Deitei-me a ler, de papo para o ar, a leitura cumpriu a sua missão somnífera e eu acordei quando a gaveta me caiu na cara. Depois deste episódio, creio que me posso gabar de ser a única pessoa que já adormeceu a ler uma gaveta.

Para além dos Jogos, participei praticamente em todas as reuniões da “Mesa Permanente”, em todas as cidades portuguesas e espanholas, sendo mesmo a minha última tarefa, antes de me aposentar, em 31 de Outubro de 1996, a organização de um encontro desta Associação inter-municipal, em Aveiro.

 

Rede Europeia dos Países com Indústria Automóvel

Em 1991, fui com o Presidente Girão Pereira a uma reunião, na Associação de Municípios, onde a Câmara foi eleita ou nomeada (não posso precisar) para representar Portugal na “Rede Europeia dos Países com Indústria Automóvel” (“REPIA”).

Mais tarde, o Presidente, que iria estar ausente da cidade, delegou-me a representação, numa reunião daquele “Rede”, que teve lugar em Valladolid, e na qual participaram, para além de mim e dos espanhóis, franceses, italianos, alemães, belgas e britânicos (galeses). Como não estava dentro do assunto, pedi autorização, que foi concedida, para ser acompanhado e assessorado por um representante de uma associação de fabricantes de componentes para a indústria automóvel, presença esta que foi muito bem acolhida por todos os participantes que, exceptuando o representante do Ayuntamiento que nos recebia, não eram políticos.

Passado pouco tempo, realizou-se nova reunião, em Bruxelas, convocada pela “Comunidade Europeia”, que apoiava a “REPIA”, para ser feito o ponto da situação, na qual estive também presente, por delegação que me foi confiada, mais uma vez, pelo Presidente. Como não me poderia fazer acompanhar por um técnico, pedi, à supracitada Associação, que me fossem fornecidos elementos que permitissem que a minha participação fosse o mais eficaz e útil possível, dados esses que me foram facultados em francês e inglês.

A reunião, a que compareceram praticamente as mesmas pessoas da de Valladolid, foi presidida por uma funcionária da CEE que começou por dar a palavra a um dos galeses, situados à sua esquerda, que falou em inglês; e as intervenções seguiram-se, no sentido dos ponteiros do relógio: os franceses, em francês e os belgas, também em francês (recordo-me que um dos seus problemas era a grande intensidade de trânsito de camiões porta-contentores, no interior do Porto de Antuérpia, que causava grandes demoras que prejudicavam o funcionamento do sistema JIT (just in time), adoptado pelas suas fábricas de montagem).

Eu seria o quarto. Era a primeira vez que participava numa reunião àquele nível e estava à espera que houvesse serviço de tradução; em Valladolid, compreendia que tal não tivesse acontecido e que nos tivéssemos ajudado uns aos outros, agora, na sede da comunidade?! Resolvi protestar e, quando chegou a minha vez, comecei a falar em português, perante a estupefacção de toda a gente. A senhora, que presidia, interrompeu-me, ao fim de dois ou três minutos, para perguntar porque é que eu estava a falar em português; respondi-lhe que o fazia por duas razões: porque era a minha língua materna, tal como tinha acontecido com os três anteriores intervenientes e que o português era falado por mais de 218 milhões de pessoas, o que o colocava em sexto lugar na tabela das línguas mais faladas do mundo, enquanto o francês só aparecia em nono lugar com 130 milhões. A senhora elucidou-me que, nas reuniões de trabalho, não havia tradutores, e que os idiomas utilizados eram o inglês e o francês, pedindo desculpa de tal não ter sido mencionado na convocatória. Como conhecia o nível de francês dos espanhóis e dos galeses, com quem tinha estado em Valladolid, comecei a falar francês a carregar no acelerador; os franceses sorriram e a senhora pediu-me se eu podia falar mais pausadamente. Ficaram satisfeitos com os dados que eu forneci (já não faço a mas pequena ideia qual era o seu teor) e tudo acabou em bem.

À noite, fui convidado para uma confraternização ibérica, porque os espanhóis tinham gostado da minha “reclamação”, pois o facto de o castelhano ser preterido em favor do francês e de terem que falar outra língua, que não a sua, naquelas reuniões, também lhes ficava atravessado. Quando cheguei a Aveiro, relatei ao Presidente da Câmara o que se tinha passado na reunião, incluindo o meu “protesto”, a que ele achou piada.

 

Encontro Internacional de Aquicultura

Em finais de 1993, o Presidente Girão Pereira disse-me ter conhecimento de que haveria verbas da Comunidade Europeia destinadas à Aquicultura e encarregou-me de saber quais as possibilidades da Câmara poder vir a ter acesso a elas.

Depois de consultar e obter a colaboração de um especialista em biologia marítima e de dois representantes aveirenses de serviços estatais ligados às pescas, elaborámos um projecto de intercâmbio de experiências entre profissionais deste sector a nível internacional que, após ter obtido o acordo da “Mairie” da cidade-irmã de Arcachon, um dos maiores centros franceses de ostreicultura, e do Ayuntamiento de Chiclana de la Frontera, que ocupava um lugar de referência a nível da aquicultura europeia, foi apresentado a Bruxelas, onde foi aprovado.

Os “Encontros” efectuaram-se, no ano de 1994, em França e Espanha, o realizado no país vizinho foi noticiado televisivamente, tendo eu sido entrevistado para a Televisão da Andaluzia, realizando-se o de Encerramento, no mês de Maio, em Aveiro. Os participantes, principalmente os portugueses, manifestaram a sua satisfação pela possibilidade que lhes tinha sido proporcionada de conhecerem diferentes meios, realidades e técnicas.

Recordo-me de termos visitado os campos de ostras do “Bassin d' Arcachon” e o “Lycée de la Mer” da vizinha cidade de La Teste e de, em Espanha, termos conhecido as instalações de uma grande empresa, onde era produzido o peixe, principalmente douradas – estavam a tentar com o robalo e o linguado –, desde a maternidade, até aos viveiros de alimentação semi-intensiva, e passando pelos laboratórios, onde se fazia investigação avançada sobre aquicultura e piscicultura. Também nunca me poderei esquecer de uma noite de “Flamenco”, incluído no programa de animação, que eu tinha aprovado, sem saber que só acabaria às 5 da manhã.

Durante o decorrer dos “Encontros”, tive que me deslocar a Bruxelas, para dar conhecimento do andamento dos trabalhos e prestar contas, na medida em que era a CEE quem suportava a quase totalidade dos encargos, na sua qualidade de patrocinadora.

Uns meses após o encerramento dos “Encontros”, fui surpreendido, quando recebi um convite para ir participar, aos candidatos a um novo projecto europeu, de que não me recordo o nome, como tinham sido concebidos, programados e levados a efeito os nossos “Encontros Internacionais de Aquicultura”, de que eu tinha sido o coordenador, os quais tinham sido considerados por Bruxelas – com toda a franqueza e sem falsas modéstias, nunca percebi bem porquê – não só como um êxito, mas também como um modelo a ser seguido.

Enviei o texto, que me era pedido, em francês – seis páginas formato A4, a que correspondia um tempo de leitura de, aproximadamente, 20 minutos –, com um mês de antecedência, a fim de que o mesmo pudesse ser traduzido para as restantes línguas oficiais e dei conhecimento do convite ao Presidente da Câmara, Celso Santos, que me disse que iria propor à Câmara para eu ser acompanhado por um Vereador. Chamei-lhe a atenção para o facto de o convidado ser eu e não a Câmara, pelo que a ida de um Vereador poderia vir a levantar problemas protocolares o que, infelizmente, veio a acontecer, com grande pesar da minha parte, porque tinha e tenho em grande apreço a pessoa em questão, que se viu relegada, para lugares secundários. Por exemplo, no jantar de encerramento, não consegui, por mais que pedisse, que lhe fosse dado um lugar na Mesa de Honra, onde eu estive.

Quanto à minha intervenção, que foi seguida de um período de perguntas e respostas, em francês, da minha parte, dado que não havia tradutores de português, correu bem e recebi felicitações que, quanto a mim, se deveram mais à qualidade do meu francês, que propriamente ao conteúdo da comunicação.

Para terminar, direi que, recentemente (Agosto de 2015), li, no “Diário de Aveiro”, declarações de um ostreicultor local que dizia que muito do seu actual êxito se devia a uma visita que tinha feito, alguns anos antes, a Arcachon, onde tinha tido a oportunidade de estabelecer contactos que continuava a manter e a serem-lhe úteis. Fiquei satisfeito, pois pensei reconhecer o nome de uma das pessoas com quem tinha estado, naquela cidade, há vinte e um anos.

28.08.2015

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Encontro Internacional de Aquicultura