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A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Abr.-Jun. 1998, n.º  14, pág. 9.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 10


Torneio “Primeiro Passo”

Em números anteriores referimos que o atletismo na década de cinquenta se limitava a Lisboa e Porto, com pequenas intervenções de alguns clubes de Coimbra, cuja Associação havia sido entretanto criada, e os atletas do distrito, limitados até aqui pelo Pejão A.C., a irem disputar os campeonatos da Associação Portuense.

Os 26 "atletas" dos Galitos que venceram a taça "José Garnel", eliminatória em Aveiro do torneio "I Passo" - 08-04-1956
Os 26 "atletas" dos Galitos que venceram a taça "José Garnel", eliminatória em Aveiro do torneio "I Passo" - 08-04-1956

Em Lisboa, e já no Sporting, encontrava-se um dos maiores entusiastas por esta magnífica modalidade (e que o continua a ser), o professor Moniz Pereira. Por sua iniciativa, supomos, o Sporting tentou uma motivação dos jovens do resto do país para a modalidade, por intermédio de um torneio, que denominou de “Primeiro Passo”, com eliminatórias em várias cidades, que apuravam atletas que conseguissem determinados mínimos para uma final a disputar em Lisboa. Naturalmente que o Sporting, e o prof. Moniz Pereira, o faziam com uma segunda intenção, que era o de recrutar depois os melhores para envergar a camisola verde-branca...

Aveiro, que começava a despertar para a modalidade, com a formação de uma equipa por parte do Comércio e Indústria Clube de Aveiro, mais conhecido por CICA, e com a intencionalidade do Clube dos Galitos em também se iniciar, foi uma das cidades escolhidas para uma das eliminatórias do referido torneio, que se efectuou em 8 de Abril de 1956, nos terrenos anexos ao “velho” estádio Mário Duarte, em pista improvisada, com a disputa de uma taça denominada, de “José Garnel”. Presente nesta eliminatória, para além do prof. Salazar Carreira, inspector dos desportos, esteve também o melhor fundista português da altura, o grande Manuel Faria, que correu, com o seu colega João Trindade, uma prova extra de 2 mil metros.

Do torneio faziam parte as provas de 80 m., 700 m. e 2.000 m. em corridas, lançamento do peso e saltos em altura e comprimento. Inscreveram-se, como se esperava, pretendentes a atletas do CICA e do Galitos. Quem levou a taça José Garnel para a sua sede foi o Clube dos Galitos, após luta renhida com a outra formação, o CICA. O Galitos, orientado pelo professor da Escola Comercial, Ribeiro da Costa, grande entusiasta e impulsionador da modalidade enquanto se manteve por Aveiro, apresentou-se com 26 (!) “atletas”, muitos “recrutados” das equipas de basquetebol, uma das principais modalidades do clube. Para que conste, os nomes dos dois primeiros em cada uma das provas, porque reiniciadores da modalidade na cidade: nos 80 m. José Arroja, do Galitos (10,0 s.), seguido de Mário Fonseca, do CICA (10,5 s.); nos 700 m., o vencedor foi Luís Robalo, do Galitos, com 2m. 04,4 s., com Ventura Tavares, do CICA em 2º (2m. 05,2 s.); nos 2.000 m., os dois primeiros foram do CICA, respectivamente João Brazete e Virgolino Teto; no lançamento do peso, uma luta renhida entre José Barros (11,99 m.) e Domingos Cerqueira (11,94 m.) ambos do CICA; no salto em altura, o vencedor foi Jaime Lima, do CICA (1,51 m.), com António Carretas, do Galitos em segundo (1,46 m.) e no salto em comprimento, dois atletas do Galitos tiveram a primazia, José Arroja (5,49 m.) e Gonçalo Pinto (5,33 m.). Como curiosidade registe-se a presença de Carlos Candal, a representar o Galitos, no peso, que lançou a 10,29 m., que lhe daria o 4º lugar.

De branco, Luís Robalo na prova de 1000 metros. - Clicar para ampliar.

De branco, Luís Robalo na prova de 1000 metros.

Os nove apurados para a finalíssima do torneio em Lisboa (José Arroja, Luís Robalo e Gonçalo Pinto, do Clube dos Galitos, e Jaime Lima, José Barros, Domingos Cerqueira e Virgolino Teto, do CICA), que teve lugar em 7 de Maio desse ano de 1956 no estádio José Alvalade, tiveram actuação meritória, com destaque para os brilhantes comportamentos de José Arroja, 2º nos 80 m. com 9,5 s., logo atrás de um atleta que viria posteriormente a ser recordista nacional em algumas provas de velocidade, que se chamava Valentim Baptista (que fez nesse dia 9,4 s.); de Luís Robalo, nos 700 m., igualmente 2º com o tempo de 1m. 50,4 s., atrás de José Campos (1m. 49,2 s.) e ainda de Jaime Lima, no salto em altura, com 1,55 m., que lhe daria o 4º lugar.

Três potenciais bons atletas que se destacariam nos anos seguintes, como veremos, nomeadamente Luís Robalo. As suas óptimas prestações posteriores serão relatadas em próximo número.
 


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