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N.º 12

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1971 

Ensino Secundário, Artístico, Médio e Superior na região de Aveiro

Pelo Dr. Orlando de Oliveira

Comunicação apresentada no X Congresso Beirão, em Coimbra, pelo Presidente da Comissão Municipal de Cultura do concelho de Aveiro, Dr. Orlando de Oliveira, Reitor do Liceu Nacional de Aveiro e Vereador da Câmara Municipal.

 

Estão em curso na Ministério da Educação Nacional estudos muito sérios sobre o planeamento do ensino e «como é sabido, o primeiro e fundamental objectiva a alcançar consistirá na elaboração de um Estatuto da Educação Nacional, carta magna do ensino, lei básica onde se contenham os grandes princípios orientadores, as ideias-força, onde se dê forma e expressão a um sistema renovado de acção educativa, fiel às grandes constantes do Cristianismo e da Lusitanidade, mas modernizada em função das exigências do presente e das tendências do porvir». (Ministro Galvão Teles, em discurso de 2 de Abril de 1964).

Mas, «um planeamento satisfatório do ensino deve, não só salvaguardar o que pertence a tradições respeitáveis e garantir o presente, como preparar o futuro»(E. Planchard em Revista Portuguesa de Pedagogia, 1963).

Tem sido afinal na linha destes dois pensamentos que nós, sempre debruçados e atentos aos problemas e ocorrências aveirenses, vimos propugnando o enriquecimento regional em estabelecimentos de ensino, na convicção ou, melhor, na certeza de serem as Escolas os alicerces seguros para as infra-estruturas sociais necessárias ao progresso social, ao avanço das técnicas, ao aperfeiçoamento da personalidade humana e à evolução desejável e segura dos povos.

O distrito de Aveiro ocupa o 4.º lugar no censo populacional português, de 1960, pois, tirando Lisboa e Porto, só Braga e Aveiro têm mais de 0,5 milhão de habitantes, o que representa 6,3 % da população total do continente.

Quase bastariam estes números para justificar a presente comunicação, mas as quantidades dizem pouco se não forem cotejadas com as qualidades e, para elucidação bastará apontar o facto de o distrito de Aveiro ser o de maior colecta industrial, depois das de Lisboa e Porto, e muita acima de todos os demais.

Quer dizer, uma cidade relativamente pequena encabeça uma região das mais populosas e das mais industrializadas do continente, isto é, uma região das de maior capacidade económica, com maiores necessidades de braços, de administradores e de técnicos.

Tais características exigem uma rede escolar que só poderá ser eficiente se for bem estudada para poder ser convenientemente disseminada.

Quanto ao ensino primário, os 58438 alunos do distrito de Aveiro, em 1962, estiveram distribuídos por 1116 estabelecimentos de ensino e, sem entrarmos em pormenores excedentes do nosso objectivo, partiremos do princípio que a rede escolar é razoável, com malhas de dimensões aceitáveis, formulando no entanto o voto de que o aumento de escolaridade obrigatória, recentemente decretada e prestes a entrar em vigor mantenha o ensino primário no mesmo bom nível em que até aqui se tem processado, graças à alta categoria profissional de muitíssimos dos seus professores.

Ora, se até há poucos anos era considerado suficiente o «ler, escrever e contar» grande aspiração de há um século, hoje tudo se encaminha para que a instrução de base dos portugueses venha a ser o do segundo ciclo dos liceus, aproximando-se desde já do 1.º ciclo quando em pleno funcionamento a nova estruturação do ensino primário, com os 6 anos de obrigatoriedade a que atrás me referi.

As populações sentem a necessidade de procurar as Escolas e é esta a grande alavanca causadora do afluxo de alunos ao ensino secundário, liceal e técnico. Assim, o distrito de Aveiro teve em 1962 cerca de 9200 alunos matriculados nesse grau de ensino, os quais se utilizaram de 23 estabelecimentos de ensino liceal e 12 de ensino técnico profissional, num total de 35, portanto, quer dizer: também neste grau de ensino a rede escolar é já razoável, com tendência para nítida melhoria com a abertura de mais liceus e de mais escolas técnicas, como parece estar planeado ou a planear-se. É este o momento oportuno para se salientar / 22 / que o meu pensamento geral está perfeitamente integrado no do Ministério da Educação Nacional, que dotou já o distrito de Aveiro (em 1962) com 12 estabelecimentos de ensino comercial e industrial, isto é, com um número muito superior ao de qualquer outro distrito (excepção de Lisboa e Porto). Esta atitude do Governo será o melhor testemunho para documentar a doutrina que venho defender, dando-me a certeza de que já encontrarei caminhos bem abertos para os problemas que vão seguir-se.

Vivendo assim, neste ambiente aveirense em que se sente palpitar estuantemente uma ânsia de progresso, não podia a minha sensibilidade profissional ficar indiferente, nem poderia consentir na estagnação do problema escolar regional. Eis porque procurei afincadamente alguns auxílios e boas vontades (Fundação Calouste Gulbenkian, Junta Distrital e Câmara Municipal de Aveiro), graças às quais se instalou em Aveiro um estabelecimento para o ensino de música, que já conta 5 anos de existência, com um historial de resultados escolares famosos, e deve ficar dentro em breve instalado em edifício apropriado, conjuntamente com escolas para o ensino de pintura e de escultura. Como apontamento relevante deixo aqui ficar o de que o distrito de Aveiro é o único que possuía em 1962 três estabelecimentos de ensino artístico (música e teatro).

Foi ainda pelas razões apontadas que ajudei e encorajei a instalação em Aveiro de um Instituto Médio de Comércio, já a funcionar, e que traz dentro de si o germe de um Instituto Industrial.

Quer o Conservatório Regional de Aveiro, quer o Instituto Médio de Comércio de Aveiro, são estabelecimentos de ensino particular, como particular é também a Escola de Magistério Primário de Aveiro, inferindo-se daqui que, embora o Governo tenha cuidado dos problemas escolares de Aveiro, a iniciativa particular, integrada nas necessidades locais e na vitalidade pujante da região, tem procurado completar a acção estatal, criando estabelecimentos de ensino de diversos graus e modalidades; correndo todos os riscos inerentes a empreendimentos congéneres, mas, de qualquer modo e sempre dando valioso contributo para a promoção social da juventude portuguesa; e evitando que o Governo gaste verbas avultadas com a manutenção de muitos estabelecimentos de ensino que já teria sido obrigado a instalar se não fosse a referida actividade particular.

Ninguém pode ignorar, nem minimizar a acção dos estabelecimentos de ensino particular, chamem-se eles Colégios, ou Institutos, ou Escolas do Magistério, ou Conservatórios, ou Seminários, ou qualquer outra coisa!

O próprio Estado reconhece o seu valor ao tomar posição sobre certos problemas como oficialização para realização de exames, auxílio para construção de edifícios, etc. Todavia, o mesmo Estado, embora por outro departamento, considera estes estabelecimentos particulares como entidades industriais com apreciáveis lucros de exploração e aplica-lhes tributações que os inibem de se instalar melhor, ou de adquirir melhor material didáctico, ou ainda de aumentar as suas bolsas de estudo a alunos necessitados, o que é mais importante de tudo.

Cremos que a Inspecção do ensino poderia fazer com que esses estabelecimentos se tornassem mais operantes ainda na difusão da cultura e mais generosos na concessão de benefícios a alunos e se apetrechassem melhor, mas com a condição de os isentar das contribuições destinadas ao Estado ou às Câmaras Municipais. Em muitos dos países mais desenvolvidos o ensino particular de todos os graus é amplamente difundido, e trabalha sob a orientação oficial e é largamente subsidiado pelos Governos que consideram esses subsídios, não como manifestações de generosidade, mas como imposições de natureza social, para bem dos povos e das gentes. Deste modo, esses Governos conseguem ter uma rede escolar muito eficiente, gastando verbas que, embora avultadas, são muito inferiores às necessárias para uma rede de extensão comparável, mas de carácter oficial.

Em conclusão deste preâmbulo poderemos afirmar que Aveiro e seus termos possuem uma rede escolar razoável quanto ao ensino primário, quanto ao ensino secundário técnico, quanto ao ensino secundário liceal, quanto ao ensino eclesiástico, quanto ao ensino artístico (música, pintura e escultura), quanto ao ensino do magistério primário e até quanto ao ensino das artes da pesca.

Está neste momento a iniciar o seu apetrechamento para o ensino infantil no Conservatório Regional de Aveiro e para o ensino médio no Instituto de Comércio e no Instituto Industrial cuja autorização já solicitou.

Mas falta-lhe muito para satisfazer os anseios e necessidades a que se julga com pleno direito.

Assim, nada tem para

a) – Ensino do Magistério Infantil;

b) – Ensino Médio Agrícola;

c) – Ensino Médio Veterinário;

d) – Ensino Social;

e) – Ensino de Enfermagem; / 23 /

f) – Ensino de Parteiras;

g) – Ensino de Arquitectura;

h) – Ensino Náutico;

i) – Ensino de Educação Física;

j) – E ensino superior nas modalidades aconselháveis para o desenvolvimento das suas características económicas, sociais e políticas.

 

Todas as alíneas mencionadas se poderiam justificar abundantemente, pois que, o anfiteatro geográfico que se desenha desde as serranias de Arouca, Caramulo e Buçaco até à planura onde se encaixou languidamente a formosíssima laguna, nos oferece todos os degraus de variadíssimas actividades humanas à espera da hora em que possam resplandecer, à sombra da cultura e da ciência que reclamam.

Dentre elas, aflore-se fugidiamente o alto valor da agricultura e da criação de gado em zonas onde vivem triunfantemente a indústria de lacticínios, a produção de batatas, de chicória, de vinho, etc.

É necessário abrir as portas do futuro para as outras regiões portuguesas, além das consideradas tradicionalmente universitárias, colocando nas mãos dos jovens das zonas mais valiosas os instrumentos de trabalho necessários ao desenvolvimento local; é preciso e urgente atirarmos fora com o regime de centralização ora vigente em questões de ensino e darmos às Juntas Distritais e às Câmaras, a possibilidade de criar e fomentar o ensino médio e o ensino superior nas suas circunscrições, desde que provem e demonstrem a necessidade das suas aspirações.

Foi assim, pensando nestes factos e equacionando-os, que sempre prestei a maior atenção ao evoluir dos acontecimentos e dos pensamentos humanos.

A casa portuguesa, por bem arrumada e bem administrada nas últimas 4 décadas, foi-se capacitando e convencendo de que, embora com a modéstia e parcimónia das casas modestas, ainda valia o suficiente para sair do marasmo e organizar a sua vida em normas mais ousadas e prometedoras. É este aliás o desejo do Governo, e serão estes certamente os votos de todos nós.

Assim, quando em Novembro de 1960 era Ministro da Educação Nacional o Senhor Professor Engenheiro Leite Pinto, eu apresentei numa sessão ordinária da Câmara Municipal de Aveiro a seguinte proposta que foi aprovada por unanimidade:

«Em Outubro findo uma Comissão avistou-se em Lisboa com o Senhor Ministro da Educação Nacional para solicitar a restauração duma Universidade em Évora, à qual aquele membro do Governo respondeu com um discurso de que os jornais publicaram um resumo donde consta o seguinte passo: – A «pretensão posta pela Câmara Municipal de Évora dava-lhe igualmente ensejo a manifestar o seu pensamento de que deveríamos tentar instituir estabelecimentos de ensino superior noutras terras nacionais, onde porventura se poderiam criar institutos superiores de função politécnica. Uma extensão de ensino politécnico devidamente programado teria ainda a vantagem de aliviar a pressão que se regista nas Universidades, nos seus primeiros anos de estudos. Reconhece-se a necessidade de alargar as raízes da árvore universitária portuguesa e será neste pensamento que poderá encarar-se uma restauração de Estudos Superiores em Évora. Uma nova Universidade – repetiu – é ideia utópica. Nem uma só Faculdade e incompleta, mantida ou não pelo Estado. Entregar o edifício da secular Universidade alentejana – formoso monumento nacional em que poderia ficar bem um museu – à instalação dum colégio propedêutico, não é igualmente de aceitar. Hoje, quaisquer estabelecimentos de ensino de grau superior ou secundário têm de dispor de instalações de raiz, tantas são as exigências desse ensino em matéria de acomodações e de apetrechamento».

 

Segundo estas palavras, Sua Excelência o Ministro da Educação tem a intenção de «instituir estabelecimentos de ensino superior noutras terras nacionais, onde porventura se poderiam criar institutos superiores de função politécnica», o que nos leva, antes de mais nada, a aplaudir a anunciada descentralização do ensino superior, propondo que a Câmara Municipal de Aveiro saúde aquele ilustre Ministro e lhe apresente calorosas felicitações por tão nobremente se propor difundir o ensino, colocando-o ao alcance de tantos jovens com capacidade intelectual bastante para se valorizarem e aumentarem o capital humano português, mas que não podem ser aproveitados nesse sentido, por deficiências da sua economia familiar.

Depois, e atendendo à elevada posição que o distrito de Aveiro ocupa, tanto no campo intelectual como na vida económica nacional; e atendendo ainda a que a cidade e o concelho de Aveiro tem no seu distrito uma consagrada posição de verdadeira capital regional, graças ao prestígio alcançado pelos seus elevados valores humanos e industriais;

Tenho a honra de propor que, juntamente com aquela mensagem de saudação e aplauso, seja manifestada a Sua Excelência a muita necessidade de se instalar nesta cidade de Aveiro um dos estabelecimentos previstos nas suas palavras, o que seria caminho logicamente seguido por numerosos alunos (mais de 8000) que hoje frequentam o Liceu, as Escolas Técnicas e os Colégios deste Distrito.

Para tanto, tenho como certo que esta Câmara me acompanhará no pensamento de levarmos até junto de Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional / 24 / a afirmação da nossa presença, do nosso aplauso e da justiça da nossa solicitação».

Depois, passado um ano, tive a honra de apresentar na mesma Câmara outra proposta que vou ler e foi igualmente aprovada por unanimidade:

«Em quatro de Novembro do ano findo, e baseado num discurso proferido pelo Excelentíssimo Ministro da Educação Nacional Professor Engenheiro Francisco Leite Pinto, quando respondeu ao pedido duma Comissão de Évora que lhe pediu o restabelecimento da Universidade daquela cidade, tive a honra de propor nesta Câmara que fosse manifestado àquele membro do Governo o nosso aplauso pela ideia de virem a ser criadas instituições escolares de nível superior em várias cidades da província, e fosse desde logo apresentada a candidatura de Aveiro para tal efeito. Depois disso foi já encarado pelo Governo a criação de Universidades no Ultramar Português e agora, na recente abertura das aulas da Universidade do Porto, o Professor Doutor Alexandre Alberto de Sousa Pinto, antigo Ministro da Educação Nacional, proferiu a oração de «sapiência» de que os jornais do dia vinte e sete de Outubro inseriram largos extractos. – «Ocupando-se depois das mais urgentes necessidades da Universidade portuense, expôs as dificuldades que, para o ensino, resultam do excessivo número de alunos que se inscrevem anualmente, nos primeiros anos das Faculdades de Ciências, dificuldades que devem sentir-se, igualmente, nas Universidades de Coimbra e de Lisboa. Sugeriu a criação de escolas de nível universitário, para o ensino dos três primeiros anos, em Braga, Évora e Viseu, directamente dependentes das Reitorias do Porto, Lisboa e Coimbra, como desdobramentos das Faculdades, e cujos alunos teriam o direito de, vencido o terceiro ano, virem concluir os seus cursos em qualquer dos centros universitários actuais. Mostrou, em seguida, a necessidade de ser completada a Faculdade de Letras, que, agora, começa a sua vida, com as secções de Filologia Românica e Filologia Germânica. – Referiu-se, depois, largamente, ao extraordinário desenvolvimento da investigação científica no mundo contemporâneo e ao papel que nela cabe às Universidades, bem como à projecção exterior destas no meio que as cerca, cujas actividades devem procurar orientar e ajudar a prosperar».

Depreende-se da análise destes factos que existe no espírito de pessoas altamente qualificadas a ideia arreigada da necessidade de expandir o ensino universitário, não só pela enorme valorização do povo português que daí adviria, mas ainda porque o aumento gradual da população escolar das três universidades existentes torna ineficiente e quase impossível um bom ensino e, consequentemente, um bom aproveitamento escolar e social da massa estudantil dessas Universidades. Ponderando todos esses factos e, tendo em atenção o alto nível técnico do distrito de Aveiro, com o consequente consumo e aplicação dos indispensáveis diplomados para o progresso da capacidade técnica do mesmo distrito já largamente comprovada, tenho mais uma excelente oportunidade de tentar servir os interesses de Aveiro na sua mais elevada expressão, o que vou fazer com a seguinte proposta:

1.º – Que o Excelentíssimo Presidente inclua na sua agenda de realizações imediatas, como da maior importância, a tentativa, junto do Governo, para que em Aveiro seja criada uma Escola Superior com as características aconselháveis pelas necessidades de ordem local, com a orgânica que o Governo tiver como mais conveniente;

2.º – Que a Câmara, se nesse sentido for solicitada, se mostre pressurosa e interessada no sentido de conceder facilidades e até, se necessário, de arrostar com sacrifícios;

3.º – Que a esta proposta seja dada a maior publicidade e seja pedida a maior colaboração da imprensa, a fim de ser criada uma corrente de opinião que possa movimentar-se no sentido mais conveniente para dinamizar uma realização que o todos nós traria muito interesse e enorme júbilo».

 

Outro ano se passou, e em Novembro de 1962, e mais uma vez na mesma Câmara de Aveiro, mereceu aprovação unânime uma nova proposta que leio em seguida:

«No dia trinta de Novembro de mil novecentos e sessenta e dois, realizou-se em Lisboa o Encerramento do Congresso de Engenharia, no qual usou da palavra o prestigioso e magnífico Reitor da Universidade do Porto, Professor Engenheiro Correia de Barros. No «Comércio do Porto», do dia imediato apareceu uma local, sob o título «Uma possível solução»: – «A criação de estudos gerais em algumas cidades da província». Perante esta notícia, em que se verifica que está de pé a ideia de ampliar o ensino superior na Metrópole Portuguesa, proponho que desta sessão saiam dois propósitos:

1.º – O de manifestar ao Excelentíssimo Professor Engenheiro Correia de Barros, por meio de um ofício, a nossa congratulação e solicitar desde já a defesa da candidatura de Aveiro a qualquer pretensa reforma do ensino superior que neste sentido venha a planificar-se;

2.º – Logo que possível, pela Presidência da Câmara, venha a pôr-se a Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional, uma resenha destes propósitos que a Câmara de Aveiro vem fazendo de há três anos para cá».

Pouco depois, em 4 de Janeiro de 1963, nova proposta e nova aprovação unânime:

«A Câmara tomou conhecimento de um ofício da Reitoria da Universidade do Porto, a / 25 / acusar a recepção da cópia da acta da reunião ordinária da Câmara, realizada em sete de Dezembro último na parte que se refere à candidatura desta cidade à instalação de Ensino Superior em qualquer pretensa Reforma desse Ensino.

Seguidamente apresentei a seguinte proposta: – «Já por diversas vezes tenho tido a honra de levantar a minha voz nesta Câmara sobre problemas de ensino, e com vista sempre ao enriquecimento social, cultural e humano da população do concelho de Aveiro, pugnando pela instalação de diversos estabelecimentos de ensino.

Recordo, a comprovar o que atrás afirmo, as minhas propostas de quatro de Novembro de mil novecentos e sessenta, três de Novembro de mil novecentos e sessenta e um e sete de Dezembro de mil novecentos e sessenta e dois, todas elas respeitantes à possível criação de estabelecimentos de ensino superior.

Sobre esta mesma matéria, cumpre-me salientar perante a Ex.ma Câmara o significativo pedido do Magnífico Reitor dos Estudos Gerais de Moçambique, Professor Doutor Veiga Simão, que há dias, ao tomar posse do seu alto cargo, no Ministério do Ultramar, solicitou a Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional, a urgente Reforma das Faculdades de Ciências para que lhe fosse dado instalar a nova Universidade que lhe fora confiada, já segundo os moldes actualizados dessa esperada Reforma.

Surge agora uma outra oportunidade, em ordem ao ensino agrícola, que me é sugerida pela notícia publicada nos jornais de hoje, e que passo a ler: – «Com idêntica finalidade (apresentar cumprimentos ao Senhor Ministro da Educação Nacional) visitou também aquele membro do Governo a Direcção da Corporação da lavoura, com o respectivo Presidente, Senhor Engenheiro Agrónomo Caldas de Almeida, a qual aproveitou o ensejo da audiência para submeter ao Senhor Professor Doutor Galvão Teles certos problemas relativos ao ensino agrícola».

Nestes termos, há que focar dois problemas distintos, mas ambos respeitantes ao justificadíssimo anseio de ver a progressiva e esperançosa cidade de Aveiro dotada com Institutos de natureza cultural e técnica, destinados a satisfazer as prementes necessidades populacionais do concelho que é, como se sabe, dos de maior densidade demográfica do país, bem assim dos de maior riqueza industrial, pecuária e agrícola; esses dois problemas seriam o de criar nesta cidade uma Faculdade de Ciências, que funcionaria como Secção de idêntica Faculdade da Universidade do Porto ou da de Coimbra, e ainda o de criar um estabelecimento de ensino agrícola.

Deste modo, confiado em que me proponho fazer uma sugestão em que são alta e perfeitamente conciliados os interesses concelhios de Aveiro com os do País, e crente ainda em que Suas Excelências o Ministro da Educação Nacional e o Subsecretário de Estado da mesma pasta como oriundos deste Distrito são magníficos conhecedores da região aveirense e avaliam com justeza da razão que nos assiste, tenho a honra de propor:

1.º – Que seja dado conhecimento, por transcrição, a Suas Excelências o Ministro e Subsecretário de Estado da Educação Nacional, das minhas propostas de quatro de Novembro de mil novecentos e sessenta, de três de Novembro de mil novecentos e sessenta e um e de sete de Dezembro de mil novecentos e sessenta e dois;

2.º – Que seja também transcrita, para esclarecimento do assunto, e entregue àqueles referidos membros do Governo, esta presente proposta;

3.º – Que a Câmara dê conhecimento destes desejos aos Excelentíssimos Directores-Gerais do Ensino Superior e das Belas Artes, e do Ensino Técnico e Profissional e lhes solicite os seus melhores ofícios e altos patrocínios, indispensáveis à sua realização;

4.º – Que, dado o altíssimo interesse do assunto, se solicite audiência aos mesmos ilustres Senhores, e a Câmara se desloque ao respectivo Ministério, na companhia dos Deputados pelo Círculo de Aveiro, e represente, pela voz do seu Presidente, sobre a criação dos aludidos estabelecimentos de ensino, a considerar desde já numa próxima reforma dos correspondentes planos de estudo;

5.º – Que a Câmara Municipal de Aveiro se disponha desde já, e se necessário for, a realizar os sacrifícios que necessários se tornem para a consecução do fim indicado».

Outro ano passou e, em Janeiro de 1964, em sessão da mesma Câmara de Aveiro, solicitei ao digníssimo Deputado por Aveiro, Dr. Artur Alves Moreira, actual Presidente da mesma Câmara, uma intervenção na Assembleia Nacional, sobre o tema que tanto me tem preocupado, quando se realizasse a discussão do aviso prévio do Deputado pelo Porto, Senhor Professor Doutor Joaquim Nunes de Oliveira. O Senhor Dr. Alves Moreira anuiu à minha referida solicitação, não só por eu lembrar o facto, mas porque já o tencionava fazer, em virtude da premência do assunto e do desejo unânime de todos. 

*

Meus Senhores:

Sinto-me feliz e honrado, primeiro pela atenção de Vossas Excelências, depois porque vos trago um problema em que sinto a fazer coro uníssono comigo toda a população de um concelho e quiçá de um distrito, e, finalmente, sinto-me feliz e honrado por ver / 26 / que a minha voz não é mais do que um pálido eco da dos Professores insignes que se chamam Leite Pinto, Alexandre de Sousa Pinto, Correia de Barros, Veiga Simão e Inocêncio Galvão Teles.

É portanto compreensível que tão distinta companhia me insufle no ânimo a coragem bastante para poder gritar com toda a convicção das realidades fervilhantes e potentes de Aveiro as seguintes conclusões:

1.º – Pedir ao Governo, por intermédio de Sua Excelência o Ministro da Educação Nacional, a inclusão das ideias apresentadas nesta comunicação, no anunciado «Estatuto da Educação Nacional, carta magna do ensino e lei básica onde se contenham os princípios orientadores», como Sua Excelência o cognominou.

2.º – Pedir ao Governo, por intermédio de Suas Excelências os Ministros da Educação Nacional, da Marinha e da Saúde e Assistência, a criação urgente em Aveiro dos estabelecimentos de ensino atrás mencionados, especialmente, a criação imediata de escolas para o ensino agrícola e pecuário (médio e superior), enfermagem, náutico, educação física e uma Secção (3 anos) duma Faculdade de Ciências.

Coimbra, Setembro de 1965.

 

RESUMO

1 – Justificação estatística da importância do concelho e distrito de Aveiro, em ordem a solicitar a ampliação da rede escolar da região.

2 – Indicação dos estabelecimentos de ensino já existentes na região, em todos os graus e modalidades.

3 – Valor do ensino particular como coadjuvante e complemento do oficial, e necessidade e justiça de o auxiliar isentando-o de impostos e impondo-lhe obrigações consentâneas com o seu próprio exercício.

4 – Indicação dos estabelecimentos de ensino necessários para um bom apetrechamento regional.

5 – Política de descentralização do ensino, dando possibilidades às Juntas Distritais e às Câmaras Municipais, para resolverem os problemas inerentes.

6 – Propostas apresentadas em várias sessões ordinárias da Câmara Municipal de Aveiro, sobre o assunto em debate.

7 – Como conclusão, formulação de pedidos ao Governo para incluir as aspirações de Aveiro na elaboração do Estatuto da Educação Nacional, e criar mais estabelecimentos de ensino em Aveiro.

 

páginas 21 a 26

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