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N.º 14

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1972 

Colóquio sobre as perspectivas de desenvolvimento económico-social da Zona Integrada do Vouga

 

Dado o assinalável interesse de que se revestem para a Região do Vouga, os assuntos tratados no Colóquio, publicamos. na íntegra, as intervenções dos Srs. Engenheiros-agrónomos José Gamelas Júnior e Cartas Manuel Ferreira Maia e do Veterinário, Dr. Jaime Rodrigues Machado.

No próximo número, contamos inserir as demais intervenções.

 

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Distribuição de prémios

Engenheiro Agrónomo JOSÉ GAMELAS JÚNIOR

Os que nos visitam devem merecer a nossa consideração e ser honrados em prioridade de atenções. Sede bem-vindos a um colóquio onde se vão debater problemas importantes da nossa casa. Para ele vos convidamos a intervir sempre que queirais, porque é-nos cara e tida em grande conta a opinião dos amigos, e tanto mais quanto é certo que para alguns o tema da matéria em foco também interessa directa ou indirectamente.

Uma advertência quero aqui formular logo no início desta minha intervenção. Falarei apenas e exclusivamente na minha qualidade de Presidente da Junta Distrital de Aveiro e, como tal, peço que seja entendido tudo quanto disser.

Três ordens de considerações, ligadas ao tema do colóquio, desejaria aqui abordar muito rápida e sinteticamente:

1) A agricultura, nas suas incidências com a bacia do Vouga

É natural, e mesmo exigível, uma palavra sobre a agricultura, na medida em que está hoje particularmente em foco em Aveiro, num dos seus sectores que / 46 / mais hipóteses oferece para um desenvolvimento técnico, económico e social a nível europeu. E bem está esta chamada das atenções gerais, que se desejaria perdurasse como nota de permanente alerta no pensamento e nas preocupações de responsáveis e de interessados.

Torna-se cada vez mais evidente aos olhos de toda a gente que a vida do nosso mundo rural se situa numa fase crítica. Embora tardiamente, está a sentir os reflexos da Revolução Industrial, que se manifestaram mais ou menos convulsivamente por todo o universo. r: toda uma vasta e profunda transformação social em curso, que agora é mais rápida, e, por isso, muitas vezes dura, quando não mesmo agressiva; é um salto gigantesco para novas e melhores fórmulas de vida, que não se alcançarão sem o sacrifício de muitos que, infelizmente, ficam cilindrados pelo caminho, a cujos escolhos e espinhos não conseguiram adaptar-se.

E estes são tais e tantos que provocam uma ambiência de perturbação económica e social tanto maior quanto mais faltar uma política adequada, amortecedora de choques e simultaneamente orientadora e incentivadora de progresso por linhas de rumo seguras.

Aparece, em primeiro lugar, o êxodo agrícola, que atingiu a sua máxima expressão no fluxo emigratório e no condicionalismo mais aliciante do sector secundário. E ainda o próprio desenvolvimento da indústria, que se apoiou e ainda apoia na agricultura, impelindo-a para uma evolução lenta e espasmódica, com o abandono gradual do regime de auto-suficiência vergiliana e adopção de métodos de economia de mercado, onde a preparação do homem é fundamental para atacar de frente os problemas da tecnologia da produção e da comercialização em contínua e célere marcha, enxertados em estruturas anquilosadas que não oferecem condições de rentabilidade aos capitais investidos.

Mas não nos demoremos mais na citação dos factores que imprimem desorientação no viver da nossa agricultura, que, todavia, paradoxalmente, se vai preparando para voos que a personalizam, na conquista de um lugar ao sol a que tem direito.

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Visita à exposição documental da Junta Distrital de Aveiro pelo então Secretário de Estado da Agricultura,
Eng.º Vasco Leónidas.

Propriamente no Distrito de Aveiro, onde o arranque industrial se desencadeou para níveis de desenvolvimento já muito apreciáveis, a agricultura, embora evidentemente mais rígida nos processos de evolução, lá vai singrando na sua escalada do Calvário. Tropeção aqui e além, sem planeamento idóneo e seguro, negando a condição de ser um «modo de morte» para continuar a ser antes um «modo de vida», certo é que, armstada mesmo pela onda expansionista do sector secundário, a agricultura, aqui, embora deprimida, virou-se para a e,conomia de mercado em termos já de relevância, atingindo níveis mais elevados de desenvolvimento que em muitas outras regiões.

Está em curso a formação de uma nova mentalidade que a ajuda a adaptar-se a novos condicionalismos, / 47 / onde a competição é factor comum e determinante; procura mais ousadamente empresas dimensionadas, onde o fenómeno cooperativo começa a ter expressão; participa nos mecanismos da vida económica, repartindo o valor da produção agrícola pelos de outros sectores, que lhe fornecem bens e serviços, cujos encargos figuram nos custos de produção ou nos investimentos.

Luta constante esta, em que se joga a todo o momento a sorte de muitos, com os seus problemas humanos minimizados ou postergados pela frieza impiedosa de uma onda materializadora da vida. Apesar de todos os desânimos e de um mar de ilusões desfeitas, não há tréguas nem esmorece o afã posto na busca do equilíbrio com os outros sectores. Ainda bem que assim é, porque se a expansão industrial depende em alto grau da transformação das estruturas e da técnica agrícola, na medida em que deste mecanismo se proporciona o alargamento dos mercados de bens de equipamento e de consumo, também qualquer atraso na agricultura, mercê de uma política económica menos cuidadosa ou desajustada das realidades, que não respeite uma intervenção prioritária, pode provocar um bloqueamento que afectará toda a economia.

E é dentro desta panorâmica geral e específica do sector primário, que o problema do Vouga tem de ser visto a sério, como uma realidade que interessa efectivamente à economia da região e do país.

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Desfile do gado premiado e distribuição de prémios.

Estão aqui, bem perto de nós, cerca de 11 000 hectares de óptimos terrenos de aluvião que há muito esperam a atenção e cuidados dos homens, para que possam desentranhar-se em riqueza. Está ali uma larga extensão de terrenos ubérrimos que evocam um passado rico e que o homem deixou perder, e que diz mal e é um ferrete - porque é vergonha - no carácter trabalhador, de conquista e de vanguarda do aveirense. É bem um sinal – triste sinal – de evidente contraste de um povo todo atirado para a frente, mas que teima em querer ter o pé atascado na terra inundada e infecunda, que já nem é bucólica, porque é miséria complacentemente consentida.

Os holandeses gastam rios de dinheiro para conquistarem palmos de terra ao mar; nós, porém, temos terrenos – e dos melhores – que, por incúria, deixamos perdê-los e até parece que com indiferença. Regra geral, e já que as terras permanentemente alagadas de água doce e salgada estão esquecidas e não fazem mossa, só nos lembramos do caso nas épocas das inundações e, então, apenas e através de um coro de lamentações inoperantes, que vai perdendo força e quase se extinguiria se outros alargamentos inoportunos não aparecessem a destruir colheitas e a empobrecer ainda mais os que já são pobres.

Mas seremos nós um país tão rico que nos permitamos dar ao luxo de desprezar a riqueza produtiva de 11 000 hectares de bons terrenos de aluvião? Como / 48 / é possível a existência do contraste de querermos louvavelmente aumentar o produto interno bruto, na mira de conseguir acréscimos de riqueza para todos, e não darmos um passo, durante anos sucessivos, para o aproveitamento adequado destes terrenos?

Sem se menosprezarem ou discutirem as diligências e os investimentos canalizados para um melhor aproveitamento de terrenos com futuro duvidoso, porque não foram paralelamente lembrados estes campos, que oferecem mais fácil resposta, numa região onde há tradição no manejo da água, e se impõe uma política de fixação das gentes rurais?

O centro e o norte do distrito de Aveiro é hoje uma realidade industrial, que muito pesa na economia da nação. Se já constitui um autêntico polo de desenvolvimento, mercê do espírito de iniciativa e empresarial existente, tudo indica que, vencida a fase de arranque, naturalmente se caminhe para uma dominância económica e social que se projecte e influa em vastas áreas subjacentes, arrastando nomeadamente a agricultura para novos estádios evolutivos.

E é neste contexto que estes 11 000 hectares da bacia do Vouga não podem ficar esquecidos, porque serão indispensáveis para fazer face às novas e sucessivas exigências que os circunstancialismos económicos desta vivência industrial progressiva determinarão em prazo curto. Para a busca do equilíbrio que norteia o sector primário, seria crime se não se mobilizassem todos os recursos no sentido de proporcionar à agricultura e à nação o acréscimo de riqueza que esta área possibilita com segurança. Seria arriscado e constituiria erro de primeira grandeza que um plano de fomento não incluísse nos seus objectivos prioritários esta realidade evidente.

É do conhecimento geral estar já na última fase a elaboração do projecto que naturalmente precede a anunciada construção da estrada-dique Aveiro-Murtosa, uma das estruturas fundamentais para se distinguir a ansiada recuperação destes terrenos.

Faltaria à justiça e afigura-se-me que daria uma triste nota de ingratidão se, como aveirense, não destacasse a acção pertinaz do Governador Civil de Aveiro, Dr. Francisco do Vale Guimarães, porque a ele se deve – à sua inteligência e espírito objectivo sempre presente e à frente na luta pelas realidades candentes, e ao seu amor à causa e progresso do Distrito a que inteiramente se votou – a prossecução efectiva e interessada dos estudos e da próxima concretização de uma obra tão complexa, de preparação necessariamente demorada e tão dispendiosa.

Outras obras, porém, também indispensáveis, estão estudadas com vista à obtenção integral deste objectivo, como seja a barragem em Ribeiradio, e outras iniciativas complementares de defesa e regularização do leito

do rio Vouga. Para elas continuará a ser indispensável o interesse e o entusiasmo do Governador Civil de Aveiro, mas parece-me que à sua volta se devia aglutinar uma falange representativa e operosa mais dilatada e mais viva, de todos quantos sentem a utilidade e projecção deste grande empreendimento.

Mais desenvolvidamente, um dos oradores que me segue, trará elementos que melhor ajuizarão da importância desta obra, com valores específicos que traduzem a realidade actual e perspectivam o futuro, dentro das potencialidades que a região oferece.

2) A indústria, como fonte dinamizadora de progresso e de arranque em áreas a desenvolver

Mercê das naturais condições do Distrito de Aveiro, nomeadamente a sua localização, e as qualidades assinaláveis de iniciativa e sentido empresarial das suas gentes, desde há décadas que, principalmente a sua parte norte e centro, tem sido palco do despertar e de um sucessivo e mesmo espantoso desenvolvimento industrial, que se processa em variadíssimos ramos com projecção nacional e internacional.

É inegável a força deste centro industrial, facilmente comprovada nos elementos estatísticos que o boletim da especialidade faculta; é indiscutível a mentalidade empresarial que domina o meio e orienta os caminhos dos seus sectores, sem esforço confirmada em qualquer encontro com os seus responsáveis.

Está neles, no factor humano, o principal segredo do êxito, dando vida às ideias, continuamente em renovação para uma exigível e vital adaptação aos processos tecnológicos da produção e condições de comercialização de um mundo em marcha acelerada.

Quem pára, fica para trás, e não se domina o presente e muito menos se conquista o futuro. Mas não é andar de qualquer maneira. Interessa marchar em frente, dentro de uma acção estudada e coordenada, que pressupõe, a alto nível, um planeamento que trace as linhas mestras do desenvolvimento.

Estudar, planificar e executar: três palavras simples e que avalanche de problemas não envolvem!... Tal como as palavras no dicionário ou as tintas a monte na paleta são letra morta ou borrões sem vida, até que o escritor as ordene para um texto entendível ou o artista combine as cores em quadro que toque os sentidos, também o planeamento, por mais perfeito que seja teoricamente, arrisca-se a um estrondoso fracasso, se não tiver a sustentá-lo a inteligência lúcida, a objectividade pronta e o espírito empreendedor do homem que o interpreta e executa com entusiasmo, porque encontra nele utilidade e resposta aos seus anseios.

Mas, planificar, no conceito de incentivar a actividade privada para rumos que mais se entenda interessar / 49 / ao desenvolvimento económico, não pode deixar de estar imbuído de um sentido de prioridades, e como tal obriga a que seja realista na análise dos parâmetros existentes e corajoso na determinação de objectividades.

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Exposição Documental - Apreciação da maquete da Região do Vouga elaborada pelos Serviços Técnicos de Fomento.

Em nosso critério, este princípio cresce ainda de importância e abriga a opções sérias se considerarmos a nossa próxima entrada no Mercado Comum. Que se façam experiências ou se promova o fomento de regiões menos desenvolvidas, está certo e é indispensável; mas que com essa medida não se coarte a expansão e mesmo transformação que aquele ingresse determina, nas regiões já embaladas por uma tradição e com espírito industrial, porque deverá ser essencialmente na base delas que se firmará a nossa posição económica europeia.

Nós, aqui, no Distrito de Aveiro, somos uma realidade viva no campo da indústria; sem qualquer dúvida, constituímos um pólo de desenvolvimento. Para além da força económica, o sector tem já uma velocidade de expansão adquirida que se impulsiona a si próprio para novos estádios evolutivos e é capaz de arrastar na sua órbita outras áreas menos favorecidas.

E para o aproveitamento adequado deste condicionalismo, temos também planos amadurecidos na experiência, que se pretendem ver superiormente apoiados, para os quais há a segurança da participação da actividade privada.

Ora, um deles consiste, exactamente, na concretização das obras estruturais que interessam à recuperação dos terrenos alagados ou de exploração agrícola contingente do rio Vouga. Permitir-se-á, desta forma, além do aumento considerável da produção agrícola nos seus 11 000 hectares, dar novos horizontes à região pela possibilidade de instalação de novas unidades fabris. Não é difícil nem arriscado prever o que se afirma, na medida em que haverá natural tendência para aproveitar com este fim uma região que tem uma localização e condições óptimas: mão-de-obra disponível de uma agricultura que oferecerá hipóteses de montagem em termos empresariais e acessos fáceis e magníficos para o abastecimento de matéria prima e escoamento de produtos laborados, não só para os grandes centros consumidores nacionais, como ainda para o estrangeiro, através da estrada – de uma estrada de via larga que se impõe virada a Espanha – e do porto de Aveiro que, apesar do movimento crescente de mercadorias que regista, está muito longe ainda de esgotar as suas enormes possibilidades.

Por seu turno, com a utilização da estrada que se indica, novas perspectivas se abririam às regiões doe interior, mais pobres, porque são predominantemente agrícolas e hoje de estímulos muito limitados para o desenvolvimento do sector secundário. Com mão-de-obra disponível e então com fácil acesso, estas regiões do interior, em direcção a Viseu, melhor poderão vir a ser dinamizadas com base no pólo de desenvolvimento de Aveiro, a partir da instalação de indústrias de apoio, / 50 / dentro de uma cadeia estratificada que vise uma melhor economia global.

E o Porto de Aveiro, termo ocidental dessa estrada, terá que continuar a ser preparado e equipado para responder às permanentes e crescentes solicitações de que é alvo. Com a saturação hoje verificada do porto de Leixões, não vemos outra solução mais económica e eficiente do que na sua complementarização a partir do seu vizinho porto do Vouga. As suas condições naturais facultam-lhe essa tarefa e não se negará a servir as exigências do crescente desenvolvimento industrial do distrito, nem tão pouco deixará de abrir as suas portas às imanadas um dia do interior, mesmo mais distante que se queira conceber. Não lhe faltam recursos para isso. Apenas se pretende que os investimentos a mobilizar pelo Estado se apliquem tendo em linha de conta todas as efectivas possibilidades que oferece, sem que com isto queiramos prejudicar ou minimizar empreendimentos similares, para quem, aliás, desejamos vivamente tratamento idêntico.

3) Consciência Distrital

Parece-me, finalmente, pertinente um apelo ao revigoramento de uma consciência distrital. Sinto que, ao fazê-lo, cumpro o meu dever, pelas funções que modestamente exerço e como aveirense de que me orgulho de ser.

Apelo para uma consciência distrital. Esta expressão, só por si, pressupõe que esta não existe agora, ou, se existe, tem e abre continuamente brechas que em muito a comprometem.

Para alguns, poder-se-á admitir que não concordam com este apelo, porque até entendem que há efectivamente consciência distrital. Não discutirei com eles, uma vez que também julgo que, em alguns aspectos, poderá haver coisa que satisfaça. E faço esta afirmação com propriedade, na medida em que, ainda não há muito tempo, a detectei bastante viva num sector onde supunha fosse bastante frouxa. Mas pedir-Ihes-ei desculpa por teimar no meu apelo, porque sinto que, em termos globais, ela é muito fraquinha.

Tenho conhecimento de que ultimamente se diligencia no sentido de formar uma associação industrial ao nível do Distrito de Aveiro. Bem hajam os promotores e os que apoiam tal iniciativa. Que a chama do entusiasmo não se apague e que tenham sorte na concretização dos seus propósitos.

Mas não vejo consciência distrital no meio agrícola. Nem vestígios. E muito importava que existisse, para com mais frequência se agitarem, se debaterem e se tentarem soluções para os problemas que afectam a lavoura distrital, com seria agora o caso da recuperação dos terrenos do rio Vouga.

Se constituímos uma força distrital, temos que pensar e falar em termos de Distrito, porque só assim marcaremos a nossa personalidade. Ninguém poderá tomar a mal este anseio, porque não é, nem mais nem menos, que uma consequência da nessa maturidade, que se criou na base de uma individualização de caracteres.

Não é que eu seja partidário de capelas e capelinhas, mas afigura-se-me serem por demais evidentes as vantagens da existência de uma consciência geográfica efectivamente imanizadora, que agrupe indivíduos motivados por ideais específicos e comuns, quiçá diferentes de outras regiões. Não está, neste contexto, todo o ideário de pátria?

Unidos e de acordo nos fundamentos de uma unidade distritaI, somos uma força em todos os aspectos. Ponhamo-nos assim em marcha para um futuro que é difícil e que espera por nós. Este é o meu veemente apelo.

Tenho dito.

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Eng. Agrónomo CARLOS MANUEL FERREIRA MAlA

I – O APROVEITAMENTO DA BACIA DO VOUGA; SUA IMPORTÂNCIA NA ESTRATÉGIA DO DESENVOLVIMENTO DA ZONA INTEGRADA DO VOUGA

A existência, no eixo Aveiro-Viseu, de uma «zona integrada», isto é, de «uma área potencial de regadio com possibilidades de justificarem a instalação de indústrias transformadoras de produtos agro-silvo-pecuários, permitindo a prática de uma agricultura intensiva modernizada», enquadra-se na óptica de um racional ordenamento do território, que visa a melhor repartição dos factores produtivos, em função dos recursos efectivamente utilizáveis, possibilitando a penetração, para o interior, do processo de crescimento económico que tem como motor o dinâmico parque industrial centrado no distrito de Aveiro e se apoia numa infra-estrutura básica para a drenagem de todos os seus produtos: o Porto de Aveiro.

Esta área – escusado seria referi-lo – é a bacia do Vouga ou Terras do Vouga, tema central deste colóquio integrado na 1.ª Feira Exposição Agro-Pecuária de Aveiro.

A bacia hidrográfica do Vouga estende-se, das vertentes da Serra da Lapa, até à extensa planura aluvional compreendida entre a Ria de Aveiro e a linha de declives das terras mais antigas, abrangendo cerca de 365 000 ha de terrenos cujo aptidão cultural varia, predominantemente, em razão da sua natureza geológica / 51 / e situação topográfica. Assim e de acordo com os dados fornecidos pelo S. R. O. A., 65 % a 70 % destes terrenos, na sua maior parte situados na bacia superior do Vouga, evidenciam, unicamente, capacidade de uso florestal, embora a arborização não abranja, presentemente, mais do que 50 % da superfície total disponível. Daí, a necessidade de promover, no curso superior do Vouga, o alargamento da superfície florestal, a partir da reconversão dos terrenos agrícolas marginais – 20 000 ha – e da arborização das áreas incultas – 35 000 ha de baldios e de propriedade privada.

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Colóquio – O Inspector-Chefe Coordenador da Região Centro de Secretaria de Estado da Agricultura, no uso da palavra.

Em relação à superfície agrícola útil disponível – 1/3 da superfície total – impõe-se a sua intensificação cultural e a racionalização das técnicas de cultivo, de forma a garantir o aproveitamento integral das suas potencial idades produtivas, em função da aptidão dos solos e das condições climatéricas locais.

Integrando-se nesta área, a extensa mancha de terrenos do Moderno e do Pliocénico que se estende ao longo do curso inferior do Vouga e dos seus afluentes (Caima, Águeda e Cértima) vê, desde sempre, o seu aproveitamento agrícola condicionado pelas deficientes condições de enxugo e defesa contra as cheias, que impedem o seu cultivo durante o período outono-invernal.

A montante da foz do Caima e em todo o seu curso superior, o Vouga comporta-se como um rio de planalto e montanha, pelo que o seu aproveitamento se reveste de interesse essencialmente hidro-eléctrico.

Em contrapartida, em relação ao seu curso inferior, onde os problemas de defesa e enxugo vêm assumindo crescente acuidade, por insuficiências do sistema hidráulico que o serve, já o interesse do aproveitamento hidro-agrícola da sua bacia, numa extensão de 1 370 km2, a partir da foz do Caima, se apresenta com maior relevância.

Conta a bacia do curso inferior do Vouga com extensos campos marginais, fundos e férteis de natureza aluvional e elevadas potencialidades forrageiras, como o comprovam a composição florística do seu coberto vegetal espontâneo e os encabeçamentos que permite, ao longo do período de exploração primaveril-estival, em que é utilizada para pastagem do gado bovino e produção de fenos. Essa superfície forrageira disponível, que se computa em cerca de 11 000 ha, encontra-se presentemente sujeita a incidências desfavoráveis, resultantes do sobre-pascigo e excessivo encharcamento, a par da falta de adequada protecção contra as cheias e invasão das águas salgadas.

Enquadrando-se no pré-ordenamento cultural já esboçado pelos Serviços Regionais da Secretaria de Estado da Agricultura, para a zona em causa, as actividades agro-pecuárias ligadas à bovinicultura poderão aqui assumir grande incremento, assegurada como se encontra a sua integração horizontal e vertical, a partir das infra-estruturas já estabelecidos ao nível da região, para apoio deste sector.

A concentração, no Distrito de Aveiro, da maior / 52 / parte das unidades industriais que no nosso país se dedicam à produção de lacticínios e a existência de um moderno complexo agro-industrial, que funcionará na exclusiva titularidade de uma organização da lavoura, irão possibilitar a perfeita integração de todas as actividades pecuárias, estabeleci das ao nível das explorações agrícolas regionais, garantindo-lhes a maior viabilidade económica.

Como se afirmava na lei de Meios para 1970, «a agricultura tem todo o interesse em afastar-se da simples posição de fornecedora de matérias-primas, para tornar-se produtora de géneros prontos a consumir, beneficiando da mais valia resultante da transformação».

De acordo com esta orientação, definida pelo Governo, foram criadas já, ao nível distrital, algumas infra-estruturas indispensáveis à integração horizontal e vertical de algumas especulações pecuárias, designadamente, no sector da bovinicultura: produção leiteira e recria e engorda de bovinos.

Este movimento, iniciado pelas Organizações da lavoura, com apoio técnico e financeiro do Estado, visa o fomento da exploração pecuária, em módulos de produção económica convenientemente dimensionados, que permitam optimizar a relação capital investido/mão de obra utilizada, consentindo um racional maneio dos efectivos em exploração.

Um dos pólos integradores destas actividades é constituído pela União de Cooperativas Agrícolas do Noroeste Português, cujas instalações industriais e serviços inerentes, pretendem assegurar a integração das actividades das Cooperativas a ela associadas, dentro do esquema previsto no seu organigrama.

De acordo com este organigrama, projectam-se estabelecer, na região, centros de recria e engorda de bovinos, a cargo das cooperativas associadas, ou de agrupamentos de produtores (algumas encontram-se já em funcionamento), destinados a complementar os estábulos leiteiros existentes e a estruturar, na sua área social.

Esta organização já tem em pleno funcionamento uma moderna fábrica de rações com a capacidade de 10-12 toneladas/hora. Para complementar este pólo integrador das actividades pecuárias dispõe a organização, em fase avançada de montagem, de um centro de abate de bovinos, suínos e aves, com fábrica de industrialização de carnes e uma cozinha industrial que, no conjunto, ficará a constituir uma das mais modernas unidades no género, existentes na Europa.

Sabendo-se que a bacia leiteira da Beira litoral detém a maior percentagem da produção nacional – só o distrito de Aveiro produziu, em 1970, 67 000 000 litros, cerca de 30 % do leite entregue no País –, torna-se evidente o flagrante interesse económico e social de que se revestem todos os empreendimentos que visam a reconversão cultural dos campos marginais do Vouga, de acordo com o esquema de aproveitamento que se propõe.

A existência, na região, de unidades integradoras, susceptíveis de efectuarem a transformação dos produtos de natureza animal, que aqui se poderão produzir, através do racional encabeçamento da superfície forrageira disponível, constituem seguro aval de todos os investimentos a realizar na defesa, enxugo e recuperação destes terrenos.

Estes problemas envolvem, contudo, aspectos distintos que não podem ser encarados separadamente, sob a pena de as soluções encontradas assumirem carácter precário, de eficácia duvidosa.

Referem-se estes aspectos:

1 – Ao domínio das cheias;

2 – À defesa contra a invasão das águas salgadas dos terrenos vizinhos da Ria de Aveiro – Baixo Vouga lagunar.

3 – À regularização do leito inferior do Vouga.

4 – À melhoria das actuais condições de rega e enxugo dos campos.

 

1 – Em relação ao primeiro problema, os estudos efectuados, em 1961, pela Hidro-Eléctrica Portuguesa, sobre o aproveitamento hidro-eléctrico dos rios Paiva e Vouga permitem concluir que a projectada barragem de Ribeiradio – a cuja albufeira, de 330 x 106 m3 de capacidade, afluem 90 % da bacia do Vouga – garante um caudal de cheia regularizada não superior a 60 m2, em cerca de 90 % dos anos, valor este que representa uma pequena fracção do caudal de cheia natural. Acresce que a barragem de Ribeiradio poderá contribuir para o desassoreamento do leito do Vouga, a partir da retenção dos materiais sólidos carreados pelo rio, com evidentes benefícios para a própria barra do Porto de Aveiro. Esta barragem permitiria ainda garantir um elevado caudal de estiagem no Vouga e portanto:

– a produção de energia eléctrica, através da turbinação dos caudais transferidos para juzante;

– a intensificação e o alargamento dos regadios existentes;

– a eliminação das dificuldades de abastecimento de água às populações e às indústrias ribeirinhas;

– minorar os efeitos perniciosos dos afluentes industriais lançados no rio, a partir da sua diluição em proporções mais convenientes.
 

2 – A defesa e possível beneficiação dos terrenos do Baixo Vouga lagunar, sob influência das águas salgadas, encontra-se também dependente da correcção do regime das cheias e da regularização do leito do Vouga / 53 / e das restantes linhas de água que desaguam na Ria de Aveiro, já que a manutenção de caudais médios, durante o período de estiagem, determinará a redução do teor salino das águas, junto das terras de cultivo.

Com vista a garantir a indispensável defesa de toda a área do Baixo Vouga lagunar contra a invasão das águas salgadas e a permitir, simultaneamente, através de obras de arte complementares, um perfeito domínio das condições de rega e enxugo dos terrenos beneficiados, foi elaborado recentemente, por um qualificado gabinete técnico um ante-projecto da estrada-dique Aveiro-Murtosa, que mereceu a aprovação superior e se encontra incluído dentro das obras a realizar, no âmbito do III Plano de Fomento. A referida obra, destinada em princípio a assegurar a mais curta ligação rodoviária entre os concelhos de Aveiro e Murtosa, irá permitir, para além dos benefícios de índole agrícola já citados, e do seu marcado interesse turístico, o fácil escoamento de toda a produção oriunda do parque industrial localizado a norte de Estarreja, através do Porto de Aveiro.

Dispensamo-nos de referir, por agora, as características da obra, que constam do estudo apresentado à consideração superior e cujo traçado se encontra indicado na maqueta aqui exposta.

3 – Limitado o movimento das marés para montante, pelo traçado da estrada-dique, torna-se indispensável assegurar a defesa dos campos do Baixo Vouga contra as cheias, de forma a permitir o seu integral aproveitamento, durante todo o ano, através da regularização do leito maior do Vouga para um caudal de cheia de 1 700 m3/s, cuja frequência é de 1, de quatro em quatro anos, mas que passará à frequência de 1 em 100 anos, quando for construída a barragem em Ribeiradio. Dentro desta orientação, prevê-se a regularização do leito do Vouga, entre a estrada-dique Aveiro-Murtosa e a foz do Águeda, em duas fases: a primeira, a realizar com carácter prioritário, no troço do rio compreendido entre o dique-estrada e a Ponte de Angeja, permitirá a beneficiação integral de 3500 ha dos campos do Baixo Vouga lagunar, incluindo os campos de Fermelã, Canelas e Salreu.

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Distribuição de prémios.

A segunda, entre a Ponte de Angeja e S. João de Loure, permitirá beneficiar 6540 ha da bacia inferior do Vouga, incluindo os campos do Cértima e do Águeda, uma vez que a regularização do curso inferior do Vouga influenciará, favoravelmente, todo o complexo sistema hidrográfico constituído pelas ligações Cértima-Águeda e Águeda-Vouga.

4 – Interessa referir ainda a necessidade de realização de obras complementares, destinadas à melhoria das actuais condições de rega e enxugo dos campos, visando o aproveitamento integral das suas potencialidades agrícolas. / 54 /

Nesta conformidade, impõe-se o melhoramento dos regadios existentes, a partir da multiplicação e renovação das suas actuais redes de rega e enxugo e a constituição de Cooperativas de Rega, ou de outras adequadas formas de Agricultura de Grupo, destinadas a tirar o melhor partido das obras a realizar.

 

II – CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS E REVESTIMENTO VEGETAL DAS ZONAS AGRÍCOLAS A BENEFICIAR; SUA RECONVERSÃO CULTURAL FACE AS POTENCIALlDADES EDAFOCLlMÁTICAS

O aproveitamento agrícola das zonas em estudo, como referimos atrás, depende fundamentalmente da natureza dos solos e das condições de drenagem e defesa contra as cheias. Na área beneficiada podemos distinguir, em princípio, 3 manchas distintas:

1 – Sapais;

2 – Terras altas – até à cata de 20,00 m – predominantemente de origem xistosa ou xisto-gresosa;

3 – Aluviões do Moderno e Pliocénico.

 

Os sapais são constituídos por solos hidromórficos, parcialmente sujeitos à invasão das águas salgadas, com um pH baixo (4 a 5), que produzem «castanhó», «junco», «canízia» e outras espécies espontâneas, utilizadas em camas para gado, a que se dá a designação genérica de «estrumes».

Estendem-se, a montante do traçado da estrada Aveiro-Murtosa, por entre os braços e esteiros da Ria de Aveiro, numa área aproximada de 1 050 ha. De acordo com o esquema de reconversão cultural previsto, torna-se indispensável, depois da sua conveniente defesa e drenagem, garantir o fornecimento de caudais de rega abundantes, necessários ao dessalgamento e lavagem dos horizontes superficiais do solo, de modo a possibilitar o seu aproveitamento agrícola, a partir de culturas forrageiras adequadas.

A eventual constituição, na Laranja, de uma bacia de recepção de águas doces, conduzidas através das linhas de água que ali afluem, irá permitir dispor de caudais de rega apropriados para o efeito.

As terras altas incluem-se na zona de transição que se estende desde a linha que define o antigo golfo marinho, até às primeiras formações do Arcaico e Câmbrico, que constituem o sopé da Meseta Ibérica. Trata-se de uma zona plana, de constituição geológica diversa, predominantemente de origem xistosa ou xisto-gresosa. Os solos são geralmente de cor avermelhada e grão fino, com boa capacidade de retenção para a água, de textura média (areno-argilosa e argilo-arenosa). O seu aproveitamento agrícola é feito à base da sucessão cultural intercalar X sachada.

Em relação a estes terrenos, a melhoria das actuais condições de rega é factor decisivo da sua intensificação cultural, a partir da introdução ou generalização da cultura de milho híbrido para forragem.

As restantes classes de terrenos são representadas pela extensa planura de terrenos do Moderno e Pliocénico, situados na área do antigo golfo marinho, nele se incluindo a designação regional de «Marinha».

O aproveitamento agrícola destes terrenos é condicionado pelas possibilidades de enxugo que apresentam, na época primaveril-estival, após as últimas cheias de inverno. Assim, nos campos mais baixos, de difícil drenagem, faz-se a cultura orizícola – que aqui assume um carácter fatalista – ou deixa-se o terreno inculto para a produção de ervas espontâneas (estrumes»). Os campos de cota superior e de mais fácil enxugo são submetidos a uma única cultura, milho-grão, geralmente consociada com feijão e abóbora, ou milharada, podendo eventualmente levar azevém, quando o regime das cheias o permite. Muitos destes terrenos são, contudo, aproveitados para a produção de pasta espontâneo para o gado («cerradas» ou «gramoais»).

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Exposição documental

A composição florística destes prados naturais evidencia a existência de espécies de grande interesse forrageiro, das quais figuram, entre as gramíneas:

Dactylis glomerata, Festuca arundinacea e Lolium perene; e entre as leguminosas: Trifolium repens, Trifolium resupinatum, Lotus corniculatus, Lotus uliginosus, etc.

O esquema de reconversão destes terrenos assenta, fundamentalmente, na sua defesa contra as cheias e enxugo.

Asseguradas estas condições, torna-se viável a generalização, a estes terrenos, do aproveitamento do seu coberto vegetal espontâneo ou a introdução de pastagens melhoradas, com base nas espécies com representação local.

Esquematicamente, os esquemas de reconversão a adaptar, em relação a cada uma destas classes de terreno, podem resumir-se, da seguinte forma:

1 – Sapal + defesa + dessalgamento + enxugo – > Capacidade de uso agrícola (Culturas forrageiras);

2 – Terras altas + rega – > Intensificação cultural (Milho forragem X Ferrejo);

3 – Aluviões + defesa + enxugo – > Racionalização dos esquemas de cultivo (prados permanentes e pastagem natural).

/ 55 /

III – INVESTIMENTOS A REALIZAR NA BACIA DO VOUGA; SUA INCIDÊNCIA SOBRE OS NÍVEIS DO PRODUTO E DO EMPREGO, NO SECTOR AGRÍCOLA

Em face destes condicionalismos, que tão gravemente afectam a economia regional e uma vez que as acções de reconversão cultural preconizadas se enquadram entre os objectivos fundamentais fixados no III Plano de Fomento – entre os quais se conta a progressiva especialização da Agricultura regional, de acordo com as aptidões dos solos e as influências climáticas, numa óptica de concentração do investimento, foram já incluídas, entre as propostas a submeter a apreciação do Governo pela Comissão de Planeamento da Região Centro, no âmbito dos estudos preparatórios do IV Plano de Fomento, os seguintes empreendimentos a realizar na bacia do Vouga:

 

ZONA 1 – Campos do Baixo Vouga lagunar, compreendidos entre a estrada-dique Aveiro-Murtosa e a Ponte de Angeja.

Beneficiação de 3500 ha dos campos do Baixo Vouga lagunar – incluindo os campos de Fermelã, Canelas e Salreu – através da execução de obras complementares do dique-estrada Aveiro-Murtosa, com regularização do leito do Vouga (entre a estrada-dique e a Ponte de Angeja) para um caudal de cheia de 1 700 m3/s.

Investimentos previstos:

Obras complementares da estrada-dique .... 75 500 contos

Melhoramentos fundiários  ... ... ... ... ... ... ... ...  7 800 contos

                                                                           ----------------------

                                                        Total... ... ... 83 300 contos

Acréscimo do Produto bruto ... ... ... ... ... ...    70 850 contos

N.º de empregos criados ... ... ... ... ... ... ... ... ... . 500

ZONA II – Bacia inferior do Vouga desde a Fonte de Angeja até à foz do Caima.

Beneficiação de 6540 ha de terrenos da bacia inferior do Vouga com regularização do leito do rio (entre as pontes de Angeja e S. João de Loure) para um caudal de cheia de 1 700 m3/s.

Investimento (40 contos/ha) ... ... ... ... ... ... ... 261 600 contos

Acréscimo do Produto Bruto ...  ...  ...  ...  ...   133 500 contos

N.º de empregos criados ...  ...  ...  ...  ...  ...  ... ...   800

ZONA III – Bacia superior do Vouga, a montante da foz do Caima.

1 – Florestação de 15 000 hectares de terrenos incultos à cadência de 2 500 ha por ano.

Investimento ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ... 82 500 contos

Acréscimo do Produto Bruto ...  ...  ...  ...  ...  ...   13 500 contos

N.º de empregos criados ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...    150  / 56 /

 

2 – Criação de um estabelecimento de truticultura no curso do Alto Vouga.

Investimento ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  2 000 contos

Acréscimo do Produto Bruto ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...    1 600 contos

N.º de empregos criados ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...   5

3 – Construção de uma barragem em Ribeiradio, criando uma albufeira de 330 X 106 m3 de capacidade.

Investimento ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ... 150 000 contos

Acréscimo do Produto Bruto ...  ...  ...  ... (a)

N.º de empregos criados ...  ...  ...  ...  ...  (b)

(a) O acréscimo do produto será obtido através da valorização das ZONAS I e II – uma vez realizada toda a beneficiação hidro-agrícola – mais o resultado de outros aproveitamentos (produção de energia eléctrica, abastecimento de água às populações, etc.).

(b) Dependente das utilizações da barragem e das águas da albufeira.

Em resumo, teremos:

Investimento global a realizar em toda a área beneficiada (Zonas I, II e III) ... 579 400 contos

Acréscimo do Produto Bruto ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ... 219 450 contos

N.º de empregos criados ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ... 1 455

Coeficiente Capital-Produto (Valor acrescentado bruto) ...   2,64

Isto é, para cada unidade do valor acrescentado ao Produto Bruto é necessário investir 2,64 unidades de capital.

São estas as perspectivas favoráveis que se abrem ao desenvolvimento económico das Terras do Vouga, UMA ZONA INTEGRADA QUE SE IMPÕE.

*

*   *

DR. JAIME RODRIGUES MACHADO

IMPORTÂNCIA DA BOVINICULTURA NO DISTRITO DE AVEIRO

A zona centrada pelo distrito de Aveiro, entre o Douro e o Mondego é, no campo da bovinicultura, o mais representativo do Continente.

Ao longo dos anos, mercê de condicionalismos geoclimáticos, os bovinos outrora existentes foram definindo as suas aptidões e fixando-se de acordo com as condições fisiográficas encontradas.

Deste modo, não é de estranhar que o armentio bovino actual se afaste das descrições feitas pelos vários autores dos fins do século passado, não só no que respeita à sua área de dispersão mas também no que toca à evidenciação das suas características morfológicas e funcionais.

Desde sempre, a exploração da espécie bovina proporcionou nesta região três produções principais a saber: carne, leite e trabalho. Assim e porque durante muitos anos não existia preferência especial por qualquer das vocações a explorar, havia mais aceitação para os animais de tipo misto que a par da carne e de algum leite pudessem ser igualmente utilizados como máquina animal.

Dentro as raças bovinas autóctones que povoavam a região no século passado e o princípio deste, predominavam duas: na serra a raça arouquesa, no litoral o armentio apelidado de marinhão descendente dos bovinos mirandeses que se espalhavam então por todo o norte do país em mais ou menos mistura com sangue de várias origens. Mais tarde começaram a aparecer os bovinos do tronco Frísia, conhecidos por «turinos» e que tiveram de começo o mesmo trato que as raças indígenas.

Com o rodar dos tempos, após o primeiro quartel deste século, a pecuração bovina regional distingue nitidamente três raças: a arouquesa, a marinhoa e a turina ou holandesa, que entretanto se foi impondo por toda a região, ocupando posição de grande realce em relação às outras.

RAÇA AROUQUESA

Os efectivos actuais, embora menos numerosos e corpulentos que os bovinos outrora assinalados, são ainda hoje suficientemente credenciados nas nossas regiões montanhosas.

A invasão da sua área de dispersão pelo gado turino alterou grandemente a sua distribuição na zona serrana do distrito de Aveiro. Assim é que um grande número de freguesias dos concelhos de Arouca (S. Miguel Cambra (Castelões, Codal, Vila Chã, Vila Cova de Perrinho e parte de Macieira), Sever do Vouga (Pessegueiro e Sever), e Fira (Vale e Louredo), e Oliveira de Azeméis (Palmaz Ossela, Carregosa e Feijões), regiões onde abundava o gado arouquês, este deu lugar aos animais de origem holandesa.

Presentemente, o interesse pela exploração arouquesa limita-se às regiões de mais forte relevo nos concelhos serranos de Castelo de Paiva, Arouca, Vale de Cambra e Sever do Vouga.

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O mais novo exemplar da exposição de gado.

Os bovinos arouqueses foram, a pouco e pouco, desalojados dos vales e dos terrenos com melhores possibilidades pascigosas e ficaram quase que exclusivamente / 57 / nas zonas mais agrestes e alcantiladas, onde a sua rusticidade, facilidade de assimilação e robusticidade conseguem vencer a frugalidade dum meio hostil para raças mais exigentes. Isto a par da forma como a vaca arouquesa é explorada – utilizada nos trabalhos mais rudes e esgotada na produção intensiva do leite –, factores certamente nada favoráveis ao desenvolvimento destes animais e à evidenciação dos seus melhores atributos.

Temos presente que a exploração destes bovinos para carne teve outrora grandes tradições no solar da raça. Bernardo Lima apontava bois arouqueses com 800 a 1 000 kg de peso vivo na exposição do Porto e vacas semi-gordas com 360 a 500 kg com rendimentos de 55 % que seguiam para exportação e para o abastecimento do matadouro de Lisboa.

A verdade é que, apesar das possibilidades creatóforas destes animais, não se cria hoje no seu solar gado de carne. Esta vocação surge-nos como subsidiária das restantes, pois as reses só depois de intensamente utilizadas na produção de leite e trabalho são entregues ao açougue.

Por outro lado, cerca de 70 % das fêmeas do efectivo total são exploradas na função leiteira, contribuindo com cerca de 3 milhões de litros de leite de proveniência arouquesa destinados a fins industriais.

Não deixando de reconhecer a importância económica de que se reveste a exploração deste armentio, há que reconhecer que num meio serrano agricolamente pobre o regime alimentar nos seus aspectos qualitativo e quantitativo é manifestamente insuficiente para animais explorados na função leiteira.

Assim, qualquer tentativa séria que se pretenda pôr em prática no sentido de valorizar o gado arouquês na sua capacidade lactígena há que atender em primeiro lugar às possibilidades do meio.

Os fracos recursos forrageiros existentes, por deficiência de produção quantitativa em solos graníticos, aliada ao regime minifundista da propriedade, são factores, limitativos para a valorização de animais especializados na produção leiteira.

De resto, a produção unitária de leite da vaca arouquesa, nestas condições, é bastante baixo – cerca de 800 kg de leite com 4.5 % de teor butiroso – e dificilmente se compreende esta forma de exploração em detrimento da aptidão para carne.

O modo como este tipo bovino vem sendo explorado nesta região não é de molde a proporcionar-lhe valorização morfológica compatível, ao contrário do que sucede fora do seu solar, nomeadamente nos concelhos de Amarante, Sanfins e Castro Daire, onde hoje se encontram os melhores exemplares, porque aqui, a sua presença não sofre os efeitos da especulação leiteira nem os da concorrência do gado holandês em tão alta escala.

Importa agora perguntar:

Nas condições que vimos referindo nas zonas montanhosas da região tem interesse o gado arouquês? / 58 /

Salvo melhor opinião, a resposta nem é difícil. O gado arouquês por alguma razão tem aqui o seu solar. É ainda o tipo bovino que melhor consegue valorizar a frugalidade pascigosa da serra. E estamos convencidos que se voltar às zonas menos agrestes donde foi precipitadamente desalojado, pode ser encarada com certo optimismo a sua valorização. E não nos iludamos: o povoamento bovino nas nossas zonas montanhosas terá que ser resolvido com os animais que possuímos, por já ambientados, com os recursos de que dispomos, no nosso enquadramento geoclimático, ajustado aos «facies» regional e na conversão que haverá a fazer.

GADO MARINHÃO

Os animais deste tipo, ultimamente em regressão numérica, ocupam ainda hoje uma vasta zona de exploração em torno da foz do Vouga, nos concelhos da Murtosa, Estarreja, Aveiro, Ílhavo e Vagos, e estende-se à parte ocidental de Águeda e Albergaria-a-Velha.

A sua zona de criação compreende quase exclusivamente a região da Marinha, centrada nos concelhos ligados à Ria de Aveiro.

O Gado Marinhão não é mais que a evolução sofrida pela raça Mirandesa, na Zona da Marinha.

Região de formação recente, de origem sedimentar, preferiu ao tempo o bovino que melhores condições oferecia de adaptação.

Por sua vez, os bovinos mirandeses modificados por condições ecológicas, possivelmente cruzados com alguns animais de origem minhota e arouquesa, vieram através de sucessivas gerações a evoluir no gado marinhão. No entanto, a sua selecção foi sempre orientada no sentido do sangue Mirandês.

A sistemática utilização do bovino da Marinha como motor animal poderia levar-nos a pensar na inutilidade de qualquer medida de fomento a seu favor já que, mais tarde ou mais cedo, a maquinaria agrícola virá substituí-lo com vantagens. A ser assim, recomendaríamos, pura e simplesmente, a sua substituição pelo bovino holandês, tanto mais que vive e compete com este na mesma zona de criação e em desvantagem na valorização das forragens ali produzidas.

No entanto, muito embora a maquinaria agrícola possa substituir o trabalho animal nos serviços mais pesados, julgamos que a estrutura agrária da região não pode dispensar, por enquanto, o recurso ao bovino de trabalho. E depois, por quantos anos ainda se manterá a actual estrutura?

Parece pois mais aconselhável transigir com a presença do gado marinhão e aguardar que a estrutura fundiária de toda esta longa faixa do litoral permita outra planificação. De qualquer modo urge enquadrá-lo num plano de fomento, podendo utilizar-se a vaca marinhôa em cruzamentos de tipo industrial – Marinhão X Charolês – com o fim de obter produtos para carne.

Concretizando:

– A presença do gado marinhão ainda se justifica como motor animal;

– Não pode competir, na mesma zona, com os efectivos leiteiros.

Deste modo, parece aconselhável:

a) Que a sua criação em raça pura se limite às necessidades da renovação dos efectivos imprescindíveis aos trabalhos agrícolas que ainda prestam;

b) Que as suas disponibilidades devem ser encaminhadas no sentido da produção de F, provenientes do cruzamento Marinhão X Charolês, destinados ao açougue.

De resto a evolução quanto a este tipo bovino parece já processar-se neste sentido.

Com efeito o cruzamento Marinhão X Charolês vem sendo já praticado desde 1962, com o seguinte movimento:

 

1962

––

4

vacas

I.

A.

com

Charolês

1963

––

19

«

«

«

«

«

1964

––

46

«

«

«

«

«

1965

––

89

«

«

«

«

«

1966

––

107

«

«

«

«

«

1967

––

200

«

«

«

«

«

1968

––

295

«

«

«

«

«

1969

––

335

«

«

«

«

«

1970

––

780

«

«

«

«

«

1971

––

1473

«

«

«

«

«

 

RAÇA HOLANDESA

A raça com vocação leiteira (holandesa, turina e produtos derivados) domina a pecuração bovina regional e é hoje o símbolo mais representativo da actividade agro-pecuária do Baixo-Vouga.

O bovino leiteiro que povoa esta região é o mesmo agrupamento étnico que se encontra por todo o país.

Mas aqui, encontra o ambiente mais favorável para a sua consolidação e desfruta duma hegemonia que não é demais enaltecer como zona de criação.

É um animal oriundo dos Países Baixos, na Frísia, que teve extraordinária adaptação na Dinamarca e na Alemanha Ocidental, passando à Inglaterra e América. Encontram-se praticamente em toda a Europa Ocidental / 59 / e goza duma vocação leiteira de grande prestígio.

Em Portugal, os primeiros bovinos holandeses foram assinalados no recenseamento de 1870. Foi principalmente depois que se deixou de exportar gado de corte nos começos deste século, que os bovinos desta raça, apelidados de turinos, começaram a sua expansão.

A pouco e pouco, o núcleo turino, que se acantonava nos arredores de Lisboa, invadiu o norte do país, fixando-se muito especialmente junto ao litoral e nos subúrbios dos centros populacionais.

No distrito de Aveiro a sua aceitação foi grandemente influenciada pela indústria de lacticínios, ao tempo já existente na região.

A falta de exportação de carne, outrora de grandes tradições na região e o aparecimento de uma nova raça, com vocação leiteira bem determinada, levaram ao desenvolvimento da indústria de lacticínios, até aí confinada à zona serrana e na dependência da vaca arouquesa.

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Os membros da Comissão da Exposição-Feira, falando para a imprensa.

Com o rodar dos tempos é a indústria que por sua vez fomenta os efectivos de tipo leiteiro devido à procura da matéria-prima.

Desta maneira os efectivos multiplicam-se rapidamente e a indústria de lacticínios passa por grandes transformações acompanhando a vaca turina por toda a região.

Assegurada a colocação do produto, a vaca leiteira passa a ter posição destacada na economia da casa agrícola, embora assumindo características especiais.

Na verdade, o grau de parcelamento da propriedade e as suas diminutas dimensões cerceiam a sua exploração em termos do seu melhor aproveitamento, sendo a produção do leite da vaca turina um complemento da recria e engorda e em muitos casos do próprio trabalho animal.

Daqui a raça não ter tido, a maior parte das vezes, o tratamento adequado e a sua dispersão aparecer no distrito um tanto indiscriminadamente.

Por toda a parte se procurava um bovino de função mista que desse um pouco de tudo, incluindo leite.

À medida que a sua principal vocação foi amparada, por intervenção dos Serviços Oficiais, foi-se definindo melhor a sua área de dispersão e os animais de melhor valia funcional fixaram-se principalmente na zonas do litoral, nas mais favoráveis à bovinicultura, dando-se uma regressão dos efectivos nas zonas serranas mais agrestes.

Regra geral, quanto maior for a área geográfica duma raça melhor se adapta a outras regiões. No entanto há necessidade de distinguir entre a adaptação dos animais importados e a adaptação da raça. Sucede, por exemplo, que os bovinos da raça holandesa importados se ambientam relativamente bem, em regiões menos propícias, dando, quando convenientemente tratados, produções análogas às do País de origem. Porém as sucessivas gerações vão degenerando gradualmente / 60 / perdendo a sua especialização até manifestarem as mesmas deficiências que as raças locais. É o que acontece nas nossas zonas serranas, e tememos que venha a acontecer nas zonas quentes e secas do País, onde haverá necessidade de recorrer a importações periódicas para impedir o definhamento da raça.

Deveremos ter bem presente que a raça é, em grande parte, um produto do ambiente, e que, transportada a outras regiões sofre necessariamente um processo lento e profundo de adaptação. A importação periódica atrasa o processo degenerativo, ou pode modificá-lo com a introdução de padreadores de elevado potencial genético, mas não impedi-lo. Uma raça só se considera bem aclimatada quando, depois de várias gerações, os animais importados muito embora tenham necessariamente perdido ou modificado algumas características, conservam outras de tal importância que nos habilitem a considerá-los económicos em relação aos tipos locais que substituíram.

É o que pode suceder em algumas regiões do país. O caso das nossas regiões montanhosas, que não devem ser consideradas como favoráveis à exploração da vaca turina, contrariamente a opiniões estabelecidas. O desenvolvimento da indústria leiteira nalgumas destas regiões criou algumas ilusões a este respeito. Na montanha a exploração dos prados naturais é o único meio económico de utilizar o solo. Como a densidade de população humana é bastante menor que nas zonas de planície e do litoral dispõe-se por via disso dum excedente de produtos lácteos que se usa como moeda, mas nem por isso a produção unitária da vaca leiteira deixa de ser bastante fraca.

Sabe-se que a secreção láctea é desfavoravelmente influenciada pelo calor e por uma atmosfera seca. De certo modo pode remediar-se esta situação numa estabulação permanente adequada, mas necessariamente cara, tendo em atenção que um pouco de exercício é necessário para que os animais mantenham o seu equilíbrio fisiológico.

Sendo a vaca leiteira um animal de muito alimento, a sua exploração requer uma agricultura rica, que lhe forneça uma alimentação abundante e regular durante todo o ano. Não se devem admitir períodos de relativa dieta, já que não serão compensados pelos períodos de abundância, que provocam sensíveis baixas no seu rendimento. Por estas razões a produção leiteira é particularmente favorecida nas regiões de bons prados, onde a atmosfera se mantém suficientemente húmida mesmo durante o verão, possibilitando reservas forrageiras abundantes para o inverno, completadas conforme as necessidades pelos alimentos concentrados.

Das considerações produzidas podemos afirmar que a nossa vaca leiteira encontra nesta região e, muito em especial, nos campo do Baixo Vouga excelentes condições para se impor, cada vez mais, como animal de grande reputação, na condição de se lhe dedicar os cuidados de trato necessários e de aproveitarmos os imensos recursos forrageiros que a bacia do Vouga oferece.

Presentemente, os nossos bovinos leiteiros têm já uma razoável aptidão lacto-poiética a par duma conformação que os aproxima do tronco holandês que lhes deu origem e constituem o principal alfobre abastecedor dos efectivos do País.

A sua valorização no campo genético, vem sendo assegurada com a presença de reprodutores Holstein-Frísia, ultimamente utilizados em inseminação artificial em cerca de 2/3 dos efectivos totais, documentada nos seguintes números:

 

Datas

 

Totais de vacas inseminadas

1956 –––––––––––

53

1957 –––––––––––

90

1958 –––––––––––

347

1959 –––––––––––

599

1960 –––––––––––

656

1961 –––––––––––

201

1962 –––––––––––

3 368

1963 –––––––––––

3 527

1964 –––––––––––

5 270

1965 –––––––––––

7 856

1966 –––––––––––

7 930

1967 –––––––––––

12 773

1968 –––––––––––

17 104

1969 –––––––––––

23 626

1970 –––––––––––

25 614

1971 –––––––––––

24 016

 

A produção média da vaca regional, em toda a zona de produção, calculada de acordo com os efectivos registados, no leite entregue à indústria e no destinado a consumo directo – não atinge os 3 000 kg de leite em 300 dias de lactação.

No entanto, na áreas de melhor aptidão leiteira, onde se fazem já sentir os benefícios dos empreendimentos dos organismos e associações da lavoura e onde as forças sãs adaptam a tempo o dispositivo agrário, as produções atingiram a média unitária de 3 460 kg de leite, com 3,4 % de gordura em 305 dias de lactação.

Referimo-nos às salas de ordenha colectivas onde tem sido possível montar um sistema de serviços de mungição mecânica, comum a vários proprietários, que estão revolucionando o panorama e as estruturas minifundiárias do empresário agrícola produtor de leite.

Em pleno funcionamento cerca de 140 salas de ordenha, em toda a faixa litoral Entre Douro e Mondego, 90 das quais estão localizadas nos concelhos de Oliveira de Azeméis, Aveiro, Vagos e Ílhavo. / 61 /

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Distribuição de prémios

Mas importa não parar. O mourejo da produção animal, a nossa pecuária do futuro, exige conhecimentos e técnica que, se não forem respeitados, não deixarão aflorar todo o manancial de possibilidades que o meio oferece.

A improvisação e o amadorismo terão que dar lugar à planificação criteriosa, ajustada às nossas necessidades, e à habilitação profissional.

Mas a planificação não pode ficar no papel. Urge pô-la em prática.

O estudo do aproveitamento da bacia do Vouga ajusta-se aos anseios da lavoura e demonstra a urgente necessidade da execução do plano proposto.

No campo pecuário antevemos os seus grandes benefícios. Como técnico agrário não tenho dúvidas em afirmar que as potencialidades forrageiras resultantes dum melhor aproveitamento da Bacia do Vouga irão permitir a exploração racional de mais 15 000 vacas leiteiras em lactação, ou seja um aumento de 50 % dos efectivos hoje existentes no Distrito de Aveiro.

E se esses novos efectivos forem devidamente enquadrados nas estruturas que se vislumbram teremos anualmente mais 60 000 000 litros de leite de que o País tanto carece.

São comuns alusões à rotina como se trabalha no país, à pobreza das nossas pecurações, por isso importa aqui frisar que o aproveitamento da bacia do Vouga não é um devaneio utópico dos técnicos que nele se debruçaram mas a necessidade duma região que deseja conservar e aproveitar uma das suas melhores fontes de produção e riqueza.

 

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